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"Falcão" aparece como marco no telejornalismo – Por Marcelo Coelho

O documentário "Falcão", sobre as crianças e adolescentes do narcotráfico, exibido pelo "Fantástico" neste domingo mostra a realidade escondida sob um "cartão postal". Saiba mais. >>>

Foto: Divulgação

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*Foto/legenda: MV Bill é um dos realizadores do documentário * *Por Marcelo Coelho *O menino deve ter uns seis ou sete anos, mas sua voz se arrasta, pesadíssima, como se fosse de chumbo derretido: "não fico triste com nada". Enxergamos mal e mal, na iluminação precária do barraco, a bagunça e a imundície à sua volta. "Vivo "se" drogando", ele explica. "Minha vida é só alegria." *"O que você quer ser quando crescer?", pergunta o entrevistador a outro menino. "Quero ser bandido." Três de seus irmãos, ele conta, já foram assassinados. *Depoimentos desse tipo compõem o documentário "Falcão", sobre as crianças e adolescentes do narcotráfico, exibido pelo "Fantástico" neste domingo. *Dirigido pelo produtor de hip-hop Celso Athayde e pelo cantor de rap MV Bill, "Falcão" foi produzido pela Globo em parceria com uma ONG, a Central Única das Favelas. Foram 90 horas de gravação, colhidas durante seis anos, em várias cidades do país. Dos 17 entrevistados pelo documentário, 16 já morreram. *Eram visíveis o orgulho e excitação contida dos apresentadores do "Fantástico", prestes a se libertar de um velho narcótico: a carga de bobagens e amenidades que, ainda hoje, está associada ao programa de variedades da TV Globo. Desde já fica evidente que estamos diante de um marco no telejornalismo brasileiro. *Sem discursos vitimizadores, muito menos lágrimas em close (chora-se pouquíssimo nesse meio), o documentário faz jus, como poucos, ao título de "jornalismo público" que muitas emissoras não-comerciais gostam de reivindicar com exclusividade. *Como não podia deixar de ser, contudo, a Rede Globo tira disso um pretexto para a autoglorificação. "Um documentário como nunca foi feito no Brasil", diz Glória Maria. Mas quem assistiu a "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles e Kátia Lund, não terá razões especiais para perder o sono com "Falcão". *
Violência em discurso
*Neste documentário, as imagens chamam menos a atenção do que a fala, a gíria, o pensamento --ou a ausência de pensamento-- dos entrevistados. Tendo seu rosto velado o tempo inteiro, em cenas predominantemente noturnas, os "falcões" (isto é, os encarregados de vigiar a favela para avisar da chegada da polícia ou dos rivais) enunciam, com dura fluência, as regras de seu meio: "quando estoura o doze por um [espécie de rojão] é que os cana [a polícia] tão entrando". Os X-9 [delatores], "nós mata, pica ele, taca fogo". *A violência aparece nos sotaques, nos tons de voz, no automatismo com que certas frases são disparadas como se fossem rajadas de uma metralhadora que se aciona sem pensar. Um menino diz saber que sua vida será curta: não faz diferença. "Se eu morrer, vai nascer outro que nem eu." Percebe-se que apenas repete um raciocínio que ouviu de uma terceira pessoa, talvez da própria polícia. *Uma espécie de "auto-ideologia", de discurso pronto, meio radiofônico, sobre "a revolta" e "a lei do cão" estrutura o documentário, que perde a oportunidade, às vezes, de aproximar-se melhor dos objetos e dos cenários. As roupas do filho morto, que uma mãe exibe com objetividade pungente numa cena, encontram uma câmera indiferente e distante; exceção nesse estilo, a habilidade manual dos empacotadores de drogas é contudo mostrada de forma memorável. *Mas o estilo "falado" de "Falcão" não deixa de ser novidade num contexto em que se denuncia o predomínio da cultura visual entre os jovens. É o rap tomando conta da linguagem da TV: e, só por isso, "Falcão" já faz diferença. * *- Marcelo Coelho é colunista da Folha de S. Paulo.
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