Diversas vezes alguns internautas fazem comentários sobre meus textos e pedem que eu escreva algo bom sobre Rondônia. Só que agora parece que a coisa é mesmo pra valer. O Grupo Empresarial Infinity Empreendimentos S.A. anunciou esta semana a construção de um grande complexo esportivo em Porto Velho. Trata-se do Estádio e Centro de Eventos “Terceiro Milênio” que deverá ser inaugurado daqui a três anos. “O complexo esportivo e cultural é uma obra inovadora que vai atrair turistas de várias partes do Brasil e até do exterior”, afirmou o arquiteto responsável pela obra. “Embora esse complexo seja concebido para sediar jogos da Copa do Mundo de 2014, sua estrutura terá condições de abrigar diversos eventos”, informou.
Não estou bêbado nem sou idiota. Sediar jogos da Copa de 2014 mesmo sem a capital de Rondônia ter sido escolhida como sede da competição é um engodo. Não só estão enganando os rondonienses como também estão subestimando a sua capacidade de raciocínio. Uma executiva desse grupo empresarial foi mais além ao afirmar que o “Terceiro Milênio” será um dos poucos estádios cobertos do mundo, um importante quesito para ser palco para as partidas da competição comandada pela Fifa. “Trata-se de um projeto de alta tecnologia”, resumiu ela. A mega-construção terá entre outras tecnologias de ponta, cobertura completa para captação de raios solares e toda uma infra-estrutura para usar a água das chuvas que será prontamente armazenada.
Embora desbanque os principais estádios de futebol do mundo, esta mentira não levou em consideração que em Porto Velho não existe futebol. Genus, Shallon, Moto Clube e Cruzeiro são os esquadrões da capital. Clássico por aqui leva 20 ou 30 “gatos pingados” para o Aluizão, a nossa principal arena. Dia de domingo é sagrado para ir aos bares da cidade torcer pelos times do Sul maravilha. Talvez esses empresários ficaram encantados com o nosso “futebol com spray de pimenta” ou com a capacidade de Loló para administrar clubes de futebol. O que se espera é que este “oba-oba” não tenha dinheiro público envolvido. O Hospital João Paulo Segundo, por exemplo, continua com gente esparramada pelo chão. Problemas na cidade não faltam.
A idiotice e a falta de leitura de mundo da nossa população são tantas que numa simples matéria sobre futebol em qualquer site de notícias, 200 ou 300 comentários são postados imediatamente. Dez vezes mais do que o público do Aluízio Ferreira em dia de clássico. Política, saúde ou educação são itens praticamente ignorados pelo nosso público torcedor. Outro problema sério sobre esta fictícia empreitada é o nome que se escolheria para o projeto: em vez de Terceiro Milênio, “O Lolozão” soaria mais familiar e combinaria com as breguices desta cidade sem futebol situada em pleno país do futebol. Quanto a atrair turistas do exterior é admitir que Guayaramerin seja o centro do mundo, uma espécie de Europa para os rondonienses.
Torço para que tudo isto seja verdade. Rondônia precisa de obras faraônicas para se fazer conhecida no restante do Brasil e do mundo já que por aqui não se projetaram quase nenhuma com a fartura do dinheiro das usinas. Ou então há de se concordar com um internauta, Heverton Carmo, que escreveu num comentário em um site local sobre o fato: “Blá, Blá, Blá, inovadora... fora de tempo... O cruzeirinho tendo que ganhar uniforme do Cruzeiro de BH, jogadores tratados pior que albergados, campeonatos regionais que começam e terminam fora do calendário nacional... balela... A cidade precisa de infra-estrutura urbana primeiro... será que alguma competição internacional virá para pisar em nossos esgotos a céu aberto? Como será a imagem de tal obra ao lado de palafitas miseráveis?” Alguém ainda acredita em duendes?
*O professor Nazareno leciona em Porto Velho.