*Impressionante como algumas ações da grande maioria dos parlamentares na Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia (ALE/RO) ainda provoquem espanto no eleitor, na população rondoniense. O programa Fantástico (rede Globo) deste domingo (13) mais uma vez expôs a “vergonhosa” manobra de bastidores dentro da ALE/RO para “simular” a votação de cassação de três dos deputados envolvidos no famigerado “escândalo das fitas”, que envolveu o pedido de propina em cima do governador Ivo Cassol. *Entre eles estavam, Ronilton Capixaba (PL), Ellen Ruth (PP) e Amarildo Almeida (PDT), todos absolvidos em outubro de 2005 pelos “colegas”, mesmo diante das evidências que comprovavam a quebra do decoro parlamentar
*Que havia manipulação na absolvição dos três parlamentares dentro da ALE/RO já se sabia, mas faltava expor a forma, como funcionava o “corporativismo” entre a maioria deles, como “troca de moeda” (favores).
*Mais uma vez a população teve a comprovada manipulação, no que o programa Fantástico denominou de “farsa da cassação”, em suas chamadas. Farsa comprovada através de gravações autorizadas judicialmente e só agora liberadas.
*Confira a seguir a transcrição completa da matéria que foi ao ar neste domingo (13):
*Antes, se você quer rever a matéria exibida (disponível na Globo Media Center), clique no link abaixo:
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*Transcrição da matéria:
*Foram presas 23 pessoas acusadas de envolvimento no escândalo de corrupção em Rondônia, denunciado em primeira mão pelo Fantástico. Mas os deputados estaduais, principais envolvidos nesse golpe que movimentou R$ 70 milhões, esses, até o momento, escaparam quase todos. Agora, gravações feitas com autorização da justiça desmascaram a farsa armada pelos deputados de Rondônia para fugir da cassação!
*15 de maio de 2005: fitas gravadas com câmera escondida pelo governador de Rondônia, Ivo Cassol, do PPS, mostram deputados estaduais exigindo propinas de R$ 50 por mês, em troca de governabilidade.
*Ivo Cassol: Mas vamos dizer o seguinte: vamos dizer que eu não consigo viabilizar os R$ 50 mil reais para cada um? Tá, vamos dizer, aí quer dizer então que eu não tenho como fazer nada?
*Ellen Ruth, do PP: Não. Aí você vai dizer para a gente quanto você tem, quanto você pode viabilizar.
*Os deputados falavam em nome de dez parlamentares. A proposta era simples: dinheiro na mão significava apoio em votações na Assembléia Legislativa.
*Ronilton Capixaba, do PL: Quando nós pensamos aqui, é porque nós vamos pegar, vamos sentar lá e vamos dizer "sim! Sim! Sim! Sim! Sim! Pro sítio!”
*Investigações da Polícia Federal revelaram mais: 23 dos 24 deputados estaduais mantinham folhas de pagamentos paralelas. Centenas de funcionários não concursados eram usados como laranjas: R$ 70 milhões desviados dos cofres públicos terminaram no bolso dos deputados.
*"Uma organização criminosa se instalou no âmbito da Assembléia Legislativa, e que foi estendendo os seus tentáculos para parte dos poderes do estado de Rondônia”, observa Joaquim Mesquita, superintendente da Polícia Federal de Rondônia.
*No dia 4, a Polícia Federal prendeu 23 envolvidos. Entre eles, Sebastião Chaves, presidente do Tribunal de Justiça do Estado, e Carlos Magno Ramos, ex-chefe da CASA civil do governo de Ivo Cassol. Apenas um dos presos é parlamentar: Carlão de Oliveira, do PSL, presidente da Assembléia.
*Ano passado, a própria Assembléia havia investigado as denúncias, como manda a lei. Apesar das evidências, o relatório final recomendou a cassação de apenas três deputados: Amarildo Almeida, do PDT, Ronilton Capixaba, do PL, e Ellen Ruth, do PP. Os três foram absolvidos pelos colegas em outubro de 2005. A deputada Ellen chorou em plenário.
*Gravações feitas com autorização da Justiça revelam, agora, que a votação não passou de uma farsa. Em outra gravação com câmera escondida, o deputado Amarildo Almeida conversa com um homem identificado apenas como Luís e explica a estratégia do grupo.
*Amarildo Almeida, do PDT: Tudo bom, Luís?
*Luís: Tudo bom? Como é que "tá" as coisas?
*Amarildo Almeida: Fui eu, Ronilton e a Ellen Ruth pra guilhotina. Mas eu já tinha a ciência disso. A semana que vem, vota, e define, já.
*Luís: Mas tava acertado isso aí, ou foi abrupto?
*Amarildo Almeida: Tava, tava, tava.
*Luís: Mas o plenário vai fazer o quê?
*Amarildo Almeida: Agora o plenário tem que ter 16 votos pra cassar "eu". É aquele esquema.
*Luís: Aí não tem os votos?
*Amarildo Almeida: Não tem, de jeito nenhum.
*Em outro trecho, Amarildo explica que os deputados indicados para cassação foram escolhidos a dedo.
