Unir organiza caravana com estudantes para acompanhar o júri de “Ruço” em Jaru

Unir organiza caravana com estudantes para acompanhar o júri de “Ruço” em Jaru

Unir organiza caravana com estudantes para acompanhar o júri de “Ruço” em Jaru

Foto: Divulgação

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*Um conjunto de Professores da Universidade Federal de Rondônia (Unir), estudantes de diversos cursos, dentre eles Ciências Sociais, Pedagogia, Medicina, História, Matemática e Direito, estarão em Jaru, nesta quinta-feira, 14 de Setembro, acompanhando o Júri de Wenderson Francisco dos Santos, o Ruço, membro da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia (LCP). O objetivo da Caravana é de prestar solidariedade ao Wenderson, já que um conjunto de Entidades e Personalidades nacional e local assinaram, uma Carta Aberta que pede absolvição de Ruço. *Dentre os destaques que assinaram a Carta Aberta que já conta com mais de 450 assinaturas, está a de Oscar Niemeyer, Arquiteto que projetou Brasília; Nilo Batista, Professor de Direito Penal da UFRJ; o Presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azedo; Prof. Roberto Leher, do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais e da UFRJ, o Prof. Ennio Candotti, Presidente da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC). No estado, seguindo a aprovação do Conselho Superior da Unir e da Associação dos Docentes da Unir (Adunir), o Reitor da Unir, Prof. Dr. Ene Glória da Silveira também assina a Carta que pede a absolvição de Ruço. Entidades Internacionais de várias partes do globo também se manifestam pela absolvição, dentre elas International Association of Peoples Lawyers - IAPL (Associação Internacional dos Advogados do Povo). *- Confira abaixo a Carta Aberta: *
Carta Aberta
*Belo Horizonte, agosto de 2006 *Ao povo de Rondônia *Aos camponeses, trabalhadores, intelectuais, democratas e honestos de todo o Brasil *No próximo dia 14 de setembro, estará indo a júri popular, em Jaru, Rondônia, o camponês Wenderson Francisco dos Santos, o Ruço. *Este júri não terá as luzes e a milionária cobertura da imprensa, internet, jornais, rádios e televisões, como a dedicada ao assassinato de um casal da classe média alta de São Paulo, ao que tudo indica cometido pela própria filha e seu namorado. *Mas será centenas, milhares de vezes mais importante. *Pois junto com Ruço, no banco dos réus, estará em jogo a saga de milhões de brasileiros pobres, particularmente dos camponeses que vivem em Rondônia. *Ruço chegou a Rondônia com seu pai no início dos anos 90. “Seu” Odiel veio de Belo Horizonte, onde chegou expulso pela miséria de uma das regiões mais pobres de Minas, do Brasil e do mundo, o Vale do Jequitinhonha. *Trabalhando como vigilante, ganhando pouco mais que o salário mínimo, com problemas de saúde, “seu” Odiel empreendeu o caminho de volta para o campo, foi para Rondônia. *Conseguiu um lote, plantou café. A saca entre R$ 190,00, R$ 200,00. No final dos anos 90, crise. A saca a menos de R$ 50,00. O caso se repete. No Brasil, latifundiários conseguem repetidos perdões de suas milionárias dívidas com os bancos oficiais, enquanto circulam com carros do ano e roupas de grife. Os camponeses pobres preferem honrar o nome. O pai de Ruço, “seu” Odiel, vendeu seu lote. *Foi trabalhar com os filhos que, mesmo jovens, vendo as agruras do pai, decidiram lutar pela terra junto com a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia, cuja origem remete às famílias que resistiram ao bárbaro, cruel e covarde ataque das forças policiais do Estado na Fazenda Santa Elina, Corumbiara, sul de Rondônia,1995, cujas cenas de torturas e execuções sumárias chocaram a nação, e até hoje, passados mais de 10 anos, estão impunes. *Ruço, seu pai e seus irmãos viviam e trabalhavam em Cujubim, norte do estado, em 2003, quando se acirram as contradições no campo. *Ao contrário de todas as expectativas alardeadas, após o resultado do processo eleitoral de 2002, aumentam as mortes de camponeses assassinados por pistoleiros a mando de latifundiários, como denunciaram diversas entidades nacionais e internacionais, e como reconheceu a própria Ouvidoria Agrária Nacional, do Ministério do Desenvolvimento Agrário. *É neste cenário que em Jaru, na região de Seringal, distante aproximadamente 200 Km de Cujubim, o