Acre - Acreanos são cobaias para pesquisas de malária

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Foto: Divulgação

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A prática do uso de seres humanos em pesquisas de combate ao mosquito da malária continua, mesmo com a proibição por parte do Ministério da Saúde no ano de 2005. Desta vez, o Acre é o lugar escolhido para as experiências. E o caso já chegou ao Ministério Público local. Cruzeiro do Sul, lugar do Acre de maior incidência de malária, foi a cidade escolhida para os ensaios com as cobaias humanas. Pelo menos seis agentes de endemias contratados pelo governo participam das experiências. São obrigadas a receber um mínimo de 300 picadas por dia no corpo. Por meio dessa prática é possível identificar quais os tipos de mosquitos transmissor da malária predominam na região. Além de usar os agentes como cobaias, o governo do Acre usa os números da malária no Juruá para conseguir mais dinheiro do governo federal. No bairro do Alumínio, por exemplo, não existem tantos casos de malária. Mas, às vezes, pegávamos relatórios com até 15 ou mais casos de doença no bairro, denuncia Jamisson Rodrigues, um dos agente usados como cobaia humana no interior acreano. Em alguns locais, as lâminas usadas na coleta de sangue são lavadas e reaproveitadas por falta de material. Crescimento Dos nove estados da Amazônia Legal, o Acre foi onde a doença mais cresceu entre 2004 e 2005. Atingiu 53.551 pessoas, um crescimento de 86%. O número corresponde a 9% do total de casos da região. A variação entre 2001 e 2005 atingiu a assustadora cifra de 688%. Relatório do Ministério da Saúde mostra ainda que, em 2005, quatro dos 22 municípios do Acre contribuíram com 80% dos casos na região amazônica. Nas cidades de Tarauacá, Acrelândia e Posto Walter a incidência foi considerada altíssima. Registrou-se 50 casos por mil habitantes. Dinheiro Marcílio da Silva Ferreira foi contratado pelo governo do Acre em 2003 na função de auxiliar de entomologia (parte da Zoologia que trata dos insetos; insetologia). A tarefa de Ferreira era, portanto, estudar os tipos de mosquitos responsáveis pela transmissão da malária no Vale do Juruá. Para atingir seu objetivo, Marcílio Ferreira tinha que se submeter a um sacrifício. Era obrigado a ficar entre 6 e 12 horas com o corpo nu e exposto às picadas dos insetos. Ele ficava em exposição nos locais de maior foco e nos horários de pico dos ataques dos mosquitos. Marcílio diz que aceitou ser cobaia da malária por dinheiro. “Peguei 12 malárias, fiquei fraco e pedi para ser transferido de setor; não agüentava mais trabalhar para adoecer”, conta ele. Marcílio Ferreira conta que foram muitas madrugadas, noites de frio que fiquei com as pernas expostas aos mosquitos. “Fiz, infelizmente, porque precisava do dinheiro”, lamenta-se Ferreira, abatido em conseqüência das várias malárias que contraiu. Demissão imediata O caso das cobaias humanas chegou às rádios locais. Após os casos se tornarem públicos, o governo do Acre agiu na tentativa desviar a atenção. Três funcionários foram demitidos e outros nove afastados das funções sem qualquer explicação. Mas, ao que tudo indica, a denúncia será apurada. O defensor público Jonathan Xavier ingressou na Justiça com uma ação de reintegração imediata dos servidores. Ele também prometeu investigar as denúncias de que os agentes eram usados como cobaias humanas na identificação de espécies de mosquitos transmissores da malária em Cruzeiro do Sul.
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