Brasil e Haiti - Aqui só nos Faltam os Terremotos – Por Professor Nazareno
Foto: Divulgação
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A cidade de Porto Príncipe, capital do Haiti, foi sacudida em 2010 por um violento terremoto de magnitude absurda que causou a morte de quase meio milhão de pessoas e provocou prejuízos incalculáveis àquele paupérrimo país caribenho. Disso, muita gente ficou sabendo. Sabemos também que este país é o mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo. Seu PIB é baixíssimo assim como o seu IDH. Grande parte de sua gente é descendente de escravos e a nação ocupa a porção ocidental de uma ilha. Tem uma população de quase nove milhões de habitantes espremidos numa área territorial pouco maior do que o Estado de Sergipe, o menor entre os estados brasileiros.
O Brasil, desde o ano de 2004, lidera no Haiti vários militares através da Minustah, sigla em francês para Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. Sem ter muito que fazer em nosso país, as nossas Forças Armadas, por meio do “Governo dos Companheiros”, ainda mantêm cerca de mil e duzentos militares que se revezam periodicamente para ficar no Mar das Antilhas. O que muita gente não sabe é que se for feita uma hipotética comparação entre o Brasil e aquela nação caribenha e que envolva governo, política, cultura, tradição e história, certamente nós vamos perder feio em qualquer um desses itens comparados. Por isso, devemos receber bem os haitianos que chegarem a Porto Velho, pois eles são superiores a nós em quase tudo.
A começar pela língua falada. A maioria dos haitianos se expressa em Francês, língua muito mais importante do que o Português junto à comunidade internacional, e quase todos os habitantes falam Krèyol (Crioulo), a outra língua oficial da nação. O Inglês é cada vez mais falado entre os jovens e no setor empresarial. Devido à proximidade com a República Dominicana, o uso do Espanhol também é muito incentivado. Por isso existe um número cada vez mais crescente de haitianos bilíngües ou trilíngües. No Brasil, mal falamos o Português. Línguas como Inglês, Espanhol ou Francês têm tanta importância entre os brasileiros quanto o idioma Grego na Rússia ou o Húngaro na Austrália. Sempre fomos um país de analfabetos, isso sim.
O Brasil aboliu a Escravidão em 1.888 enquanto no Haiti isso aconteceu quase cem anos antes. A nossa Independência veio em 1.822, dezoito anos após os haitianos se libertarem da França. E nos dois casos, tanto a Abolição como a Independência mostram a superioridade daquele povo sobre nós. Lá os movimentos nasceram no seio do povo como desejo de libertação e de preservação das identidades nacional, lingüística e cultural e da vontade de conquistar a autodeterminação do seu povo. Aqui, quando vem alguma mudança, os movimentos nascem da elite, em gabinetes, e em conluio com interesses espúrios num desejo absurdo de manter os pobres subjugados à vontade dos ricos. Há mais de cinco séculos é assim. Nada muda. Nada parece mudar.
Além do mais, o Haiti é um país renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia. Por lá cresce diariamente o ódio contra “a intervenção brasileira”. Então, o que o Brasil fez em sete anos de ocupação no país? Absolutamente nada, pois as casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo são problemas corriqueiros agravados com o terremoto e que não foram resolvidos com a presença de milhares de militares estrangeiros. Com tantos “Haitis” por aqui, os nossos militares deviam se acanhar e voltar para casa. Talvez ajudassem a atenuar os nossos problemas: dengue, violência nas ruas, miséria, lixo, corrupção. Porém, receber estrangeiros nem sempre é um bom negócio. Esses imigrantes caribenhos sabem fazer textos críticos? Eu, por exemplo, sou um "estrangeiro" por aqui e muitos rondonienses me odeiam. E se pudesse escolher imigrantes preferiria escoceses, suíços, ingleses, alemães, norte-americanos, holandeses, e escandinavos a haitianos. E se eles não gostarem de dançar "Boi"? Uma tragédia.
Cerca de seis milhões de haitianos vivem na miséria total. No Brasil são quase 50 milhões, ou seja, oito vezes mais. No Haiti isso é normal enquanto aqui devia ser imoral, já que somos a sétima economia do planeta. Déspotas, políticos ladrões, corrupção no Estado, compra de votos, intimidação de opositores, democracia relativa, epidemias, falta de saneamento básico, desmandos, incompetência das autoridades, mentalidade golpista dos militares, burrice institucionalizada, adoração a futilidades e passividade do povo são itens em que só empatamos. Por isso, os haitianos, que já estão chegando aos montes ao Estado de Rondônia, se sentirão em casa em Porto Velho. Devemos, insisto, dar as boas vindas aos nossos irmãos caribenhos e mandá-los para um quartel qualquer, já que o Brasil mandou militares ao país deles para que pudéssemos pleitear uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e só conseguiu até agora atrair levas de cidadãos desempregados para o nosso país. Outro dia fui abordado por um brasileiro em plena Rua Jatuarana, Zona Sul de Porto Velho, pedindo-me dinheiro para comprar arroz. Entendi por que muitos dizem que o Haiti é aqui mesmo.
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