Após um ano marcado por protestos e ofensas de uma parte a outra, o clima de hostilidade entre movimentos politicamente antagônicos chegou às universidades do País. Na última semana, duas das principais instituições particulares de ensino superior do País foram palcos de manifestações e conflitos entre estudantes favoráveis e contrários ao governo Dilma Rousseff.
Na segunda-feira (21), um ato organizado pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Economia e Administração, que pedia o impeachment da presidente, terminou em conflito entre seus apoiadores e manifestantes defensores do Partido dos Trabalhadores – estudantes pró-Dilma, que estavam no campus e nos bares ao redor e resolveram responder às ofensas bradadas pelos anti-PT em um caminhão de som. A situação ficou mais tensa quando a Polícia Militar foi chamada para intervir, usando bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para dispersar os manifestantes.
Dois dias depois, universitários da Universidade Presbiteriana Mackenzie defensores do governo federal voltaram a protestar no local onde ocorreu um dos mais conhecidos confrontos da ditadura militar, a Rua Maria Antônia, na região central de São Paulo. Às vésperas da instalação do Ato Institucional Número 5, o mais severo do regime, em 1968, estudantes da mesma instituição protagonizaram uma batalha contra alunos da Universidade de São Paulo (de esquerda), cujo saldo foi uma morte, dezenas de feridos e o prédio da Faculdade de Filosofia da USP incendiado.
Apesar de não ter sido nem de perto tão dramático quanto aquela que ficou conhecida como "A Batalha da Maria Antônia", o ato da última quarta-feira (23) também acabou em confusão. Universitários do Mackenzie favoráveis ao impeachment que estavam em bares da via passaram a hostilizar os defensores de Dilma com gritos de "PT ladrão", rebatidos com outros de "fascistas". Houve empurra-empurra e ao menos a explosão de duas bombas usadas pelos grupos. Na manhã seguinte ao ato, um dos banheiros do campus da Consolação trazia uma mensagem em que se lia " “Fora PT e devolva os pretos para a senzala”.
Para o sociólogo Rafael Araújo, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, o contexto atual revela uma despolitização grave da população brasileira, que vê uma intolerância crescente em ambos os lados – incluindo entre os universitários.
“Não vemos um debate racional sobre isso. Na verdade, nunca vemos um debate racional sobre nada. E a ausência de pensamento, como vemos claramente nesses conflitos, não tem a ver com escolaridade. Por isso, acontece nas universidades também”, critica ele. "Em meio a todo este caos, acaba sendo papel da instituição escolar promover discussões, principalmente na universidade, responsável pela produção de conhecimentos para a sociedade. Afinal, se não for a universidade, quem vai fazer?"
Procurada pelo iG, a Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirmou, por meio de nota, que, para a preservação do bom funcionamento das atividades no ambiente acadêmico, não considera “oportuno, no presente momento, manifestações que reúnam grande número de pessoas dentro de seu campus”. A PUC não quis comentar o assunto.