A fúria do inquisidor – por Marquelino Santana

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Tudo aquilo que anula, suprime e revoga de maneira aviltante a liberdade de expressão, que arrebata e fere os princípios democráticos da cidadania, de forma grosseira e insolente, que combate a ética e a decência, com rancor e antipatia, que embrutece com escárnio a interação ética e profissional da própria instituição, que fabrica dados espúrios e inconsistentes do intuito de estereotipar a presença do ouvinte, e que macula nocivamente a complacência do diálogo, fica visível e clarividente, a prática abusiva e reacionária do sujeito, que em vez de dialogar, opta por ser um cidadão agressivo, autoritário e antidemocrático na sua fala de investigação inquisitória.
 
Para o antropólogo e linguista italiano, Maurizio Gnerre, o que ele chama de “decadência do diálogo”, reduz a posição do ouvinte ou interlocutor até o ponto de desaparecer qualquer referência direta ou indiretamente, a favor de um discurso abstrato e absoluto. Segundo o autor, é um discurso em última análise do poder onde apenas a fala de uma única pessoa é favorecida, reduzindo a participação do interlocutor ao silêncio.



 
O falante, muitas vezes, ou quase sempre, enxerga a sua fala hegemônica de dominação, como um discurso “competente”. Para a filósofa e escritora brasileira, Marilena Chauí, o discurso “competente”, se instala e se conserva, graças a uma regra que poderia ser assim resumida: não é qualquer um que pode dizer qualquer coisa a qualquer outro, em qualquer ocasião ou em qualquer lugar. Com essa regra, segundo a autora, ele produz a sua contraface: “os incompetentes sociais”. 
 
Segundo esclarece Marilena Chaui, “É a noção de competência que torna possível a imagem da comunicação e da informação como espaço da opinião pública, imagem aparentemente democrática, e, na realidade, antidemocrática por excelência, pois ao fazer do público espaço de opinião, isto é, essa imagem destrói a possibilidade de o saber à condição de coisa pública, isto é, de direito à sua produção por parte de todos”.
 
Chaui nos instiga a entender, que o chamado discurso competente é o discurso do especialista, proferido de um ponto determinado da hierarquia organizacional, autorizados a falar e a transmitir ordens aos degraus inferiores e aos demais pontos da hierarquia que lhe forem paritários. Para a mesma autora, esse discurso não exige uma submissão qualquer, mas algo profundo e sinistro: exige a interiorização de suas regras, pois aquele que não as interiorizar corre o riso de ver-se a si mesmo como incompetente, anormal, antissocial, como detrito e lixo.
 
Nesse sentido, a fala hierarquizada, muitas vezes intencional, pode causar ao ouvinte, um ignominioso constrangimento durante uma interação social, afetando emocionalmente a sua identidade, diante, principalmente, de uma informação autodirigida, por uma espécie de chamada de atenção à fúria inquisitorial investigativa, devidamente encomendada e que abala de forma escabrosa os pilares de uma gestão verdadeiramente democrática e inclusiva.
 
Dessa forma, é preciso atentar para que qualquer instituição pública, adote uma ética gestora sem represália, que seja capaz de receber da sociedade a relevância do reconhecimento por sua manifestação honrosa, pela tolerância e pelo respeito às diferentes diferenças. Uma gestão que fortalece a democracia é uma gestão que valoriza e semeia os princípios constitucionais da cidadania, e não uma gestão que prefere, em vez disso, possuir aversão ao outro, ser perseguidora e xenófoba, promover o cruel constrangimento, e se espelhar na produção e reprodução da fúria do inquisidor. 
 
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