Partindo do conceito de que a educação é condição sine qua non para a formação do individuo na sociedade em que vive, torna-se, portanto, imprescindível que estejamos à luz de uma linguagem crítica que seja fortemente capaz de contribuir para que esta educação alcance um patamar ético de qualidade e que por sua vez, seja também capaz de atenuar o acentuado índice de miséria que assola de forma desenfreada o nosso país.
Diante do exposto e consciente de que a escola é uma realidade histórica que vive a fluir, é preciso que o professor esteja atento a essas transformações e que ele próprio como sujeito também transformador, possa participar ativamente deste processo dialético, no intuito de construir no seio de sua unidade de ensino, um ambiente escolar prazeroso, democrático e inclusivo. Agir sempre no contexto da eticidade é, portanto não deixar morrer os valores na escola e na sociedade. É esta a consciência que devemos ter enquanto sujeitos históricos.
É importante dizer que a politização do ser se dá abrindo as portas da consciência ao mundo, o professor ou professora que não conhecem as peculiaridades que os cercam, que não apontam as diferenças ali existentes e que não se preocupam de forma ética e consciente em interagir escola e comunidade, estarão simplesmente contribuindo para a manutenção do status quo e consagrando o estático, aceitando a si mesmo como estático e atrelando ao mesmo tempo o aluno em seu mundo limitado.
Neste sentido estará o professor de forma arbitrária e arrogante privando a própria consciência de continuar libertar e a percorrer novos caminhos, novas ideias e novos conhecimentos, tão importantes à construção de sua autonomia e participação.
O professor que reconhece a educação como algo pronto e acabado, estará sepultando seus próprios valores. Se somos inacabados e incompletos, estaremos, pois alimentando a consciência a conhecer novos costumes, respeitando e transformando a sociedade em que vivemos. Fechar-se ao mundo é sepultar a utopia, condenar nossos sonhos e matar a sede inesgotável do saber. O mundo atual exige-nos uma postura crítica diante da era da globalização, e dentro do contexto de pós-modernidade, aumenta, portanto os desafios entre nós educadores e o nosso relacionamento com a sociedade, no sentido de construirmos um mundo melhor para todos. Tratar uma comunidade escolar à revelia da vida é o mesmo que agonizar-se diante dela.
O verdadeiro educador é aquele que ousa, que busca, que sonha, que atropela o estático e que dinamiza suas práticas educativas, propondo o advento de uma linguagem crítica na educação. É este educador munido de uma consciência crítica que preocupa aqueles que estão a serviço dos dominantes.
Uma linguagem crítica de cunho interacionista encontra em Paulo Freire e Bakhtin um caminho inesgotável para a pesquisa educacional, tendo como base as ciências humanas, tal como letras e outras aplicações afins. Uma concepção interacionista para a práxis pedagógica traz no seu bojo uma nova maneira de repensar a educação e o papel do educador frente - como foi dito - aos desafios do mundo pós-moderno.
A idéia de uma linguagem da educação que continuará inacabada e incompleta mostra que existe uma lacuna que nunca será preenchida, mas que será sempre um espaço crítico ideal para novas pesquisas e novos debates que devem certamente nortear os rumos na conquista de uma educação de qualidade.
Conceber a linguagem como notadamente ideológica e dialógica, requer sem resto de dúvida um processo dialético contínuo e desenfreado, essencialmente interativo, histórico e inconcluso. Nessa perspectiva é inteiramente importante e indispensável que o educador como sujeito transformador, dinâmico e dialógico, atue de forma decisiva, construindo e reconstruindo seu papel, sua vida e a vida de sua comunidade.
Desta forma podemos afirmar que é inteiramente possível atribuir um olhar crítico para um ensino ético que busque o malogro da estigmatização de variantes linguísticas tão prejudiciais às camadas populares da sociedade. A escola precisa adotar práticas pedagógicas inovadoras que coíbam ações discriminatórias e depreciativas sobre indivíduos que fazem uso de uma linguagem popular na escola. Acredito ser, a repressão linguística um dos grandes entraves para continuarmos a galgar os degraus de uma escola cidadã. Uma educação não autoritária gera uma escola mais prazerosa e democrática, e uma escola que respeite as diferenças, por sua vez, vai gerar um ensino mais inclusivo e menos repressor. Diante dessas considerações e acreditando em professores e professoras que contribuam através de uma linguagem crítica para sepultar a visão estática de um estabelecimento de ensino que valorize o mundo das elites e consequentemente combata a estigmatização das variedades linguísticas.
Atentar para atacar a repressão linguística na escola é ao mesmo tempo combater uma visão instrumentalista do ensino de língua que sobrecarrega discentes de várias camadas populares através de uma gramática normativa ditatorial que a meu ver mais serve para reproduzir o preconceito linguístico na escola e na sociedade.
Esta visão instrumentalista do tudo feito, acabando, exato, vai exatamente de encontro a uma ideologia positivista funcionalista de manutenção da situação vigente. Não é difícil encontrar respostas para tais questionamentos relativos à passividade da escola e do ensino quando nos referimos a seu caráter puramente conservador e porque não dizer caduco e atrofiado, basta saber, por exemplo, que nossas escolas estão abarrotadas de cartilhas desprovidas de significados relevantes e de valores que apenas colaboram de forma significativa para separar cada vez mais o ensino de língua da nossa realidade.
Na verdade, pode-se claramente observar que tais conteúdos só atrelam a uma cortina de silêncio o jeito de ser de nossa gente, esse jeito que vive grudado e presente em nossas peculiaridades sócio-linguístico-culturais, mas que infelizmente ainda continuam sendo desvalorizadas pela escola, que insiste trabalhar à revelia da vida, discriminando e estigmatizando os valores históricos de seus falantes.
Fica, portanto, claro e evidente, da escola que queremos e almejamos. Ressaltando, porém que nenhuma conquista será algo relevante, sem que esta tenha sido fruto de uma linguagem crítica da educação, que antes de qualquer coisa, convive com a dor dos oprimidos.