O fogo, descontrolado havia dois dias, já tinha queimado muito mato e agora rodeava uma casa na periferia de Machadinho D’Oeste, em Rondônia. Dentro, uma mulher grávida de sete meses. Tudo parecia perdido quando Luir chegou em seu cavalo, colocou a mulher na garupa e enfrentou o fogo a galopes.
A história não é conto de fadas, e ocorreu em 15 de setembro. Luir Fernandes é um dos 29 brigadistas de incêndio contratados temporariamente pelo Ibama para apagar queimadas na Amazônia. Como sua equipe não tinha carro, ele emprestou um cavalo para ir até a chácara ameaçada pelo fogo.
A casa também foi salva. Seus colegas chegaram logo em seguida, na carroceria de um caminhão também emprestado. Usando uma técnica conhecida como “fogo de encontro”, queimaram o mato que ainda restava em volta da casa, barrando o avanço das chamas.
Sem veículos
Apagar fogo é só um dos problemas que os brigadistas têm que resolver em Machadinho D’oeste. Em julho e agosto – época em que satélites detectaram 71 focos de fogo no município – eles combateram incêndios sem viaturas. As chamadas de emergência eram feitas a um telefone celular pessoal de um dos homens da equipe.
“A prefeitura, sempre que pode, nos ajuda, mas raramente tem carro à disposição. Já teve fazendeiro que lotou ônibus para a gente ir [combater o fogo]”, conta Wagner Pereira, gerente municipal do Prevfogo – o programa do Ibama para o combate de queimadas.
Nessas condições, ir atrás dos focos de queimada identificados por satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) era uma realidade distante. “Atendíamos só as emergências. Não tínhamos nem como sair. Com carro já é difícil, imagina sem carro.”
O veículo que deveria servir à equipe – uma caminhonete – só chegou em setembro. Segundo o coordenador estadual do Prevfogo em Rondônia, Roberto Abreu, a falta de carros foi causada por problemas com a locadora de veículos. “Isso aconteceu em quase todas as brigadas no país”, relata. De acordo com Abreu, apesar das dificuldades houve uma diminuição de 66% nos focos de incêndio em machadinho no período de queimadas entre 2008 e 2009.
Medo do Ibama
Ainda que machadinho conte com mais de 20 homens treinados para apagar o fogo, são poucos os fazendeiros que pedem ajuda. “Como fazemos parte do Ibama, e as pessoas ficam com medo de serem multadas. Só chamam a gente quando não tem outra saída”, conta Luir, o chefe de brigada que enfrentou labaredas a cavalo.