*SELMO VASCONCELLOS - Porto Velho, RO. Poeta, cronista, contista, antologista, divulgador cultural e editor da página literária impressa semanal “LÍTERO CULTURAL”, desde 15.agosto.1991, em parceria com o saudoso amigo/irmão/escritor José Ailton Ferreira “Bahia”, falecido em 21 de setembro de 2005, no jornal Alto Madeira.Com cerca de 1450 colaboradores no Brasil e mais em 35 países. Obras publicadas (poesia e prosa): REVER VERSO INVERSO (1991), NICTÊMERO (1993), POMO DE DISCÓRDIA (1994), RESQUÍCIOS PONDERADOS (1996) e LEONARDO, MEU NETO (antologia,2004). Livretos independentes (poesia): MORDE & ASSOPRA e suas causas internas e externas (1999), DESABAFOS em memória de ROY ORBISON (2003), Revista Antológica “Membros da Galeria dos Amigos do Lítero Cultural” (2004) e poesias traduzidas para o francês, inglês, alemão, italiano, japonês, russo, grego chinês, polonês e espanhol. www.selmovasconcellos.zip.net.
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*MEMBROS DA GALERIA DOS AMIGOS DO LÍTERO CULTURAL
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*ALICE RUIZ
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*Alice Ruiz nasceu em Curitiba, PR, em 22 de janeiro de 1946.
*Começou a escrever contos com 9 anos de idade, e versos aos 16. Foi "poeta
de gaveta" até os 26 anos, quando publicou, em revistas e jornais culturais,
alguns poemas. Mas só lançou seu primeiro livro aos 34 anos.
*Aos 22 anos casou com Paulo Leminski e pela primeira vez, mostrou a alguém
o que escrevia. Surpreso, Leminski comentou que ela escrevia haikais, termo
que até então Alice não conhecia. Mas encantou-se com a forma poética
japonesa, passando então estudar com profundidade o haicai e seus poetas,
tendo traduzido quatro livros de autores e autoras japonesas, nos anos 1980.
*Teve três filhos com o poeta: Miguel Ângelo Leminski, Áurea Alice Leminski
e Estrela Ruiz Leminski. *Estrela também é uma grande poeta: acabou de
lançar um livro, junto com o Yuuka de Alice: Cupido: Cuspido e Escarrado
(ambos saíram pela Editora AMEOP, de Porto Alegre) - provando que, filha de
duas feras, essa Estrela tem luz própria.
*Alice publicou, até agora, 15 livros, entre poesia, traduções e uma
história infantil, que você pode conhecer clicando em Bibliografia.
*Compõe letras desde os 26 anos - a primeira parceria foi uma brincadeira
com Leminski, que se chamou "Nóis Fumo" e só foi gravada em 2004, por Mário
Gallera. A poeta tem mais de 50 músicas gravadas por parceiros e
intérpretes. Está lançando, em 2005, seu primeiro CD, o Paralelas, em
parceria com Alzira Espíndola, pela Duncan Discos, com as participações
especialíssimas de Zélia Duncan e Arnaldo *Antunes. Para conhecer essas
gravações e os parceiros da poeta, dê uma olhadinha em Discografia!
*Antes da publicação de seu primeiro livro, Navalhanaliga, em dezembro de
1980, já havia escrito textos feministas, no início dos anos 1970 e editado
algumas revistas, além de textos publicitários e roteiros de histórias em
quadrinhos. Alguns de seus primeiros poemas foram publicados somente em
1984, quando lançou Pelos Pêlos pela Brasiliense. Já ganhou vários prêmios,
incluindo o Jabuti de Poesia, de 1989, pelo livro Vice Versos.
*Já participou do projeto Arte Postal, pela Arte Pau Brasil; da Exposição
Transcriar - Poemas em Vídeo Texto, no III Encontro de Semiótica, em 1985,
SP; do Poesia em Out-Door, Arte na Rua II, SP, em 1984; Poesia em Out-Door,
100 anos da Av. Paulista, em 1991; da XVII Bienal, arte em Vídeo Texto e
também integrou o júri de 8 encontros nacionais de haikai, em São Paulo.
*As aulas de haikai são uma experiência única para quem já fez - Alice
convence a gente que no fundo de cada um existe um poeta louco pra
despertar, e descobrimos surpresos que sim, é possível!
*Quer saber mais sobre Alice Ruiz? Então passeie pelas páginas do site - e
depois não se esqueça de escrever pra ela, contando o que você descobriu
aqui!
