SENTINELA DO ABUNÃ - A história de Francisca, uma brasileira amazônida

Francisca Sampaio de Souza é extrativista, coletora de castanha. Casada, três filhos, morava há mais de 20 anos em território boliviano. A brasileira foi mais uma vitima entre centenas que foram expulsos por milícias comandadas por “safreros campesinos”,

SENTINELA DO ABUNÃ - A história de Francisca, uma brasileira amazônida

Foto: Divulgação

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Corre o ano de 2008. Três e meia da manhã. Um barulho de motor no rio acorda a mulher. Uma lamparina de pouca luz ilumina seu barraco em meio à selva. Ela observa seus filhos que dormem. Gritos ecoam mata adentro. São ameaças proferidas em espanhol. O medo que rondava sua vida e de vizinhos começa a se tornar realidade. Sua demarcação está sendo atacada por homens armados que usando de violência estão expulsando brasileiros da região de fronteira da Bolívia. Uma noite de terror que a brasileira busca esquecer.
Francisca Sampaio de Souza é extrativista, coletora de castanha. Casada, três filhos, morava há mais de 20 anos em território boliviano. A brasileira foi mais uma vitima entre centenas que foram expulsos por milícias comandadas por “safreros campesinos”, organização boliviana similar aos “Sem Terra brasileiros”. A ordem de expropriação teria sido dada pelo presidente Evo Morales.
Em entrevista concedida em 2009 no porto do rio Abunã no distrito de Extrema em Porto Velho - Rondônia, a extrativista contou os momentos de terror que antecederam sua expulsão do país vizinho. Disse que um “bando de safreros” ficou na sua casa por cerca de quatro dias, um casebre a beira do Rio Mamu (BO) enquanto aguardavam a chegada de seu marido que tinha vindo ao Brasil comprar suprimentos e remédios.
Os paramilitares, todos armados com carabinas, revólver e até fuzil não tocaram nela, nem em suas crianças. “Mas eles disseram que não era pra fazer mais nada ali, que agora era tudo deles” conta Francisca. Também relatou que ofensas eram comuns, com os “guerrilheiros” afirmando que todos os brasileiros eram “pícaros”.
Eles falaram que a bandeira brasileira só servia para limpar o “toba” deles” conta a extrativista.
Também havia uma correria para a beira do rio, quando ouviam a zuada de barco subindo. Se fosse brasileiro, era parado pelos “patrícios”, tinham seus pertences tomados e na “ponta de espingarda”, obrigados a retornar.
 Francisca Sampaio viu sua vida mudar no final de maio deste ano. Uma ação coordenada pela comunidade através do professor Marquelino do projeto Ética e Cidadania construiu no porto do Abunã, um mastro da bandeira nacional brasileira
Quando seu marido chegou, foi avisado da perda de sua propriedade e expropriação da sua produção de castanha. Numa canoa embarcou com a mulher e crianças. Na pequena embarcação ficaram morando. “Entrava água mais que tudo, mais assim, com meus filhos passamos vários dias”.
Em 2009, já morando no Brasil, Francisca reclamava da ironia dos vizinhos além-fronteira. “Com ajuda de Deus, consegui esta casa aqui no porto, mas até aqui eles passam aqui achando graça da cara dos brasileiros, sem o brasileiro ter feito nada pra eles”. Na sua simplicidade, a extrativista não conhece a lei da reciprocidade nas relações entre países. Reciprocidade desancada pelo governo Morales, que também expropriou a Petrobras, além de legalizar os carros roubados no Brasil.
Em dezembro de 2011, um tenente do Exército boliviano de sobrenome Pacheco resolveu ir até o lado brasileiro do porto do Abunã para “colocar o dedo na cara” dos ribeirinhos. Reclamava uma canoa que supostamente teria sido trazida para o lado brasileiro em retaliação contra as atitudes antissociais dos moradores do país vizinho.
Mas o Tenente da “Armabol” se deu mal. Revoltados, extrativistas brasileiros “seguraram” o oficial até a chegada da polícia e imprensa. Ouviu reclamações de pagamento de propina para militares e tomou uma descompostura. Também levou um  “passa cachorro” há muitos anos entalado na garganta de extrativistas brasileiros.  Mas um dia de tensão no porto binacional.
Estou aguardando a Eletrobrás estender a energia elétrica até aqui, Quero ver nossa bandeira iluminada, ficando de noite uma lindeza só.” disse Francisca
Passados quatro anos de sua expulsão, Francisca Sampaio viu sua vida mudar no final de maio deste ano. Uma ação coordenada pela comunidade através do professor Marquelino Santana do projeto Ética e Cidadania construiu no porto do Abunã, um mastro da bandeira nacional brasileira. Um reconhecimento pela luta dos extrativistas brasileiros humilhados por bolivianos. Um aviso aos rebeldes vizinhos - “Aqui começa o Brasil
Para o primeiro hasteamento do pavilhão nacional na região de selva bruta foi realizada uma formatura militar. Sob o forte sol dos trópicos, tendo como moldura a exuberante floresta amazônica, o Exército Brasileiro, através de pelotão do 4º Batalhão de Infantaria de Selva celebrou a conquista da comunidade do distrito de Extrema de Rondônia.
E a brasileira Francisca, que foi expulsa da Bolívia, teve seus pertences roubados e foi obrigada a dormir com três filhos numa canoa no Rio Mamu tornou-se guardiã da bandeira na fronteira. Bandeira brasileira que bolivianos “esculacharam”. Foi homenageada, declarada a “verdadeira sentinela do Abunã”. Tenente Vital do 4º BIS  entregou certificado do Exército à ribeirinha. Professor Marquelino a condecorou com o broche da Bandeira Nacional. Um soldado "guerreiro de selva" jurou "defesa da Amazônia"
E para o futuro? “Estou aguardando a Eletrobrás estender a energia elétrica até aqui, faltam apenas 600 metros. Quero ver nossa bandeira iluminada, marcando nosso barranco, ficando de noite uma lindeza só.” disse Francisca. "As voltas que a vida dá" bem que poderia ser o título desta reportagem.
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