Na delegacia, a vítima contou ter sido exigido que fosse realizado um “trabalho” para quebrar a “maldição”, sendo necessária a compra de ovos brancos, panos e velas, o que foi feito em um supermercado próximo. De volta à sala de Diana, a mulher teve que passar por um suposto rito em que a criminosa teria identificado um “demônio” em seu corpo e, por isso, cobrou que fossem feitas transferências bancárias.
No dia seguinte ao encontro, Diana novamente voltou a insistir pelo pagamento, dizendo que a vítima seria hospitalizada em seis meses caso não o fizesse e recomendando que não comesse carne vermelha e pimenta e nem ingerisse bebida alcoólica. Em um vídeo enviado por rede social, ela mostrava uma menina vomitando sangue por estar com “carga espiritual” e ameaçava a mulher que o mesmo iria acontecer a ela.
— Os inquéritos mostram que esses criminosos, com promessas de reatar relacionamentos, oferecer promoções em empregos e até desfazer maldições espirituais, exigem dinheiro e chegam a ameaçar as vítimas. Realmente impressiona a frieza como as ludibriam para alcançar vantagens econômicas, demonstrando ganância e explorando crenças religiosas — disse o delegado Felipe Santoro, titular da 13ª DP, à época — Nossa orientação é no sentido de que todos fiquem atentos a essas abordagens e evitem se deslocar para endereços de desconhecidos, procurando referências seguras e não se deixando levar por postagens em redes sociais
A Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti) deflagrou, na manhã desta quarta-feira (10), a Operação Sol Poente, contra suspeitos de roubar obras de arte — entre eles, quadros de Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral — joias e relógios Rolex, além de pagamentos em dinheiro feitos pela vítima aos integrantes da quadrilha. A filha da vítima está entre os presos por participação no crime. A obra de Tarsila do Amaral, que dá nome à operação, foi recuperada pela polícia nesta manhã.
O prejuízo estimado é de R$ 725 milhões, de acordo com a polícia. Segundo as investigações, as 21 joias e três relógios Rolex dados à quadrilha estão avaliados em R$ 6 milhões. Ao todo, são seis mandados de prisão e 16 de busca e apreensão, cumpridos em endereços na Zona Sul e nos bairros da Abolição e do Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio. Além da filha, três outros suspeitos foram presos, mas dois estão foragidos.
Pouco antes das 6h30, quando a polícia chegou na casa da suspeita, ela tentou fugir pulando pela janela. O filho dela tentou cortar uma tela de proteção e a mulher chegou a se pendurar no vão. Em seguida, os investigadores entraram no apartamento e encontraram 11 obras de arte, avaliadas em R$ 250 milhões.
Entre os quadros, está o Sol Poente é da fase antropofágica da obra de Tarsila de Aguiar do Amaral (1886 – 1973). Pintado pela artista em 1929, ele faz parte de um grupo de quadros “que contam com cores fortes, que mostram figuras do imaginário, dos sonhos e de lembranças de infância”, de acordo o site oficial da pintora.
O quadro é em óleo sobre tela e tem 54 x 65 centímetros. Outra obra que faz parte da lista que, de acordo com as investigações, foi roubada da idosa, também é desse período: O Sono, pintada em 1928. O quadro mais famoso de Tarsila, Abaporu, que não faz parte da investigação, também é desse período.
A idosa de 82 anos, vítima dos crimes, é viúva de um marchand (negociador de obras de arte). Parte das obras de arte roubadas, segundo a polícia, deixou o país e foram parar em Buenos Aires, na Argentina. Os suspeitos cometeram os crimes de estelionato, roubo, extorsão, cárcere privado e associação criminosa. Com a investigação, já foi possível uma recuperação de 40% do total do prejuízo informado.
Cárcere privado
A idosa, de 82 anos, foi ludibriada pelo grupo, que ofereceu tratamento espiritual para uma de suas filhas em troca de dinheiro. Ao desconfiar que estivesse sendo vítima de um golpe, a vítima não quis mais realizar os pagamentos e passou então a ser mantida em cárcere privado, em seu apartamento, na Zona Sul do Rio, pela filha, entre fevereiro de 2020 e abril de 2021.
Durante o cárcere, a idosa chegou a ser agredida, privada de alimentação e teve uma faca colocada em seu pescoço para que fizesse a transferência de valores. Ela descobriu que todo o golpe havia sido articulado pela filha, que também passou a vender obras de arte para uma galeria em São Paulo.
Entre as obras levadas pela filha estavam ‘O Sono’, de Tarsila do Amaral; ‘O menino’, de Alberto Guignard; ‘Mascaradas’, de Di Cavalcanti; ‘Maquete para o meu espelho’; de Antônio Dias; e ‘Elevador Social’; de Rubens Gerchman. Duas obras foram vendidas para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, na Argentina, e ainda não foram recuperadas.
Entre os alvos da operação estão Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic, Jacqueline Stanescos, Rosa Stanesco Nicolau, Ronaldo Ianov, Slavko Vuletic e Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger.
Confira a lista das obras:
O Sono, de Tarsila do Amaral, avaliado em R$ 300 milhões
Sol Poente, de Tarsila do Amaral, avaliado em R$ 250 milhões
Pont Neuf, de Tarsila do Amaral, avaliada em R$ 150 milhões
Ela, aquarela de Cícero Dias avaliada em R$ 1 milhão
Aquarela sem título, de Cicero Dias, avaliada em R$ 1 milhão
Desenho representando uma paisagem, de Alberto Guignard, avaliada em R$ 150 mil
Rue Des Rosiers, de Emeric Marcier, avaliada em R$ 150 mil
Eglise Saint Paul, de Emeric Marcier, avaliada em R$ 150 mil
Porto de pesca em Hong Kong, de Kao Chien-Fu, avaliada em R$ 1milhão
Coruja ao luar, de Kao Chi-Feng, avaliada em R$ 1 milhão
Retrato, de Michel Macreau, avaliada em R$ 150 mil
Mulher na Igreja, de Ilya Glazunov, avaliada em R$ 500 mil
Mascaradas, de Di Cavalcanti, avaliada em R$ 1,5 milhão
O Menino, de Alberto Guignard, avaliada em R$ 2 milhões
Maquete para meu espelho, de Antônio Dias, avaliada em R$ 1,5 milhão
Elevador Social, de Rubens Gerchman, avaliada em R$ 1,5 milhão