*Amarildo Almeida: Era um acerto que tinha, já. Ficou entre eu e o João da Muleta. Mas os caras tiveram dó do Joao da Muleta, porque a minha defesa dava pra fazer com mais facilidade.
*Agora, ele diz que o dia da votação também será escolhido de forma a facilitar a absolvição.
*Amarildo Almeida: Quando for semana que vem, o Carlão vai, na terça ou na quarta, vai ver o dia que for favorável. Se estiver beleza, ele vai, coloca e limpa na hora, porque ele pode colocar a hora que ele quiser.:
*Absolvido, Amarildo comemora.
*Pessoa não-identificada: E aí, Amarildo?
*Amarildo Almeida: Absolvido, com 17 votos, praticamente, 15 votos e duas "abstenção".
*Pessoa não-identificada: Ô, beleza! Meus parabéns, bichão!
*Mas até chegar ao plano que resultou na absolvição, houve briga. Em um trecho, o presidente da Assembléia, Carlão de Oliveira, reclama de uma estratégia preliminar, proposta por três parlamentares liderados pelo relator Leudo Buriti, do PTB, para abafar a crise. Eles sugeriam a renúncia dos deputados Ellen Ruth, do PP, e João da Muleta, este do PMDB.
*Carlão de Oliveira: Uma desgraça de armação desses pestes...
*Pessoa não-identificada: Hein?
*Carlão de Oliveira: Essa desgraça de Leudo Buriti, de Haroldo (Santos) e Chico Paraíba. Estão trancados no gabinete do João da Muleta, pressionando para renunciar o João da Muleta e a Ellen. Aí eles falaram que não.
*Carlão fala com Ellen Ruth e tenta tranqüilizá-la.
*Carlão de Oliveira:¶Vai dar tudo certo aqui. Fique tranqüila. Não vá na conversa do Chico.
*Ellen Ruth: Fique tranqüilo, fique tranqüilo. Porque agora eu sou ignorante e burra. Só ignorante e burro da certo.
*Ellen Ruth conversa com um advogado, e reclama: uma assessora dela que conhecia as fraudes foi depor na Polícia Federal sem orientação legal, e acabou contando tudo o que sabia.
*Ellen Ruth: A tua filha foi acompanhar a Dona Iolanda?
Advogado: Foi, tá com ela lá.
*Ellen Ruth: Porra, tá nada. Eu não sei o que a tua filha, se a tua filha podia fazer alguma coisa. O cara falou que ia prender a Dona Iolanda, a Dona Iolanda abriu o bico, porra.
*Com a prisão de Carlão de Oliveira, assumiu a presidência da assembléia o deputado Kaká Mendonça, como mostra, de Porto Velho, o repórter Wilson Kirsche.
*Ao assumir, o novo presidente da Assembléia baixou o que chamou de um pacote de moralização da casa. Mandou investigar as denúncias contra o ex-presidente Carlão de Oliveira, suspendeu pagamentos, e determinou um recadastramento de servidores, para eliminar funcionários fantasmas.
*"Tomamos essas medidas pensando em sanar todas as dúvidas que existem em cima do Poder Legislativo e mostrar transparência à população. Nós queremos aqui cumprir a lei, nada fora da lei", afirma Kaká Mendonça, do PTB, presidente da Assembléia Legislativa de Rondônia.
*Mas o discurso não combina com a prática. O novo presidente também deve explicações. Kaká Mendonça é acusado de desviar dinheiro público embolsando os salários de assessores que não existem. Entre 2004 e 2005, segundo a Polícia Federal, ele teria recebido R$ 1.130.000 de forma irregular.
*Kaká Mendonça faz parte do grupo de dez que exigiu propinas do governador Ivo Cassol. Ano passado, durante a investigação realizada pela Assembléia, ele recebeu ajuda do próprio relator Leudo Buriti, como comprova esta escuta telefônica autorizada pela Justiça.
*Kaká Mendonça: Como é o nome daquele advogado de Ji-Paraná, aquele barbudinho?
*Leudo Buriti: Iran.
*Kaká Mendonça: É, vou contratar o escritório dele (risos).
*Leudo Buriti: Mas tem que fazer defesa, viu, Kaká, que a assessoria de vocês é uma porcaria.
*Kaká Mendonça: Não, pode ficar tranqüilo.
*Esta semana, o supremo suspendeu uma lei que aumentava em 50% o salário do governador Ivo Cassol. O candidato a vice na chapa de Cassol, Carlos Magno, renunciou depois de ter sido preso, acusado de envolvimento com o esquema de corrupção.
*O Fantástico procurou os deputados estaduais citados na reportagem e que teriam participado do esquema para absolvição dos parlamentares indicados para cassação. O único que retornou a ligação foi o deputado Leudo Buriti. Ele disse não acreditar que tenha havido qualquer manobra e que repudia o envolvimento do nome dele com qualquer tipo de acordo.
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* Veja também o que foi ao ar sobre a atual presidência da ALE/RO - (Matéria veiculada no Jornal HOJE - Rede Globo):
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*Veja também:
*- HISTÓRIA ANTIGA: Revendo ações que culminaram na “Operação Dominó” - Vídeo sobre as fitas da propina