*Queixando-se de trabalho escravo o trabalhador braçal Célio Alves Muniz, 24 anos, procurou a polícia no começo da noite de quinta-feira para prestar queixa-crime contra o dono de uma fazenda que não soube identificar, localizada na divisa do Acre com Amazonas e Rondônia. Contou que ele e um grupo de trabalhadores vivem em regime de escravidão.
*Célio afirmou em depoimento ao delegado da 2ª Unidade de Segurança Pública (USP), Alberto Dalacosta, que os operários não recebem salários, comem mal e sofrem constantes ameaças dos "gatos" da fazenda. Confirmou a existência no local de nove pistoleiros armados, prontos para matar.
*Segundo o braçal, na fazenda existem dezoito trabalhadores vivendo sob as mesmas condições. O queixoso não sabe ler nem escrever, não conhece ninguém em Rio Branco e não tem para onde ir, ele parou na delegacia para pedir um pouco de comida e um lugar para descansar.
*Disse que havia fugido da fazenda em companhia de um colega na noite da última quarta-feira, caminhando até a cidade de Extrema, onde se separaram. Célio diz que trabalhou dois meses e nunca viu a cor do dinheiro.
*Natural do Mato-Grosso, Célio e os colegas dele, teriam sido recrutados em Porto Velho/RO, e levados à Ponta do Abunã para trabalhar como diarista. Do contratante receberam a promessa de 25 reais por cada dia trabalhado, mas jura nunca ter recebido um tostão.
*Trecho do depoimento
*Depois de prestar o compromisso formal e inquirido pela autoridade policial Célio, respondeu: Que há mais ou menos dois meses; se encontrava na rodoviária de Porto Velho, quando encontrou a pessoa conhecida por "Zilão", o qual disse para o depoente que precisava de pessoas para trabalhar numa fazenda na qual era gerente; que, o mesmo lhe pagou 100 reais para que fosse trabalhar nesta fazenda, no serviço de derrubada, no Ramal do Boi, BR-364, próximo a Extrema.
*No mesmo dia o depoente juntamente com mais 17 peões veio, num caminhão fretado pelo "Zilão", de Porto Velho até a fazenda citada. Que, logo ao chegarem no local "Zilão" de posse de uma arma tipo metralhadora falou o seguinte: ali à coisa já tinha mudado, pois as coisas ali eram do jeito dele, que se fugisse ele matava.
*Disse haver no local outras pessoas que trabalhavam para "Zilão" como "capangas", do tipo pistoleiros, todos armados, vigiando para que ninguém fugisse. O depoente juntamente com outros peões, dormia numa casa tipo barracão.
*No dia 05/09/05 por volta das 00h juntamente com seu colega de serviço conhecido por "Miraildo" conseguiram fugir pelo telhado do barracão, pois todos estavam assistindo filme. Saíram correndo pelo campo e entraram na mata, em seguida caminharam pela estrada, onde passado uns 20 minutos ouviram o barulho da Toyota e entraram novamente na mata.
*Três pistoleiros teriam montado uma tocaia na cabeceira de uma ponte, e os demais retornaram na Toyota. Célio e seu colega acharam que tinha ido embora, foi quando ao chegarem na ponte encontraram os três pistoleiros, os quais acenderam lanterna e os avistaram; nesse momento saiu correndo em direção da mata e o seu colega foi atingido com um tiro nas costas, pois ainda ouviu quando gritou: "eles me acertaram nas costas", o qual ficou caído no chão.
*Célio não voltou para ajudar seu colega se não teria morrido afirma. Disse que passou toda à noite andando na mata até chegar numa fazenda onde foi socorrido, por uma pessoa, que lhe deu comida e em seguida saiu caminhando sem direção e sem saber para onde estava indo. Conseguiu pegar carona e chegar no posto da Polícia Rodoviária, os quais lhe trouxeram até o DP, para contar os fatos ocorridos.