O filme, curta-metragem, “Amor de Mãe”, foi lançado no dia 31 de setembro 2018, produção regional, rondoniense, com roteiro do jornalista e empresário Paulo Andreoli e direção do ator e diretor Anselmo Vasconcellos.
Recebido com louvor em uma sessão de estreia caprichada no Cine Veneza, em Porto Velho, o filme deixou ótimas impressões para quem assistiu, principalmente pela direção talentosa de Anselmo ao dar vida a uma história singela, não linear, cheia de camadas e um visual deslumbrante com uma excelente fotografia.
“Amor de Mãe” já está disponível no Youtube, com uma excelente resolução e que vale ser assistido.
Vou me repetir, mas é necessário, ao escrever essa análise, menos técnica e mais de um espectador que lida com um filme tão bem feito que, tenho certeza, vai ser assistido mais vezes e ter um grande alcance no boca a boca, “Amor de Mãe” é um grande trabalho.
O filme contém um arrebatamento visceral de imagens poderosas, com outras delicadas, na suavidade do vento que bate do rio às folhas da floresta com o canto do pássaro. Tudo expresso em frames precisos e que estão imersos à estrutura narrativa lírica e, por vezes, contundente do andamento da história que está sendo mostrada.
No roteiro de Paulo e na visão de Anselmo, a história, não linear, mostra o jornalista em busca da história que cultua o rio, que tolhe as rimas, o ritmo da lenda amazônica, a mãe universal e o encanto do conto nas palavras da velha moça, rodeada pelo seu povo, a sua gente, todos atentos, impressionados.
Em dado momento o comandante do navio não deixa de emocionar ao contar que o pirata, o homem que se torna o anarquista do rio, o “Coringa” ou o Chico Boto, que rouba o encanto da índia, que semeia a sua raiz e dá o mote ao amor.
Um filme telúrico, quase zen, se não fosse por uma ou outra ação envolvendo armamento, violência, mas no contraponto da busca da pureza do que a vida pode oferecer e transformar, como a mata é e a referência dos costumes, o encanto da selva. É um tudo esmiuçado em regionalismo novo.
A luz linda da Amazônia que encanta em suas tomadas que plastificam a visão ribeirinha, na imagem da chuva, do barco que singra o rio, a rezadeira que acolhe o “filho” e o amor metafórico do Boto pela Cuniã Poranga, une a urgência da folia e a sutileza do toque e da sensualidade, sem ousadia, mas predisposto a apaixonar.
No aspecto técnico é irrepreensível. Fotografia linda, como cabe a delicadeza das tomadas aéreas ou no cerne da floresta, no navegar no rio. O apuro do refino das filigranas da iluminação ou na trilha que não tem crescento, mas branda e precisa, dando o tom do filme e que marca.
“Amor de Mãe” não é um filme para se ver numa tacada e já sair com uma opinião formada, mas um filme delicado, de camadas, que proporciona surpresas e encantos.
A interpretação e direção sensível de Anselmo Vasconcellos ponteia a narrativa, que te leva a imagens comuns ao largo da beira do rio Madeira e a sua população rica em lendas – como a do Boto – e na preservação de suas tradições, tão poderosa quanto necessária.
Agora no Youtube vai ser possível assistir mais de uma vez, à primeira vista aquilo que pode parecer apenas forma e visual, vai ganhando o corpo de uma história poderosa.
“Amor de Mãe” traz um respiro para o cinema regional, produzido em Rondônia, e é louvável que os envolvidos tenham entregue um trabalho tão bonito, gostoso de ver e extremamente profissional
No lançamento do filme, no qual estive presente, em dado momento pós exibição eu vi tanto o Paulo quando Anselmo falar da força e a coragem em encarar esse desafio de realizar “Amor de Mãe”, utilizando o cenário natural da nossa região com uma equipe unida em entregar um trabalho de excelência.
Lembrei que fazer filme na Amazônia pode ser como a força de uma determinação de um Fitzcarraldo (1982), quando no filme do diretor alemão, Werner Herzog, consegue no meio da floresta subir um barco num barranco, contrariando a física e em determinado momento, na agonia desse esforço ele, Fitzcarraldo, em um diálogo com um caboclo, ribeirinho amazonense, diz:
– Você não é um camponês infeliz! É o melhor bêbado que houve nesta terra! Mas esquecemos algo. Caruso. Enrico Caruso!
Entra a voz de Caruso e assistimos perplexos aquela embarcação grande e pesada subindo, no estalar das toras no meio, mas é no meio da floresta amazônica e fica o impossível se tornando possível, o impensável se transformando em algo concreto.
“Amor de Mãe” é um filme de responsabilidade coletiva entre os seus envolvidos e deixou uma marca pioneira de entrega, determinação e um sonho virando realidade. Rondônia também é terra de fazer filme, e filme muito bom.
Vale destacar a codireção e cinematografia de Neto Cavalcanti, responsável pela direção de fotografia, em parceria com Thiago Oliveira.
Assista com a sala cheia, chame os parentes, vizinhos, faça uma sessão e encare um dos melhores filmes regionais já feitos em Rondônia.