Segundo Othon M. Garcia, "ainda que cometamos um número infinito de erros, só há, na verdade, do ponto de vista lógico, duas maneiras de errar: raciocinando mal com dados corretos ou raciocinando bem com dados falsos. (Haverá certamente uma terceira maneira de errar: raciocinando mal com dados falsos). O erro pode, portanto, resultar de um vício de forma – raciocinar mal com dados corretos – ou de matéria – raciocinar bem com dados falsos."
De acordo com o mesmo autor, o que diferencia o sofisma da falácia, é que, embora ambos sejam basicamente raciocínios errados, a falácia é involuntária. Ao passo que o sofisma tem como objetivo induzir a audiência ao engano, o raciocínio falacioso decorre de uma falha de quem argumenta. Quem usa sofismas sabe o que está fazendo quando, por exemplo, tenta nos empurrar uma conclusão para a qual não dispõe de dados ou demonstrações suficientes. Quem se vale de falácias, por sua vez, simplesmente se enganou. (Wikipédia).
Meu amigo Paulo Queiroz é daquelas raras pessoas que nasceram emaranhadas com as palavras. O ventre generoso de sua mãe, provavelmente, possuía um turbilhão de letras, ao invés do tradicional líquido placentário tão comum nos mortais. Pode ser daí a sua agilidade, perspicácia, inteligência e talento no uso do vernáculo. Diante dessa e de tantas outras constatações, sinto-me um abusado por inteiro ao ter a desfaçatez de tecer comentários sobre os seus textos. Mas como a vida sempre me colocou em situações de polêmica (não literárias, mas políticas), arrastei para o lado minha timidez e resolvi escrever algumas linhas sobre seu persistente viés ideológico anti-PT, que brota com muita força das entrelinhas dos seus artigos.
Contaminado pelo estilo arrogante da grande mídia paulista e pelo inconformismo eleitoral em relação a Lula, Paulo Queiroz tem sido, não apenas um mordaz crítico do Governo Federal, mas um semeador de meias verdades que tentam se cristalizar como se fossem verdades absolutas. Insiste em colocar sua vontade pessoal acima dos fatos e se esquece de ouvir aquilo que, apesar do bombardeio da mídia partidária, aflora da maioria dos brasileiros: a percepção do povo que esse governo é bom para quem sempre foi esquecido.
Decerto a coluna é pessoal e reflete seu olhar. Mas, com o peso de sua história e credibilidade conquistada, suas palavras bem escritas possuem um peso diferenciado.
O texto, aparentemente isento, deixa clara a visão crítica exacerbada e desvinculada dos números que aí estão. São 48% da população dizendo que o governo é Ótimo ou Bom. Se somarmos aos que o consideram regular, esse número saltará para 84% (vamos dividir ao meio os regulares em positivos e negativos, ainda assim o Governo estaria com mais de 66% de aprovação!!! - Data Folha/Agosto 2007).
Isso não é reflexo apenas dos Programas Sociais (desculpa simplista), é percepção de povo que vê seu salário comprando mais, os empregos surgindo, a economia de todos melhorando, as obras de interesse do país emergindo. São mais de 330 mil jovens com direito de cursar uma faculdade através do PROUNI (sem falar nos investimentos em educação como um todo, FUNDEB, Escolas Técnicas e contração de Professores). A relação Dívida x PIB, que no final do governo anterior estava em 35,9%, passou para 9,4% do PIB (alguém duvida que o país estava quebrado em janeiro de 2003?). Nossas reservas em moeda forte já passam de US$ 110 bi (elas eram de US$16,3 bi no final da era FHC).
O combate à corrupção tem sido muito forte, embora parte da mídia tente passar que foi o PT quem a inventou. As pessoas sentem o cunho não verídico disso e constatam que esse foi o governo mais combativo referencialmente à corrupção no Brasil. Isso é fato a se provar por meio de números. Lula recuperou, equipou e deu força à Polícia Federal. De 2003 a maio de 2007, foram 388 operações importantes, com figuras ilustres sendo presas e algemadas (6.256 pessoas, mais 981 servidores públicos e 77 Policiais Federais presos). Alguém já tinha visto algo parecido?? Some-se a isso o novo modelo de fiscalização de Municípios e Estados a partir de sorteios aleatórios. Há, como nunca, uma preocupação com a boa aplicação dos recursos públicos.
Ainda sobre as ações dos “vermelhinhos”, não cabe elocubrar sobre a revolução que significou a inclusão bancária de uma gama incalculável de pessoas país afora (o direito à proteção social não deriva mais de uma relação pessoal com político A ou B).
E aí direis vós, e a crise aérea??? Plagiando um Senador, que usou a expressão em outra circunstância, podemos dizer que, com a crise aérea, parte da mídia, não satisfeita em levar seu cinismo ao extremo,.... foi além!!! É uma clara e intencional valorização do periférico em detrimento do essencial.
Indubitavelmente, esse problema é grave, porém está longe de ser o caos do país, como parte da imprensa tem tentado injetar na cabeça da população. O Brasil não é uma bagunça institucional, comandado por um “barbudo tresloucado”; pelo contrário, ele tem rumo, tem direção. E o caminho, para desespero do grande capital nacional, não é o traçado pela elite tucana paulistana, que consegue adeptos em todos os recantos de nossa terra. O Governo Lula está implantando uma política diferente daquela defendida pelas elites neoliberais do país, com o respaldo das dezenas de milhões de votos que, teimosa e inconvenientemente, o povo, de forma “incauta”, concedeu.
Tenta-se, com freqüência, escamotear o fato de que os veículos de comunicação têm dono e seus donos possuem concepções diferentes de país (isso é legítimo fora do espaço de concessão pública). A notícia nunca foi isenta. Ela vem recheada de conceitos ideológicos, com o propósito de conquistar o cidadão. Os donos da mídia, de uma forma geral, usam suas áreas profissionais para defender seus espaços econômicos, sociais e ideológicos. A mídia é um claro exemplo de que nossa democracia precisa avançar bastante. A edição dos noticiários da Globo, Band, Jovem Pan, Folha de São Paulo, Veja, Correio, JB, entre outros, são primores magníficos daquilo aqui discorrido.
Não temos medo da disputa justa e honesta. Continuamos a ser sonhadores, a insistir continuamente em pleitear espaços iguais para apresentar propostas, números, caminhos e resultados. Com a informação correta e o mais isenta possível, o cidadão poderá refletir e concluir sobre o que ele pensa ser o melhor.
Para não me delongar mais numa possível defesa que poderá parecer apaixonada, se assim for, desde já peço perdão, volto ao início para meditar sobre os ensinamentos do professor Othon M. Garcia. De maneira simples e direta, o mestre brinda-nos com reflexões, devidamente apropriadas neste contexto, sobre a sutileza das palavras. Afinal, o que vemos, em parte da mídia, tem sido o exercício da falácia ou o aperfeiçoamento do sofisma?
David Nogueira é Secretário de Comunicação PT/RO.