Para garantir segurança no fórum dos pobres, Governo do Pará tira pobres da paisagem - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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Política em Três Tempos
 
 
 
1 – RICOS E POBRES
 
O aspecto sombrio do fórum dos ricos – o Fórum Econômico Mundial, que começa nesta quarta-feira (28) e vai até 1º de fevereiro, em Davos (Suíça) – é a crise (econômica, claro). E a nota melancólica do fórum dos pobres – o Fórum Social Mundial (FSM), que será iniciado um dia antes (27) e também encerra no domingo (01.02), em Belém (PA) – também é a crise (só que de identidade). É espantoso! Sob o pretexto de garantir a segurança dos participantes, o governo da petista Ana Júlia Carepa decidiu não apenas tirar os pobres da paisagem (como adiante se verá pelo testemunho da paraense Maria Adelina Braglia), mas também interditar totalmente suas manifestações festivas enquanto durar o evento (como noticiou o jornal “Folha de S. Paulo”.).
 
Muito provavelmente porque, em que pese dos pobres, desde a sua primeira edição, em 2001, quando foi apresentado ao mundo em Porto Alegre (RS) como contraponto ao dos ricos (que desde 1971 vinha dando as cartas), o FSM mantém o costume de reunir mais estrelas e integrantes das cúpulas de ONGs mundiais do que as bases dos movimentos sociais. Por descarrego de consciência, há um debate entre os organizadores sobre a necessidade de combater a elitização da reunião. Aliás, depois de vê-lo afastado por uns tempos, o fórum dos pobres volta a contar com um dos ilustres visitantes que ajudou na escalada ao poder.
 
Isto porque, não obstante considerado pelo governo, em anos anteriores, como potencial espaço para "vender" o Brasil e atrair investidores, este ano o fórum de Davos não vai contar com a presença do presidente Lula da Silva (PT). De acordo com interlocutores palacianos, um dos motivos diz respeito a Lula considerar que algumas teses defendidas no fórum suíço foram responsáveis pela atual crise econômica. Em vez de Davos, o presidente vai a Belém, nos dias 29 e 30, para o FSM. Sua ausência em anos anteriores havia sido objeto de ásperas críticas de movimentos sociais e até dos organizadores. Desde 2005, Lula não dava as caras no FSM.
 
2 – LIMPEZA ÉTNICA
 
Para que Lula e essa gente não sejam incomodados, o governo do Pará proibiu a realização de festas em seis bairros da periferia de Belém, conforme noticiou a “Folha de S. Paulo” (20). A portaria – que está em vigor desde o início da semana passada e vai até o dia 02 - também proíbe o funcionamento de bares depois das 22h nessas áreas. A justificativa para a proibição é que esses bairros têm índices de violência "críticos" e estão no entorno dos dois principais pontos de eventos do fórum - os campi da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade do Estado do Pará (UEPA).
 
A restrição cita especificamente as festas de "aparelhagens", apelido de equipes que tocam em geral “tecnobrega” (mistura do antigo brega com elementos eletrônicos) em grandes sistemas de som. A portaria faz parte do plano do governo estadual de coibir a violência durante o fórum. Claro que tem gente reclamando.
 
Para lá de eloqüente é a carta da paraense Maria Adelina Braglia, que, indignada e preocupada com tais ações, remeteu a alguns órgãos do Estado do Pará um documento questionando sobre a “limpeza-quase-étnica” que se faz para dar "segurança" aos participantes do fórum. A carta de Braglia, na íntegra é a que se segue:
“Alguns depoimentos pessoais vêm denotando que a ‘Operação Reação’, ação policial do Governo, vem recolhendo pessoas para ‘averiguações’. A ilegalidade por si só arrepia a ‘terra de direitos’, porém, mais do que isso, preocupa os efeitos e resultados dessa ‘limpeza-quase-étnica’ que se faz, para dar ‘segurança’ aos participantes do Fórum Social Mundial. ‘Limpeza-quase-étnica’ porque os suspeitos são jovens, pobres, pretos e pardos que conformam a maioria do povo desta cidade.”
“Um perigoso silêncio cerca essa ação. Os ‘cidadãos de bem’, quem sabe exaustos pela escalada da violência e dos constantes crimes com morte, parecem querer acreditar que esse é o remédio para a chaga aberta da pobreza e do desamparo aos quais a sociedade relegou o futuro do país - a juventude.”

 

3 – “PENA DE VIDA”

“Estranha-se, inclusive, que as organizações da sociedade civil – a OAB/PA e a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) – estejam com seu silêncio coonestando as arbitrariedades das detenções para ‘averiguações’. O lema ‘não atacar o aliado’ parece ter cegado os que deveriam estar na linha de frente do combate à violência institucional, seja qual for sua origem.”

 

“Preocupa saber que operação semelhante, destinada a garantir a ‘Paz no Campo’, realizada no final de 2007, resultou no cometimento de violências contra trabalhadores rurais e suas famílias, especialmente os ocupantes da Fazenda Forkilha, no município de Redenção. Ouvidos em audiência pública em maio de 2008, os trabalhadores confirmaram as violências cometidas pela polícia do Estado e, como resultado, 15 dos denunciantes foram misteriosamente mortos no espaço de seis meses.”

“É difícil também compreender que o comando desta ‘Operação Reação’ esteja afeto ao delegado Raimundo Benassuly, tristemente famoso por ser então delegado geral quando ocorreu a escabrosa denúncia da detenção de uma adolescente junto a presidiários que a torturaram e estupraram. Quando argüido em depoimento, na CPI da Carceragem, seu melhor argumento foi afirmar que 'Não sou médico legista nem tenho formação na área. Mas essa moça tem certamente algum problema, alguma debilidade mental. Ela em nenhum momento declarou sua menoridade penal'. E mereceu justamente da jornalista Eliane Catanhede o rótulo de débil funcional.”

 

“É sob este comando que se faz a limpeza da periferia de Belém, para enfeitá-la para o Fórum. Violentando direitos, ‘guardando’ nas celas infectas das delegacias de polícia jovens que já pagam ‘pena de vida’, pois se criminosos são, deveriam estar sujeitos às penas da lei e não sendo ‘averiguados’ apenas na véspera da festa. É este clima preparatório que conseguiram ‘garantir’ para a realização do Fórum, em que pesem muita esperança e boas expectativas das organizações da sociedade civil”. É isso!

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