ESPECIAL - Retrospectiva do Oscar (1999 a 2007) - Por Humberto Oliveira

ESPECIAL - Retrospectiva do Oscar (1999 a 2007) - Por Humberto Oliveira

ESPECIAL - Retrospectiva do Oscar (1999 a 2007) - Por Humberto Oliveira

Foto: Divulgação

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Este ano a cerimônia da entrega do Oscar que acontece neste domingo (24) comemora sua 80º edição. Nestes oitenta anos de a Academia de Artes e ciências cinematográficas teve muitos acertos, cometeu injustiças, gafes e omissões que, no entanto nunca ofuscaram a festa e não diminuiu seu prestígio como um dos maiores eventos ligados a Sétima Arte. Graças a aura em torno da estatueta dourada chamada Oscar fica cada vez mais difícil diferenciar entre o que é verdade e o que é mito. Considerando que Hollywood vive de produzir estrelas e ilusões isso não deveria causar estranheza. Mas existem aqueles que vêem nos filmes única e exclusivamente a melhor e mais eficiente forma de escapismo, mesmo que outros tantos, mais sisudos achem que um filme deveria ir mais além e informar e educar. Cinema é indústria e sendo Hollywood a mais rica dessas fábricas de sonhos é natural que seja justamente o Oscar, o prêmio mais almejado por nove entre dez astros e estrelas em cartaz num cinema perto de você. Nossa proposta é refazer o caminho desde a cerimônia que aconteceu em 1999 até a 79ª realizada ano passado quando finalmente o diretor Martin Scorsese ganhou seu Oscar mesmo que por uma produção menor em sua vasta filmografia. A partir de agora você, caro leitor é meu convidado para esta viagem no túnel do tempo pela história recente do Oscar.
2000
Concorrendo ao Oscar deste ano o público teve um cardápio dos mais variados em matéria de filmes candidatos que abordaram temas como núcleo familiar destruído (Beleza Americana); aborto (Regras da Vida); a condenação do cigarro (O Informante); pena de morte (À espera de um milagre) e ainda um garotinho que podia ver pessoas mortas (Sexto sentido); o bizarro e o insólito (Quero ser John Malkovich) ou ainda preconceito racial e injustiça (Hurricane, o Furacão). A disputa pelo Oscar de melhor ator foi acirrada entre Denzel Washington, Russel Crowe e Kevin Spacey. O primeiro havia ganhado o Globo de Ouro tornando-se o favorito pela sua atuação como o boxeador Rubin “Hurricane” Carter que teve sua carreira destruída por causa de uma acusação de triplo assassinato e conseqüente condenação a prisão perpétua. Crowe conhecido pelo péssimo gênio e pelo perfeccionismo engordou alguns quilos para encarnar o ex-executivo da indústria tabagista que quebrou o sigilo ao dar uma entrevista bombástica no famoso programa 60 minutos. Mas no caminho de Denzel e Crowe estava Kevin Spacey com sua interpretação em Beleza Americana. Resultado: Spacey levou para casa seu segundo Oscar, sendo o primeiro como ator coadjuvante em Os Suspeitos. O Oscar pode ter ido apenas para as mãos de um indicado, mas o maior vencedor foi mesmo o público brindado por três ótimas atuações. O Oscar de melhor filme ficou para Beleza Americana, consagrando o estreante Sam Mendes nesta produção de Steven Spielberg.
