Dez anos sem Emir Sfair - Por Carlos Sperança

Dez anos sem Emir Sfair - Por Carlos Sperança

Dez anos sem Emir Sfair -  Por Carlos Sperança

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

Há uma década, o Paraná perdia um cidadão honorário: o jornalista Emir Sfair. Quando decidiu vir a Cascavel para assumir em sociedade com o administrador André Costi a direção do jornal O Paraná, do qual foi colaborador desde a primeira hora, Sfair deixava na capital paranaense uma longa e bem-sucedida trajetória nos meios jornalísticos e radiofônicos para começar uma atividade no Oeste do Paraná que lhe renderia muito esforço, mas também o reconhecimento da população e das autoridades regionais. Catarinense de Canoinhas, cidade historicamente pertencente ao Paraná, perdida com a "Guerra do Contestado", Emir Sfair nasceu em 1935 e já em 1949, aos 14 anos, começou a trabalhar na Rádio Rio Negro. Logo iria para as letras, como correspondente do jornal 3 de Outubro, do jornalista paranaense Ali Bark, ligado ao governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Emir conciliava o trabalho jornalístico e a função de datilógrafo na Secretaria da Saúde do Paraná, à época do secretário Aramys Atayde. Em março de 1953, ainda em Curitiba, Emir Sfair obtinha seu primeiro registro profissional, passando a trabalhar no jornal Paraná Esportivo. "Minha estréia como comentarista foi num Atletiba. Só que eu não conhecia nenhum dos jogadores em campo. Aí usei um radinho para identificar os jogadores e produzi minha primeira crônica sobre o clássico paranaense". Torcedor do Clube Atlético Ferroviário, de Curitiba, que viria se tornar o atual Paraná Clube, Emir Sfair formou-se em Direito em 1961. Embora houvesse trabalhado em jornal já por um bom tempo, queria realmente se dedicar à advocacia. O máximo que se concedia era alguma colaboração esparsa, em doze anos de exercício da profissão. Mas não conseguiu manter esse distanciamento, logo retornando às letras. E de tal forma que, com o tempo, até deixaria de advogar. No curso da década de 60, outras tarefas o absorveram e o forçaram a deixar o Direito de lado: tinha todo o tempo tomado por sua atuação na Secretaria de Imprensa do Palácio Iguaçu, onde começou no governo de Bento Munhoz da Rocha e ficou até o início da segunda administração Ney Braga, só ficando de fora na traumática gestão Leon Peres. "Também trabalhei na Gazeta do Povo, inicialmente fazendo futebol aos sábados. Depois, em 1971, assumi a editoria política do jornal, e lá fiquei até 78, quando fui para Cascavel". Em 1964 veio a ditadura. Emir Sfair, ainda em Curitiba, foi "dedurado" como comunista e detido para prestar depoimento. Isso não chegou a incomodá-lo mais do que a Censura feita ao jornal Expressinho, que elaborava com Valmor Marcelino, quando a repressão invadiu a redação, no dia 1º de abril, e proibiu a circulação do jornal, além de rasgar, sem ao menos uma leitura prévia, os textos que estavam sendo preparados. "Muitas vezes", lembrava Emir, "tive de tomar café no comando da 5ª Região Militar" (grande comando do Exército no Paraná). Em Rondônia Em Rondônia o jornalista Emir Sfair participou da epopéia da fundação do jornal Diário da Amazônia nos anos 90, como sócio do grupo Eucatur. Como não conhecia o estado na época, convocou o jornalista Carlos Sperança para formar a primeira equipe da publicação, que teve como primeiro editor o veterano Valdir Costa, hoje trabalhando na Folha de Rondônia. Emir faleceu em Porto Velho em 1998, sendo velado em Porto Velho e Cascavel e sepultado em Curitiba, cidades onde trabalhou durante décadas. Sobre o legado de Emir o jornalista Valdir Costa lembrou que perdeu um grande amigo e o jornalismo um "abnegado". O diretor da revista Momento Brasil Beto Grutzmacher tinha Emir como um pai, enfatizando sua militância pela justiça social. "Foi uma lacuna imprenchível", disse. Já, o jornalista Carlos Sperança lembra que Emir mudou os rumos da imprensa em Rondônia, onde alguns clãs mantinham a hegemonia durante décadas. "Com o nascimento do Diário as coisas mudaram de figura", arremata. LEIA TAMBÉM HOMENAGEM DE SEU FILHO MAURO SFAIR EM TEXTO PUBLICADO HOJE EM ITAPOÁ (SC) ** Hoje o jornalista e advogado Emir Sfair, se estivesse entre nós, completaria 71 anos. Pioneiro de Itapoá, papai faleceu em 25 de fevereiro de 1998, em Porto Velho, Rondônia, onde implantou