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*CARÔ MURGEL
*Historiadora
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*ANIBAL BEÇA
*CONFISSÃO ANUNCIADA
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*Caminho o transitório bem tranqüilo
*por que me soube, desde muito cedo,
*flecha veloz, arco e alvo, num estilo
*de quem despe o taxímetro do enredo
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*numa velocidade sem sigilo.
*Nunca o subterfúgio. Nunca o medo.
*Pelo menos aquele com vacilo
*de transgredir. Não. Nem me sei rochedo.
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*Meu corpo alberga o frágil nesse asilo
*em que só vencedores têm lugar.
*Sou campeão de perdas. Foi cochilo,
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*creio, me ter um sócio do bazar
*de Fernando Pessoa. Sim, pugilo
*pelos ringues, no entanto, sem ganhar.
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*NEUSA ZANIRATO
*NORTE E SUL
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*Estranho vento:
*mesmo soprando lento
*uniu, num só destino,
*o norte e o sul.
*Desatino?
*Ou foi a mão do Divino
*que brincando igual menino
*fez de dois somente um?
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*23/03/2007
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*IVY MENON
*bóia-fria
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*um dos meus maiores medos,
*quando menina, bóia-fria,
*era o amanhecer.
*ainda de madrugadinha,
*minha mãe preparava a comida
*que ia no embornal da família
*e o cheiro de café me acordava.
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*os gravetos estalando no fogão
*o bater das tampas e colheres
*o frigir do óleo na panela
*eram para mim o cantar do galo no telhado
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*e eu tremia com esses ruídos
*a labuta chegara de novo
*e eu não teria escolha.
*o corpo ainda doído, de ontem,
*mais uma vez, ultrapassaria limites.
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*sim, eu tinha muito medo do nascer do dia.
*o sol trazia em seu rastro
*o caminhão, a enxada, a moringa
*o chapéu de palha, a marmita
*e a exaustão das ruas de soja
*para serem carpidas.
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*e a imensidão dos cafezais
*para serem colhidos.
*e a cana para ser cortada
*e o feijão para ser arrancado
*e debulhado e ensacado...
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*e o algodão branco em flor
*era arrastado nos fardos
*amarrados em minha cintura
*deixavam rastros profundos no chão,
*por onde meus pés descalços trilhavam.
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*há uma cruel democracia
*nos eitos capinados por bóias-frias.
*homem e mulher, menino e menina
*preto e branco são todos iguais
*parceiros da mesma sina
*não há discriminação
*o salário é feito, a paga distribuída
*de acordo com o trabalho contado,
*medido, ao fim do dia.
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*eu cresci metendo a enxada no chão
*sangrando junto com a terra vermelha
*vertendo suor no rosto
*vendendo a força dos meus braços finos
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*e eu temia.
*mais que o nascer do dia
*eu temia não ouvir o frigir das panelas no fogão
*eu temia perder a esperança do prato de comida.
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*ARTUR GOMES
*Ind/gesta
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*uma caneta pelo amor de Deus
*uma máquina de escrever
*uma câmera por favor
*um computador
*nem que seja pós/moderno
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*vamos fazer um filme
*vamos criar um filho
*deixa eu amar a Lídia
*que a mediocridade
*desta idade mídia
*não coca cola mais
*nem aqui nem no inferno
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*SILAS CORRÊA LEITE
*Poesia Infanto-Juvenil
*Melancia
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*Quando curioso perguntei à minha mãe
*De onde é que eu tinha vindo
*Ela respondeu meio sorrindo
*Que tinha me catado numa várzea
*Assim como quem colhe Melancia
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*Perguntei o lugar certo, ela apontou
*Com o nariz meio arrebitado
*O fundo do quintal, entre a nascente
*E eu fui lá sondar contente
*Mas só havia água e lodo, a travessia
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*Será que euzinho vim da lama
*Indaguei para a mãe que me ama
*Ela disse que tinha me lavado
*E feito uma oleira, de bom grado
*Tinha me dado alma e serventia
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*Fiquei olhando a mãe nesse dia
*Imaginando-a anjo e artista
*Ela fingindo nem dar na vista
*Tinha nas mãos barro que floria
*Mas eu por certo ainda cresceria
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*Fiquei guri e nem bem jovenzinho
*Senti-me limão-cravo com espinho
*Até que minha mãe engordou
*De outro irmão - outro piazinho
*E eu então captei naquele dia
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*Minha mãe de alma olaria
*Catava na várzea o filho que queria
*Punha dentro do coração e sabia
*Pro íntimo o filhote logo iria
*Ser sua bela barriga de melancia
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*HELENA JORGE
*VENENO
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*A casa está imersa
*no bojo de uma noite
*sufocante e enluarada.