2001
Foi o ano da consagração de Russel Crowe que perdera no ano anterior para Kevin Spacey. Pela sua atuação no épico dirigido por Ridley Scott, O Gladiador que recebeu indicação, mas não ganhou, Crowe interpreta o general Maximus que depois de ter sua família assassinada e de ter se tornado o gladiador do título vai à busca de vingança. Gladiador foi um grande sucesso, conquistou o público e ganhou o Oscar de melhor filme. A Academia premiou Júlia Roberts com o Oscar de melhor atriz pela sua atuação em Erin Brockovich, dirigido por Steven Soderbergh que teve duas indicações como melhor diretor, por este filme e também por Traffic filme pela qual ganhou como diretor, Benicio Del Toro ganhou como melhor coadjuvante. Certamente a grande injustiça do ano foi a Academia ter esquecido o sensacional Réquiem para um sonho, de Darren Aranofsky que à época estava cotado para dirigir uma nova adaptação de Batman para o cinema. O Tigre e o Dragão, filme que mistura fábula, artes marciais e romance concorreu em duas categorias – melhor filme e melhor filme estrangeiro, vencendo nesta categoria consagrando Ang Lee que viria a ganhar um como melhor diretor alguns anos depois pelo polêmico O Segredo de Brokeback Mountain (2006)
2002
O que dizer sobre os indicados a melhor filme neste ano que incluía o sofisticado, mas frio, Assassinato em Gosford Park, de Robert Altman; o drama Entre quatro paredes, dirigido por Todd Field; o musical revisionista Moulin Rouge, de Baz Luhrmann, estrelado e cantado por Nicole Kidman e Ewan McGregor; o épico de Peter Jackson – O Senhor dos Anéis, a sociedade do Anel baseado na obra de J.R.R. Tolkien e por fim Uma mente brilhante, vencedor na categoria melhor filme, a cinebiografia de John Nash dirigida por Ron Howard tendo no elenco Russel Crowe, Ed Harris e Jennifer Connelly, que ganharia o Oscar de atriz coadjuvante e Ron Howard, o de melhor diretor. Peter Jackson estava apenas no início de jornada pelo mundo da Terra Média e dos Hobbits e como todos sabemos a consagração era apenas uma questão de tempo e de mais dois filmes que completariam a trilogia. Em 2002, Denzel Washington ganharia o segundo Oscar, desta vez como ator no drama policial Dia de Treinamento, mas o ator merecia ter ganhado dois anos antes pela sua atuação no filme de Norman Jewison, Hurricane. Coisas da Academia.
2003
A cerimônia teve de tudo um pouco. O musical Chicago que ganharia o Oscar de melhor filme e Catherine Zeta-Jones também sairia premiada como atriz coadjuvante. O público também teve O Pianista, mais uma produção sobre o Holocausto judeu, desta vez a partir do ponto de vista de Roman Polanski que levarias para casa o Oscar de melhor diretor. Martin Scorsese marcou presença com o violento, Gangues de Nova York estrelado por Leonardo Di Caprio que retomaria a parceria com o cineasta em mais duas produções (O Aviador e Os Infiltrados). Peter Jackson estava de volta com As Duas Torres que supera em todos os quesitos o primeiro filme da trilogia. O drama As Horas que daria o Oscar de melhor atriz para Nicole Kidman, que no filme (usando nariz postiço) interpreta Virginia Wolf. Polanski rouba a estatueta de Scorsese. Adrian Brody, protagonista de O Pianista leva o prêmio como melhor ator (um exagero). Brody concorreu com nomes de peso como Jack Nicholson (três Oscar); Daniel Day-Lewis (que ganhou por Meu pé esquerdo); Michael Caine (duas vezes vencedor como coadjuvante em Hannah e suas irmãs e Regras da Vida) e por fim Nicholas Cage (premiado por Despedida em Las Vegas. Como disse acima o Oscar de Brody realmente foi um exagero! Cidade de Deus, para nossa tristeza ficou de fora, porém muitas surpresas estavam reservadas para o público brasileiro na cerimônia do ano seguinte.
2004
O ano de triunfo para o cinema brasileiro através do sucesso de Cidade de Deus que recebeu nada menos que quatro indicações entre elas, melhor diretor para Fernando Meirelles e ainda fotografia; roteiro adaptado e montagem. Não levou nenhum, mas Meirelles acabou consagrado e consagrando o cinema nacional, a exemplo de Central do Brasil e mais recentemente Tropa de Elite, em Berlim. O Retorno do Rei, dirigido por Peter Jackson, encerra a famosa e milionária trilogia arrebatando nada menos que onze estatuetas entrando para o seleto clube dos filmes recordes de premiações ao lado de Ben Hur e Titanic. Na verdade o filme de Jackson na tinha concorrentes à altura – Sobre meninos e lobos; Seabiscuit, alma de herói; Mestre dos mares; Encontros e desencontros ficaram a ver navios. Peter Jackson levou Oscar de diretor vencendo medalhões como Clint Eastwood que em 2005 se sairia bem melhor com Menina de Ouro.
