ARTIGO/CULTURA - Quando os cangaceiros dominavam o sertão – Por Humberto Oliveira
Foto: Divulgação
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O Cangaceiro (1953) um clássico do cinema nacional finalmente ganha uma espetacular edição especial em DVD pela Versátil que apresenta a versão restaurada do lendário filme de Lima Barreto, obra máxima deste cineasta – que morreu pobre e esquecido – e o primeiro filme brasileiro a conquistar o mundo, sendo exibido em mais de 80 países. Vencedor do prêmio de Melhor Filme de Aventura e Menção Especial para Música no Festival de Cinema de Cannes, este clássico sobre o cangaço foi também um dos maiores sucessos da Vera Cruz.
Nesse filme, em contraste com o de Glauber Rocha de 1964, "Deus e o Diabo na Terra do Sol", é possível perceber a concepção inicial do cinema ao retratar o cangaço nordestino nos anos 50, com um filme de alta qualidade técnica mostrando os cangaceiros como cruéis e o herói, um cangaceiro que assume uma posição moral. Também é interessante comparar a evolução do chamado “Ciclo do Cangaço”, com as produções de Carlos Coimbra “A Morte Comanda o Cangaço" de 1960, "Lampião, o Rei do Cangaço" de 1962, "Cangaceiros de Lampião" de 1966 e "Corisco, o Diabo Loiro" de 1969.
Esta edição especial em DVD duplo de O Cangaceiro traz vários extras no disco 1, incluindo raros curtas-metragens de Lima Barreto. No disco 2, a inédita versão longa-metragem, com mais de três horas, de O Velho Guerreiro Não Morrerá "O Cangaceiro" de Lima Barreto 50 Anos Depois (2011), premiado documentário de Paulo Duarte com depoimentos de Anselmo Duarte, Fernando Meirelles, Gilberto Gil, entre outros.
O galã Alberto Ruschel interpreta Teodoro braço direito do capitão Galdino Ferreira, vivido por Milton Ribeiro, ator famoso por ter interpretado inúmeros cangaceiros no cinema nacional. A lânguida Marisa Prado faz a professora Olivia e Vanja Orico é Maria Clódia. O filme conta ainda com duas participações especiais. O cantor e compositor Adoniran Barbosa, que faz o traiçoeiro Mané Mole e o próprio diretor do filme, Lima Barreto, como o chefe da volante dizimada pelo bando de Galdino durante um confronto.
A trama muito simples e recheada de clichês que se tornariam habituais nas futuras produções deste gênero, inclusive repetindo atores, como Milton Ribeiro que ficou famoso interpretando vários cangaceiros. Capitão Galdino invade e saqueia uma cidade cuja população é aterrorizada por seu bando. Durante o ataque Olivia é sequestrada por Galdino que exige resgate em dinheiro, mas Teodoro se apaixona pela moça e a ajuda a fugir. A traição desperta a ira do líder, que empreende uma verdadeira caçada humana ao antigo parceiro e homem de confiança. O confronto e o final trágico são inevitáveis.
Em 1997, Aníbal Massaini Neto produziu e dirigiu – sem muito brilho – uma equivocada refilmagem de O Cangaceiro. Massaini errou a mão em todos os sentidos. Desde o elenco, que inclui o ator global Paulo Gorgulho numa interpretação canhestra e exagerada de capitão Galdino (Milton Ribeiro deve estar se revirando na cova até agora), violência em excesso, nudez desnecessária e fora do contexto, tudo isso com o único intuito de atrair público. Porém, o filme foi um fracasso de bilheteria e massacrado pela critica. Nada escapa nesta versão que está milhões de anos luz do original.
Depois da febre do nordestern que lotou cinemas nos anos 60 – e da qual devem ser excluídos os filmes de Glauber Rocha, pois o cineasta não estava interessado em refregas entre cangaceiros e volantes – surgiram filmes esparsos (e pouco conhecidos) como Quelé do Pajeú, de Anselmo Duarte, A Vingança dos Doze, de Marcos Farias, Faustão, de Eduardo Coutinho, e Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro, de William Cobbett.
O cangaço – iniciado no século XIX com Lucas da Feira, Jesuíno Brilhante e Antônio Silvino – acabou com a chegada das estradas e do progresso ao sertão. E também com o medo difundido pelas cidades nordestinas que receberam a macabra “visita” das onze cabeças cortadas de Lampião, Maria Bonita, Enedina e oito cangaceiros.
Decepadas ainda na Grota de Angico (Sergipe), elas chegaram à escadaria da Prefeitura de Piranhas (Alagoas), onde foram expostas numa espécie de altar macabro, enfeitado com cartucheiras, fuzis, embornais bordados, chapéus estrelados e até com máquinas de costura. Depois, seguiram de município em município, numa cruzada exemplar, até encontrar abrigo no Museu Nina Rodrigues, em Salvador. Lá permaneceriam até 1969, quando seriam enterradas.
Depois do imenso sucesso de Lima Barreto e seu “O Cangaceiro”, filme premiado em Cannes e nossa primeira ficção nordestern – filmes de aventura, em tudo assemelhados ao western americano, nos quais cangaceiros e volantes se antagonizavam – o cinema brasileiro viveu verdadeira febre de filmes de cangaço. A maioria seguindo o paradigma estabelecido por Lima Barreto.
A filmografia básica inclui produções como "Meu Nome É Lampião" (Mozael Silveira, Brasil, 1969); "Lampião, Sonhos de Bandido" ("Lampiao, Rêve de Bandit" - Damien Chemin, Nicodome de Renesse, Bélgica, 2007); "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (Glauber Rocha, Brasil, 1964); "A Morte Comanda o Cangaço" (Carlos Coimbra, Brasil, 1960); "Baile Perfumado" (Paulo Caldas, Lírio Ferreira, Brasil, 1996); "A Vingança dos Doze" (Marcos Faria, Brasil, 1970); "Cangaceiros de Lampião" (Carlos Coimbra, Brasil, 1967); "As Cangaceiras Eróticas" (Roberto Mauro, Brasil, 1974);
"Memória do Cangaço" (Paulo Gil Soares, Brasil, 1965, P&B); "O Último Dia de Lampião" (Maurice Capovilla, Brasil, 1975); "A Mulher no Cangaço" (Hermano Penna, Brasil, 1976); "Os Três Cangaceiros" (Victor Lima, Brasil, 1959, P&B); “Corisco, o Diabo Loiro" (Carlos Coimbra, Brasil, 1969); "O Cangaceiro Trapalhão" (Daniel Filho, Brasil, 1983, cor); "Corisco e Dadá" (Rosemberg Cariry, Brasil, 1996, cor); "Riacho de Sangue" (Fernando de Barros, Brasil, 1966, cor); "Lampião, o Rei do Cangaço" (Carlos Coimbra, Brasil, 1964); "Meu Nome é Lampião" (Mozael Silveira, Brasil, 1969, cor); "Jesuíno Brilhante, o Cangaceiro" (William Cobbett, Brasil, 1972, cor).
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