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*Um silêncio morno
*caminha pelas paredes,
*povoadas de aromas
*e sons tardios...
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*Tua presença
*ainda pica minha pele.
*Ave de rapina,
*serpente enfeitiçada,
*traiçoeiro escorpião...
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*Tateio o espaço vazio.
*Deito, ávida de estrelas...
*E é teu o veneno que
*sinto escorrer do
*meu corpo.
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*REGINA POUCHAIN
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*Quixeramobim
*negro assim
*arredondado assim afivelado
*bem ao lado por debaixo
*emburrachado
*em direção a mim me sobressalta
*negro afroafrontandoafrodisíaco
*encouraçado que me rapta
*potenkin seussapato
*negro assim seussapato
*s e u s s a p a t o preto assim
*seu desenho seu estilo
*semicírculos semi-retas
*preto assim
*seussapato viravolta
*seussapato viravolta s e u s s a p a t o
*seu chapéu hiperhipnótico
*seussapato seu chapéu
*quesseráquesserá
*cuiabáquixadáquixeramobim
*preto assim s e u s s a p a t o
*ai de mim
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*NEIDE ARCHANJO
*CANSEI
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*Cansei da solenidade, da formalidade
*da metáfora.
*Cansei da mão guardada por dentro
*e daquele gesto medido, comedido.
*Mudei de opinião. Acerca de quase
*tudo:
*pessoas, obra de arte, vida, profissão.
*Não quer dizer que fiquei melhor,
*nem pior.
*Fiquei diferente.
*Conservei as aparências, o mesmo
*trabalho
*cotidiano, a mesma casa, os mesmos
*horários,
*a mesma cidade.
*E a vida continuou
*subterrânea
*vital
*líquida corrente
*ainda que seu percurso de carne e
*argamassa
*congelasse a superfície.
*Ainda não sei se sou radical.
*É a única questão a resolver.
*Quanto ao resto, amigos,
*mudei
*como se muda a vista breve de uma manhã
*ou a arquitetura de um vôo.
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*GUSTAVO ADONIAS
*CIDADÃO QUEM
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*"Cidadão quem
*Acorda todo dia
*Já atropelado pelo relógio
*Engole o café de sua vida requentada
*Se despede da mulher com um beijo mecânico, sem emoção
*Reza antes de bater a porta
*E sai com a madrugada sob seus pés
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*Pega condução
*Sua única condição
*De chegar em seu subemprego
*E bater o ponto da aflição
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*Trabalha feito burro de carga
*Só para na hora da bóia
*Arroz, feijão e medo do mundo cão
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*No fim do dia
*Chega em casa mais morto que vivo
*Mal fala com a mulher
*Nem vê o filho, órfão de pai vivo
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*Com a barriga vazia
*Vai deitar sobre seus trapos
*E sonhar com um mundo melhor
*Antes de acordar para o pesadelo da realidade
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*Cidadão sem cidadania
*Cidadão quem?
*Cidadão ninguém."
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*MARISA ZANIRATO
*Pontes
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*Escrevo, olhando para um ponto
*onde suponho estejam os seus olhos,
*lagos serenos em que me vejo inteira;
*escrevo, e vou justapondo palavras,
*como quem constrói um ninho,
*um lugar de aconchego e de carinho;
*escrevo e, propositalmente, omito
*a palavra encantada,
*por parecer desbotada
*diante do brilho e das cores do que sinto;
*escrevo e brinco com a alegria inesperada
*de sonhar acordada e levantar na madrugada
*para contar aos astros o meu segredo.
*Escrevo olhando para um ponto
*onde suponho estejam os seus olhos
*e, com palavras, vou fazendo pontes
*que cobrem o espaço
*que existe entre os seus braços e os meus abraços.
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*SIRLEY VILLALBA
*PARAGUAY
*DOMINGO
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*Entumecido en el suspiro
*extraviado de un mapa.
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*Descolocado en el regazo
*lisiado de las horas.
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*Revuelto en el hueco
*enardecido de los miedos.
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*Harto en el estruendo
*ciego de las palabras.
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*Derrotado en el aire
*homicida de un domingo.
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*Allí está mi corazón...
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*Deshabitado en el abrazo
*manco de la muerte.
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*Fonte : www.poetasdelmundo.com
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