2005
A safra deste ano brindou o público com ótimos filmes como o acima citado Menina de ouro que sem dúvida foi o melhor filme do ano. Tivemos Ray, a cinebiografia de Ray Charles dirigida por Taylor Hackford que escalou acertadamente o ator James Foxx para o papel principal. Foxx levou o merecido Oscar de melhor ator para sua estante. Ainda na disputa o singelo Em busca da terra do nunca que rendeu uma indicação para Johnny Depp. Martin Scorsese também marcou presença com O Aviador, uma superprodução estrelada por Leonardo Di Caprio, em seu segundo trabalho sob a direção de Scorsese. Di Caprio demonstrou maturidade e segurança em sua interpretação do milionário excêntrico Howard Hughes. A noite foi de Menina de Ouro que conquistou o prêmio principal. Eastwood levou mais um Oscar como diretor (em 1992 ganhou por Os Imperdoáveis). Premiados ainda Paul Haggis pelo roteiro adaptado; Morgan Freeman, finalmente premiado, levou a estatueta de ator coadjuvante e Hilary Swank, o de melhor atriz, o segundo de sua carreira (o primeiro foi por Meninos não choram - 1999).
2006
A cerimônia foi de surpresas agradáveis; confirmação de talentos e a consagração de nomes como Paul Haggis (Menina de Ouro) que estreou como diretor em Crash – No limite, Oscar de melhor filme do ano. Na verdade o azarão da noite, mas que merecia ganhar. Crash roubou (no bom sentido) as glórias que todos apostavam estariam reservadas para O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee. Reconhecimento para o talento de Philip Seymour Hoffman, melhor ator por Capote; George Clooney como ator coadjuvante por Syriana. Inclusive Clooney receberia indicações para o seu segundo filme como diretor – Boa noite e boa sorte, filmado em preto e branco e estrelado por David Strathairn como o jornalista Edward Murrow que na época das caças as bruxas nos Estados Unidos, bateu de frente com o senador Joseph McCarthy. A Academia, como sempre esquece algum filme ou diretor. Em 2006 não foi diferente. Os cineastas Fernando Meirelles e David Cronemberg que realizaram respectivamente O jardineiro fiel (Raquel Weiz ganhou Oscar de atriz coadjuvante pela sua atuação neste filme) e Marcas da Violência. Ambos os filmes mereciam melhor atenção. Ainda bem que existe o DVD para que o público possa comprovar o quanto as duas obras são ótimas.
2007
Martin Scorsese merecia ter ganhado seu Oscar como diretor desde os anos 80 com a obra prima Touro Indomável ou então nos anos 90 com outra obra prima – Os Bons Companheiros. Mas a caprichosa Academia resolveu premiá-lo justamente por uma obra menor, Os Infiltrados que também ganhou como melhor filme. Claro que o filme tem suas qualidades, porém ficou longe dos filmes citados acima. Scorsese recebeu a estatueta das mãos dos amigos Steve Spielberg e George Lucas. Antes tarde do que nunca. Sem sombra de dúvida a premiação em nada altera a carreira do cineasta de Taxi Driver, Cassino entre tantos outros. Da turma falta apenas Brian De Palma receber a premiação. Trabalhando pela terceira vez com Scorsese, Leonardo Di Caprio recebeu nomeação para melhor ator. A Academia também deu ao ator mais uma indicação pela sua atuação em Diamante de sangue, de Edward Zwick. Porém o Oscar de ator foi para as mãos de Forest Whitaker por sua atuação em O último Rei da Escócia e o de coadjuvante para o veterano Alan Arkin por Pequena Miss Sunshine. A grande certeza da cerimônia foi mesmo o Oscar de melhor atriz para Helen Mirren por A Rainha. Neste ano os maiores injustiçados foram os dois filmes dirigidos pro Clint Eastwood: A conquista da honra e Cartas de Iwo Jima. Os dois melhores filmes do ano. Pena que a Academia não quis enxergar o óbvio. Talvez por não querer premiar Eastwood com o terceiro Oscar como diretor. Mistérios. Bem amigos chegam os ao fim da viagem. Esperamos que tenham gostado. Agora é só esperar domingo quando a cerimônia será transmitida pela Rede Globo, claro que depois do infame BBB. Se você um filme favorito ou ator ou atriz então chegou à hora de torcer. Humberto Oliveira é jornalista e cinéfilo
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