o último projeto de sua vida, o jornal Diário da Amazônia. ** Emir dedicou grande parte de sua vida ao combate à corrupção, aos maus políticos e àqueles que insistem em se apoderar do dinheiro público e construir fortunas. Como represália, foi processado inúmeras vezes, e por políticos considerados fortes em diversos Estados da Federação. Jamais foi derrotado nos tribunais: sempre a verdade prevaleceu. O último grande caso que me recordo diz respeito a uma cooperativa do Oeste paranaense, que o processava por calúnia e difamação, mas foi vitorioso em todas as instâncias. A Justiça sempre foi o seu verdadeiro Norte. **Catarinense de Canoinhas, Sfair iniciou sua vida como engraxate nas ruas de Curitiba e, logo em seguida, trabalhou numa loja de calçados, onde angariou recursos que lhe permitiram sobreviver. Dos bancos do Colégio Estadual do Paraná, conseguiu a base para cursar Direito na UFPR. Jamais advogou, pois, ainda jovem, foi trabalhar com o também pioneiro de Itapoá, Omir Zanello, no jornal Paraná Esportivo, em Curitiba. ** A paixão pelo futebol e pelo clube Ferroviário (hoje Paraná Clube) lhe rendeu grandes amizades e também outra “cachaça” que jamais abandonou: as redações de jornal. Do Paraná Esportivo, onde iniciou, para, depois trabalhar na Gazeta do Povo, onde foi editor político, até o ano de 1978 quando de jornalista passou a proprietário, em Cascavel, adquirindo o jornal O Paraná, até hoje grande diário da região Oeste daquele Estado. ** Já no final dos anos 60 Emir aventurava com os irmãos Zanello e outros “camaradas” em Itapoá. A batalha era dura, lembrava ele, para chegar até aqui: eram diversas horas de estrada ruim para poder ver o nascer do sol no então distrito de Garuva e poder assar aqueles peixes que hoje já não existem mais. ** Ao mudar-se para Cascavel, nos idos de 1978, e, com a paixão por Itapoá sempre latente, utilizou o seu diário durante anos para divulgar as maravilhas que nossa praia oferecia: capas e capas de edições do jornal, com fotos maravilhosas, convidavam a população do Oeste do Paraná a conhecer Itapoá. ** A partir daí, centenas de milhares de pessoas, daquela região, começaram a se interessar e a investir em nosso município. Com a insistência de Emir em divulgar Itapoá, vemos hoje o resultado do seu trabalho: muitos moradores e veranistas daquela região, a maioria aposentados, hoje vivem aqui. É o trabalho formiguinha que deu certo e ajudou a colonizar nossa cidade. * Dois outros grandes amigos do “turco da rua Pernambuco” também acabariam se apaixonando por Itapoá: José Richa e Mauricio Fruet, colegas de faculdade e, posteriormente, com diversas passagens por Itapoá. O hoje deputado Fruet, filho de Maurício, é visto ainda com freqüência na praia, em sua casa no Pontal. Jaime Lerner, antes de ser prefeito de Curitiba, freqüentava Itapoá com Emir e sempre estava lá em casa. ** Já Richa acabaria dando o pontapé inicial no asfalto de nossa praia, construindo a primeira ponte e também o trecho de estrada paranaense de nossa rodovia. Quem se lembra bem desta história é o ex-prefeito de Itapoá, Ademar Ribas do Valle, amigo pessoal de Emir e que, à época, apenas um aventureiro que acabara de trocar uma vida de luxo em Curitiba por uma possibilidade de ver Itapoá crescer – passando por sua emancipação – e vir a ser uma grande cidade. ** Conheci Itapoá em 1964. Desde que nasci, também me apaixonei por nossa praia, e jamais deixei de freqüentá-la, mesmo morando longe, até que em 2005 consegui aqui fixar minha residência. Tenho orgulho de nossa cidade e dos pioneiros que plantaram a sementinha itapoaense. ** Como o tempo passa! Parece que foi ontem, mas Emir Sfair nos deixou há dez anos. Esta homenagem faço em nome das minhas duas irmãs, Lara e Siumara, de minhas filhas Carolina, Janayna e Hannah, e de todos os demais netos que papai conheceu e também dos que não conheceu. * E, papai, esteja onde estiver, tenha certeza de uma coisa: seu trabalho terá continuidade. Se depender de mim, maus políticos, ladrões, interesseiros e pseudo-políticos juvenis continuarão a ser denunciados. Ou são eles ou é Itapoá. Eu aposto em Itapoá. maurosfair@hotmail.com
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Na sua opinião, qual companhia aérea que atende Rondônia presta o pior serviço?
Você ainda lê jornal impresso?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS