CORREIO BRAZILIENSE - O governo mudou o tom e os peritos seguiram a estratégia na queda de braço em torno da volta ao trabalho presencial nas agências da Previdência. Mas, até ontem, nada mudou para o segurado do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Por mais um dia, desde 14 de setembro, quem procurou atendimento da perícia médica teve que voltar para casa e tentar reagendar o serviço.
Embora menores, as divergências entre o Ministério da Economia e os médicos continuam, e os segurados devem ficar atentos às possíveis datas em que poderão ser atendidos. O secretário especial da Previdência e Trabalho do Ministério, Bruno Bianco, disse que as agências vistoriadas e consideradas aptas pelo governo vão abrir as portas para receber a população na segunda-feira. Já os médicos avisam que o retorno, caso as agências estejam preparadas, será na terça-feira.
Bianco confirmou que vai descontar os dias parados, mas já não fala em processo administrativo contra os servidores, como tinha declarado no dia anterior. “
Quem não voltar, vai, infelizmente, levar falta”, afirmou Bianco. Ontem, o governo publicou em edição extra do Diário Oficial da União uma convocação para que peritos médicos federais e supervisores médico-periciais retornem ao trabalho presencial. A publicação traz a lista das agências aptas (
https://www.in.gov.br/web/dou/-/edital-de-convocacao-n-1-de-18-de-setembro-de-2020-278244163).
Além de Bianco, assinou o documento o secretário de Previdência Narlon Nogueira. E para evitar aglomeração, o presidente do INSS, Leonardo Rolim, reafirmou que todos os atendimentos devem ser agendados pelo número 135 ou pelo aplicativo Meu INSS.
Francisco Cardoso, vice-presidente da Associação Nacional do Peritos Médicos Federais (ANMP), afirmou que não era preciso publicar o edital de convocação. “Aliás, convocação nunca é imediata. Tem prazo de 30 dias. Houve um equívoco do jurídico do Ministério da Economia. Nós vamos fazer vistorias nas agências na segunda-feira e, se estiver tudo certo, retornaremos no dia seguinte. Vamos respeitar rigorosamente os protocolos”, disse. Por meio de nota, a ANMP confirmou que, diante da decisão do Ministério da Economia de romper o diálogo com a categoria, a entidade decidiu refazer as inspeções por conta própria, “para o bem público”.
“Foi necessário tomar esta atitude visto que a população estava sendo prejudicada pela irresponsabilidade e falta de governança do Ministério da Economia, que está colocando em risco a vida de milhares de pessoas. Iremos usar o mesmo checklist original utilizado pelo próprio governo em 8-9 de setembro como referencial, e não iremos considerar o checklist fraudulento produzido pela Secretaria de Previdência e pelo INSS. Tanto o INSS quanto a imprensa serão notificados dos dias e horários. As agências consideradas aptas serão imediatamente liberadas para a categoria retornar ao trabalho. Já as inaptas serão alvo de relatório a ser entregue ao INSS solicitando as melhorias e nesses locais a PMF continuará a não comparecer”, informou a AN.
Correios: greve vai para Justiça
Após sucessivas tentativas de negociação, os Correios anunciaram que aguardam decisão judicial sobre a greve dos funcionários, iniciada em 17 de agosto, para normalizar as atividades operacionais. O julgamento da ação de dissídio coletivo está marcado para a próxima segunda-feira, segundo informações da Agência Brasil.
Segundo a estatal, as negociações estavam sendo feitas desde julho, e visavam preservar a saúde financeira da empresa com cortes de privilégios e “adequação à realidade do país”. Segundo a companhia, os termos exigidos pelos funcionários para a retomada das atividades põem em risco a economia que vinha sendo aplicada.
Os Correios registram prejuízo acumulado de R$ 2,4 bilhões e esperava economizar cerca de R$ 800 milhões ao ano. Segundo a estatal, esse valor, em três anos, cobriria o deficit financeiro atual. “É evidente, portanto, que não há margem para propostas incompatíveis com a situação econômica atual da instituição e do país, o que exclui de qualquer negociação a possibilidade de conceder reajustes”, registra nota divulgada pela estatal.
De acordo com a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (Fentect), parte dos trabalhadores decidiu cruzar os braços em protesto contra a proposta de privatização da estatal e pela manutenção de benefícios trabalhistas. Os funcionários pedem, ainda, reajustes salariais.
Privatização
O governo prepara um projeto de lei para viabilizar a privatização dos Correios, mesmo com a insatisfação dos funcionários e a pouca chance de que o assunto avance nos próximos meses no Congresso, devido às eleições municipais. O objetivo é enviá-lo aos parlamentares ainda neste ano. A ideia conta com apoio do ministro das comunicações, Fábio Faria, e com o engajamento do presidente da estatal, Floriano Peixoto.
O primeiro passo é consolidar um estudo técnico sobre a viabilidade econômico-financeira da empresa, o que já está em andamento. O governo contratou uma consultoria que será responsável por essa parte. Com os dados em mãos, o Congresso poderá decidir se mantém o serviço postal sob o guarda-chuva do Estado ou se passa o controle para a iniciativa privada.
Para Faria, a privatização resultará em melhoria do serviço. Segundo ele, há, pelo menos, cinco empresas interessadas, entre elas, Magazine Luiza, Amazon e FedEx. A estatal emprega cerca de 100 mil trabalhadores.