latifundiário Antônio Martins dos Santos, conhecido na região por “galo velho”, dono da Leme Empreendimentos, citado no “Livro Branco da Grilagem de Terras” (Ministério do Desenvolvimento Agrário, 1999-2002) como um dos maiores grileiros do país, espalha o terror na região. Seus pistoleiros, a céu aberto, em plena luz do dia, fazem bloqueios nas estradas vicinais, revistando e humilhando camponeses, incendiando barracos e espalhando ameaças de morte na região. *Os camponeses acampados na área procuraram a justiça, pelo seu advogado peticionaram solicitando a inclusão da área como “área de conflito agrário”, tentaram acionar o próprio Incra, mas nada, as autoridades fizeram ouvidos de mercador. *Em circunstâncias no mínimo estranhas, um dos pistoleiros de “galo velho” aparece morto, e aí então surgem do nada as autoridades do Estado. *Começa o calvário de Ruço. *Junto com outros dois camponeses ativistas da Liga dos Camponeses Pobres, é preso. Acusado por um outro conhecido pistoleiro (guaxeba, como falam os camponeses de Rondônia), parente de “galo velho”, que em depoimento (não confirmado posteriormente) afirmou ter reconhecido “Ruço” mascarado a 100 metros de distância. Pasmem! *Se os outros dois camponeses foram liberados por insuficiência absoluta de motivos para que permanecessem detidos, foi desencravado contra Ruço um processo antigo por um conflito em um bar, transformada a acusação em tentativa de homicídio, e Ruço condenado. *Desde então, o camponês pobre Wenderson Francisco dos Santos, o Ruço, passou a ser um refém do latifúndio contra o movimento camponês combativo. *Preso, Ruço não pôde velar o pai. Após insistentes apelos de seus companheiros, foi conduzido por 8 policiais quando do momento exato do sepultamento, cena chocante que causou comoção e indignação. Só escapou da morte na cadeia de Jaru pela intervenção firme dos outros presos, quando pistoleiros conhecidos na cidade e ligados a “galo velho”, foram detidos por crimes diversos (todos foram soltos posteriormente), e urdiram uma intriga para assassiná-lo. *Quando, enfim, já cumprira parte da pena a que fora condenado e teria direito a liberdade provisória, mesmo diante da manifestação do Ministério Público a seu favor, Ruço foi mantido preso, conforme reconheceu a própria autoridade, por ser “membro da Liga dos Camponeses Pobres”. *Diante da insistência de seu advogado em enfrentar sua prisão arbitrária, Ruço foi visitado na cadeia por suposto representante de uma seção regional da OAB, advogado, por sinal sócio de um irmão de “galo velho” em escritório em Porto Velho, que o pressionou para que destituísse seu representante legal para que o “Júri” fosse realizado rapidamente. Absurda vilania e falta de ética profissional, comprometendo o nome de uma entidade respeitada por suas tradições democráticas. *Mais ainda. *Após manifestação pacífica de camponeses em Jaru pedindo sua libertação, Ruço foi ilegalmente transferido para a famigerada penitenciária de Urso Branco, em Porto Velho (repetidamente condenada, por organismos da própria OEA, pela violação dos direitos humanos), sob a alegação de que os camponeses pretendiam invadir a delegacia de Jaru para retirá-lo à força. *Na Urso Branco, como todos os outros presos, Ruço tem sido submetido a toda sorte de torturas morais e psicológicas, como pretendem qualificar os que definem a tortura somente quando ocorre o espancamento de um cidadão. *Já basta! *Os inocentes não podem continuar pagando por crimes que não cometeram, carregar nas costas o fardo de 5 séculos de latifúndio! *Tomamos a liberdade de nos dirigir aos rondonienses, com humildade mas reconhecendo que nossas assinaturas nesta carta representam significativa parcela dos democratas brasileiros, no sentido de manifestar apoio e esperança de que a decisão do júri popular resgatará a verdade, a justiça, e impedirá que se consume mais uma condenação, como tantas na história, que depois se transformarão em exemplos de uma sociedade putrefata moral, econômica e socialmente, onde prevalece o poder econômico e a opressão.
*- *Veja também: *- DIREITO DE RESPOSTA – Juíza esclarece motivos de envio de “Ruço” ao Urso Branco *- Presidente da SBPC e Conselho Superior da Unir assinam Carta Aberta pedindo absolvição de Ruço
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