O país vem acompanhando estarrecido, através da cobertura sensacionalista de alguns veículos de comunicação, o caso Isabela Nardoni, jogada do sexto andar do edifício onde morava com o pai, Alexandre Nardoni, e a madastra, Ana Carolina Jatobá, suspeitos de serem os autores do crime, um dos mais explorados pela mídia brasileira.
O caso, finalmente, parece estar próximo de uma conclusão. As investigações foram concluídas pela polícia paulista, mas informações – as de não relevância e interesse público – continuam sendo injetadas na internet, televisão e jornais impressos. Para citar alguns exemplos, todas as vezes que o casal foi à delegacia para prestar depoimentos, havia uma cobertura especial feita pelos colegas da comunicação. Algumas manchetes estampavam grandes sites brasileiros: “Casal chega a delegacia e não fala com a imprensa”. Outra: “Delegacia lotada por curiosos”. Ora, trata-se de informações ou especulações sobre um caso delicado que alcança bons resultados no Ibope?
É claro que a imprensa tem um papel muito importante em casos como este. Muitos desses casos talvez nem seriam desvendados e terminariam engavetados se não fosse os meios de comunicação ficarem ali, fiscalizando e divulgando. O “show” ganha mais destaque porque envolve uma família tradicional paulista, e não um morador da zona Sul de São Paulo, sempre sufocado de crimes que o rodeiam.
Antes de condenar ou eximir uma opinião, devemos levar em consideração o fundamento principal do jornalismo, que é informar buscando a verdade como base dos acontecimentos. A única verdade sobre a inocente menina Isabella Nardoni é a crueldade que ela sofreu, sem chances de defesa. Nossos colegas jornalistas, ao invés de manter plantão em frente a delegacia que acompanha o caso, poderiam fazer um levantamento de quantos casos como este acontecem no Brasil, de casais que matam crianças indefesas. A imprensa “imprensa” os fatos até os telespectadores do espetáculo enjoar e esquecer o crime, algo que não demora muito para acontecer.