A luta de Flávia contra o câncer de mama - Por Sandra Santos

A luta de Flávia contra o câncer de mama - Por Sandra Santos

Foto: Divulgação

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Foi na recepção do hospital do Câncer em Porto Velho que a conheci. Flavia Dias Barbosa, 37 anos é uma moça de sorriso largo, simpática e muito alegre. Para disfarçar a queda de cabelo usava na cabeça um lenço de cor alaranjada, que por sinal  lhe caia muito bem. Flávia tem câncer de mama.

Há seis anos, após terminar a faculdade em São Paulo, ela veio para Rondônia trabalhar como enfermeira lá no pequeno município de Governador Jorge Teixeira.

Flávia tem duas filhas de 13 e 2 anos de idade. Atualmente afastada do trabalho, mora com o marido em porto velho por causa do tratamento.

Foi com um sorrisão que Flávia me recebeu em sua casa no bairro Marechal Rondon.  Enquanto falava sobre seu drama, mantinha um brilho nos olhos e o sorriso largo que é quase como sua marca registrada. Foi sem demonstrar  auto piedade que ela me contou sobre a doença e sobre como tem buscado enfrenta-la.

E é esta história que compartilho com vocês.

A descoberta do câncer.

Foi justamente durante a licença maternidade que o nódulo no seio foi descoberto, porém eu achava que por causa do aumento da mama no periodo de amamentação, tudo aquilo fosse normal e não contei ao médico.

Um ano depois decidi fazer uma laqueadura e procurei a médica que solicitou uma ultra som. O nódulo apareceu no exame. Uma tomografia foi solicitada, fiz biópsia e outros exames. Após a confirmação de que era maligno ficou decidido que ele seria retirado.

Minha mãe veio de São Paulo para me visitar. Ela soube antes de mim que o caso era muito sério.

A retirada cirúrgica do nódulo e margem de segurança foi feita em dezembro ficando ainda um resquício porque não dava para retirar mais nada, sendo assim, o próximo passo seria a mastectomia ou então ele voltaria.

 A Luta 

Nesse mesmo período meu marido e eu decidimos ir para o IBCC – Instituto Brasileiro de Controle do Câncer – em São Paulo, pois a doença além de agressiva era invasiva e poderia atingir outros orgãos. Como a retirada dos nódulos já havia sido feito, fiz os exames que faltavam e a cirurgia foi marcada para março. Alguns dias antes notei um nódulo embaixo da axila. Na mastectomia foram retirados 20 linfonodos sendo que cinco já estavam com carcinoma metastático.

Dois dias após a cirurgia deixei o hospital e retornei um dia depois. Fui internada por causa de uma tromboembolismo pulmonar e lá fiquei durante 21 dias. Por causa da tromboembolismo alguns medicamentos para combater o câncer tiveram que ser suspensos. Era como se eu descobrisse um santo para cobrir outro e meu cobertor parecia pequeno. Após a alta os medicos sugeriram fazer a quimioterapia em Porto Velho.

A reação aos medicamentos

Cada seção é uma reação e para cada pessoa é uma reação diferente. A medicação é feita a cada 21 dias. A vermelha doi muito no braço. Doi e pára e depois vem um sono grande por causa das outras medicações, para alergia, por exemplo. A medicação branca dura 3 horas e dá sono também. São muitos medicamentos durante a quimio para proteger outros orgaõs. A primeira vez que fiz a quimioterapia vermelha afetou seriamente um dente que já estava com problema e nao podia fazer o tratamento antes de 30 dias. Também tive diarréia, irritação exagerada, dor de cabeça extremamente forte e mudança no paladar.  

Fiquei muito abalada porque atinge o psicológico. Com a quimio branca os sintomas sao mais físicos. Até uma semana após a quimio há uma secura na boca e mudança no paladar. Nada tem sabor. Eu sinto vontade de comer algo e quando como eu sei que não tem aquele gosto. Cozinhar se torna um problema, porque não sei se está doce ou salgado, então meu marido prova.

O recebimento de um novo diagnóstico

Fiquei muito abalada ao receber o diagnóstico do nódulo e quando falaram sobre a mastectomia eu fiquei chocada, mas depois da cirurgia fiquei mais tranquila. É o outro diagnóstico do outro exame que vou fazer que está me assustando muito. Dia 16 de outubro eu faria a última quimio, mas apareceu um nódulo no fígado e pode ser metástase e eu estou muito assustada. Vou fazer a biópsia e precisa cuidado porque estou tomando anti coagulante. Esta noticia está me abalando muito. Conheci pessoas que fizeram mastectomia e 10 anos depois apareceu um nódulo no outro seio. Eu até achei que isso fosse acontecer comigo, embora tenha pedido muito a Deus a vitória.

