A modulação no discurso foi feita numa live que o bispo postou em suas redes sociais. No vídeo, Macedo disse que orou por Jair Bolsonaro (PL), mas que a vitória de Lula foi uma escolha divina.
O ex-presidente que voltará para um terceiro mandato "supostamente ganhou segundo a vontade de Deus, mas quem ganhou fomos nós, os que cremos", afirmou o líder neopentecostal.
Macedo iniciou sua fala contando de um culto na véspera, em Genebra, em que a mensagem central foi o perdão. "Falamos que as pessoas devem perdoar para que possam ser perdoadas. É o que Jesus ensina, o que nós cremos."
Segundo o bispo, por carregarem muita mágoa e ressentimento, muitos têm dificuldade de perdoar, "e quanto mais tempo passa, mais difícil vai ficando".
Em seguida, ele afirmou que "não precisa sentir para perdoar", porque "o perdão é uma atitude pensada, raciocinada, é uma atitude racional, porque se você esperar sentir, no coração, vontade de perdoar, você não vai perdoar nunca, jamais, em tempo algum, porque o coração é indomável".
Desculpar alguém que lhe feriu é possível, sim, portanto. "Mas como? Orando pela pessoa que nos fez mal."
Ex-aliado de Lula que em 2018 endossou o bolsonarismo, Macedo contou que, na reunião, uma fiel trouxe o tema político à tona: "Todo mundo ouve ela gritar, ‘eu perdoo você, Lula, que fez tanto mal para o Brasil, que fez o que fez’".
"E aí me veio o discernimento de quantas pessoas neste Brasil ou pelo mundo afora, especialmente cristãos, quantos devem ter ficado irados contra o Lula e magoados e agarraram um sentimento de mágoa contra ele. Ora, minha amiga e meu caro amigo, vamos colocar a cabeça no lugar, nós fizemos as nossas escolhas. Ei, e a escolha foi da maioria, obviamente, que votou."
Completou: "Sua fé não vai valer de nada se você não perdoar".
Nos bastidores do poder evangélico, a adesão da Universal à candidatura vencedora, fosse a que fosse, era favas contadas. Macedo se alinhou a todos os presidentes desde Fernando Collor, em 1989.
Em setembro, a Folha publicou reportagem mostrando que alguns candidatos ligados à Universal omitiam o nome de Bolsonaro de seus santinhos políticos.
Publicamente, a igreja se posicionou ferozmente contra Lula e a esquerda em geral. A Folha Universal, jornal da casa, produziu editoriais em série nesse sentido. O texto publicado no domingo seguinte ao 7 de Setembro bolsonarista dizia que a esquerda podia "chorar copiosamente" à vontade, porque "as "manifestações cívicas" galvanizadas pelo presidente deixaram claro que "o líder supremo da esquerda no Brasil não terá vida fácil".
Apego maior ao bolsonarismo é creditado ao bispo Renato Cardoso, genro de Macedo e apontado como seu sucessor. Foi ele quem assinou texto fulminando a ideia de um cristão poder ser de esquerda.
Bispos mais antigos na hierarquia da Universal, contudo, seriam menos entusiastas da defesa intransigente de Bolsonaro. Na visão dessa velha guarda, faltaria a Renato habilidade política.
Macedo tem um histórico de vaivéns com Lula. Em 1989, incentivou a demonização do petista, então candidato de primeira viagem.
Três anos depois, o líder evangélico em ascensão foi preso, acusado de práticas como charlatanismo. Lula foi um dos raros políticos a visitá-lo na prisão. "Se não tomarmos cuidado, daqui a pouco a polícia está na sua casa, prendendo sem critério", disse à época.
A Universal retomou a hostilidade com ele nas campanhas seguintes, vencidas pelo tucano FHC.
Os dois se reconciliaram quando o PT entrou no Palácio do Planalto, em 2002. O então vice de Lula, José Alencar, era do PL, partido que concentrava nomes da Universal, e depois migrou para o PRB (atual Republicanos), arquitetado pela igreja em 2003.
Em 2018, Macedo a princípio optou por endossar Geraldo Alckmin. Declarou voto em Bolsonaro de última hora, quando ficou claro que o ex-governador paulista, hoje vice de Lula, não tinha chances naquele pleito.