Fazer cinema em Porto Velho, Rondônia, ainda que em Mini-DV, é um trabalho para poucos, ou quase ninguém, ainda mais de forma independente, onde os parcos recursos são provenientes dos próprios bolsos, com Jair Rangel, 40 anos, paranaense de nascimento e rondoniense por amor, criva a sua paixão pela sétima arte com dedicação e muita criatividade.
Morando há mais de dez anos na capital, Jair Rangel, se popularizou graças ao seu personagem, conhecido como Pistolino, que virou matéria do jornalista Maurício Kubrusly, no programa dominical “Fantástico”, do quadro “Me Leva Brasil”.
Atualmente Pistolino está finalizando as filmagens do seu quarto filme, “O Biruta”, a sua produção mais complexa e que mais tempo está levando. As mudanças básicas referentes às produções anteriores dizem respeito principalmente ao apuro de Jair, um fã declarado de Charles Chaplin e Mazaroppi, e com o uso de mais cenas de ação, boa parte filmada em algumas das principais avenidas da capital, como Gov. Jorge Teixeira, Emigrantes (
antiga Costa e Silva) e Calama.
Como escreve e produz os seus próprios filmes, Jair Rangel é um cineasta que abarca uma idéia e a desenvolve em desenhos, rabiscando story-boards para as cenas e tomadas. Para esse filme, “O Biruta”, Jair tem na direção o seu próprio filho, Jair Juliano, de 14 anos, que, como o pai, é um apaixonado por cinema.
“Eu planejo as tomadas e como as cenas devem ser feitas, mas a direção é dele. Quando meu filho percebe que a cena não teve a marcação correta ou a tomada não ficou boa, ele manda repetir tudo. É tudo entre família mesmo”, disse Jair Rangel.
Muito se reclama dos custos de produção para se realizar um filme, pelo número de pessoas envolvidas, Jair, o Pistolino, levanta as mãos aos céus e agradece à Deus por ter muitos amigos que querem colaborar, seja como coadjuvantes ou mesmo na parte operacional, mas para quem até um tempo desse se ralava ao fazer cenas em que exigiam maior esforço físico, hoje ele conta até com dublê para realizar as seqüências mais perigosas.
“É o Wagner, amigo meu e que trabalha comigo hoje só para me substituir nas cenas de maior risco”, disse não escondendo o sorriso. Entre os feitos do dublê no filme conta uma trombada de bicicleta em um poste e uma queda no poço.
FILME MUDO
A atual equipe de Jair Rangel, para a filmagem de “O Biruta”, conta com 10 membros. Curiosamente, vale ressaltar, que o fascínio de Jair é o cinema mudo, principalmente no que diz respeito aos filmes de Chaplin, com quem é encantado, por isso mesmo os seus filmes seguem uma característica atípica e pouco usual (
quase nada), são filmados em preto e branco – num tom quase sépia, para lembrar os velhos filmes – e mudos. Isso mesmo, contrariando a lógica do cinema atual, ou mesmo de produções audiovisuais – sejam elas ficcionais, documentais ou experimentais -, Jair utiliza como recurso sonoro apenas uma trilha musical de fundo onde a música casa em simetria com a ação apresentada.
“O Biruta”, que terá entre 15 a 20 minutos, está sendo filmado em Mini-DV, com auxílio de todos os recursos técnicos e operacionais que Jair dispõe em suas mãos, isso vale dizer que, com muita inteligência e criatividade, ele utiliza criações suas no auxílio das filmagens, desde gruas, uma
steady-cam, até mesmo uma câmera criada e confeccionada pelo mesmo, uma réplica perfeita de uma Bellyhouse de 16mm, que é usada como objeto de cena no filme.
Para quem intencionava trabalhar no garimpo logo que chegou a Porto Velho e durante muitos anos trabalhou tirando fotos de crianças montadas em um cavalinho de brinquedo nas praças da capital, Jair Rangel hoje trabalha como artesão – ele recria em diversos tamanhos as locomotivas da lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré – e pode dizer que é um apaixonado por cinema que faz filmes para divertir, com prazer, não só ele, mas toda a família.
“Meus filmes tem uma temática de humor inocente, com muita ação física e servem para fazer as pessoas rirem. Nada me deixa mais feliz de ver que criei uma obra que, de alguma forma, fazem da criança ao idoso rirem”, afirmou Jair.
Em 2005, logo depois de ter o seu nome imortalizado no quadro “Me Leva Brasil” (
Fantástico), do jornalista Maurício Kubrusly, Jair Rangel foi ovacionado na premiação do III Cineamazônia, quando com o seu filme “Na maior pindaíba” recebeu cinco prêmios, o de melhor vídeo de Rondônia, Júri Popular para vídeo, melhor direção para vídeo, melhor roteiro para vídeo e melhor montagem para vídeo.
Os fãs do personagem “Pistolino” e que apreciam o trabalho de Jair Rangel devem esperar um pouco mais para poder assistir “O Biruta”, pois além de concluir as filmagens ainda este mês, Jair disse que pretende lançar o filme somente em 2008, quando tiver editado com todo cuidado necessário.
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