As filhas, o marido e a família

Uma coisa é certa. Adistância dos meus familiares é uma das partes mais terríveis. Os amigos também são importantes. Uma amiga minha foi me visitar em Sao Paulo e isso me deixou muito feliz. Todo mundo diz que eu sou otimista. Eu sou gordinha e eu achei que fosse emagrecer e olha só, nem mesmo doente deixei de comer. Eu senti quando meus cabelos começaram a cair e chamei meu marido. Ele sugeriu raspar logo mas eu não estava preparada, embora estivesse perdendo muitos cabelos. Mas acabei raspando depois e meu marido pegou minha filha e a trouxe para perto de mim. Ela olhou e ficou passando a mão. Outro dia ela viu um video onde eu ainda tinha cabelos e perguntou sobre eles.

Após a descoberta do câncer minha filha mais velha, que tem 13 anos, foi viver com minha mãe no interior de São Paulo. Conversamos e ela ficou assustada perguntando se eu iria morrer e eu brinquei dizendo que não e que terei apenas que me tratar. Eu sinto muita falta dela, mas neste momento é melhor para ela ficar com minha mãe.Meu marido estuda muito sobre a doença e agora anda muito curioso sobre este medicamento da USP a Fosfoetanolamina. Ele me disse que o remédio para o câncer está na minha cabeça, porque eu posso entrar em um processo de depressão e vou acabar morrendo de tristeza e nao de câncer. Ele diz que tudo o que pudermos fazer iremos fazer, que não posso me abater emocionalmente, que preciso lutar e nao me entregar.

O medo 

O que me faz chorar é pensar que posso morrer. O tratamento em si, nao. Peço a Deus todos os dias para nao me recolher porque eu não estou preparada para deixar este plano material. Eu penso muito nas minhas filhas. Eu tento nao me abalar, mas há dias que tudo se torna muito dificil. Quando vou ao hospital vejo quantas pessoas estão sofrendo muito mais do que eu e percebo que eu estou bem.

Este outro diagnóstico está me assustando muito. Eu estava animada mas quando apareceu este nódulo no fígado e a quimioterapia não estava agindo nele, então fiquei assustada. Eu não perdi a fé mas estou com muito medo. Nao há necessidade de radio terapia e a médica vai mudar a quimio. Talvez um tempo maior possa elimina-lo

Enfrentando a doença.

Procuro seguir o conselho do meu marido para não cair em depressão. Falo com meus amigos, me distraio e dou muita risada, até mesmo pelo whatsapp.

Eu não quero ficar pensando em morte. Por isso não pesquiso mais na internet sobre tratamento, porque ver casos de pessoas que não tiveram sucesso tira a esperança da gente. Peço sempre a Deus que restaure minha saúde e me liberte desta doença porque é triste, muito triste.

Algumas pessoas se revoltam com Deus. Eu nunca me revoltei porque eu acho que ele tem um propósito, mas ao mesmo tempo, insisto em pedir a Ele para não me recolher agora. Por outro lado eu penso que se for da vontade Dele que eu seja mais uma a fazer parte de uma estatistica, então que assim seja, mas que por favor me prepare antes, a mim e a quem está ao meu redor.

Olha o estrago que esta doença faz; além de mexer com o físico e psicológico de uma pessoa, mexe com todos ao redor. Eu não quero ser responsável pelo sofrimento dos meus pais e das minhas filhas.

As mudanças após a descoberta 

No inicio quando recebi a noticia o primeiro pensamento foi: e se eu morrer?

Então passei a agradecer a Deus por cada dia, mesmo agora que estou com esta interrogação sobre os nódulos no fígado. Quando é uma ferida externa a gente sabe como está. Se está aberta ou fechando, curando ou piorando. Mas quando é por dentro, vem a dúvida e o medo.

O futuro

Penso no futuro mas de maneira diferente, porque ele pode ser daqui 1 minuto. Quando penso no futuro e no amanhã eu me vejo vencendo uma batalha e aproveitando o máximo da vida. Eu quero fazer artesanato nos momentos de folga na companhia das minhas filhas.

Mas olhando o futuro eu também penso no passado, olho para trás e vejo que me importei com coisas desnecessárias e por isso nao perco mais tempo fazendo coisas que nao me servem para nada ou que não irão me ajudar a evoluir. Quero aproveitar o tempo. Deus talvez nos coloque nesta batalha para evoluirmos e pode ser também para a evolução daqueles que estão ao nosso redor.

Eu estou engatinhando e ainda nao consegui enxergar onde exatamente eu preciso mudar, mas sei que alguma coisa eu preciso fazer mesmo que não saiba ainda o quê. Algum propósito tem, mas preciso ainda encontrar as respostas.

O aprendizado

Minha percepção da vida é outra. Acho que estou começando a enxergar mais os detalhes e ver beleza onde não via. É uma coisa interessante não querer mais deixar de enxergar o que passou a enxergar.

Você acredita que tem um passarinho aqui no quintal que eu nunca tinha reparado no canto dele?

O que consigo enxergar da vida hoje é que tudo é belo. Eu não tenho todas as respostas, mas sei que quanto maior a batalha maior também será a vitória.


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