Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz
Foto: Divulgação
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Membro da Comissão Eleitoral do Sinjor faz denúncias e o silêncio incrimina a entidade
Há mais de 30 anos militando ininterruptamente no jornalismo rondoniense, desconheço outro profissional do setor que, entre nós, em se tratando de estatura moral, possa ao menos igualar-se ao jornalista Ciro Pinheiro. E não se está falando aqui de algo empolado, construído com a finalidade de pairar acima dos semelhantes, prenhe de moralismos taciturnos, ancorado em princípios invariáveis e presente em posturas ensaiadas, convenientes e superficiais. Nada disso. Conquanto cearense de nascimento, se há um rondoniense que para resultar respeitado não precisa sequer insinuar ares admoestadores para sê-lo - quanto mais apelar para essa coisa feia da exigência -, este atende pelo nome de Ciro Pinheiro.
Entre as inumeráveis qualidades deste profissional – e olhe que não caberiam neste espaço – está a de não falar (escrever) sobre o que não está muito seguro. O que para um jornalista, este ser permanente tentado a dar pitaco sobre tudo e todos, sempre exalando grande autoridade em juízos terminativos, é mais do que uma qualidade: é uma virtude incomparável. Não obstante conhecer como poucos – e por dever de ofício freqüentar - as entranhas do poder local, normalmente abstem-se de palpitar sobre a política. O que nem de longe quer dizer que prefira se omitir para não se comprometer. Para um jornalista cuja setorização o desobriga de confrontos com o poder, aí está um profissional de cuja coragem não se pode duvidar.
Em plena celebração bajulativa do grosso da imprensa no início do 1º mandato do atual inquilino do Palácio Presidente Vergas, por exemplo, foi o primeiro jornalista a invectivar contra o mandatário. No antológico “Tire o chapéu, governador!”, passou-lhe um esbregue memorável, num texto ilustrado por uma foto dos governadores da região, reunidos
2 – “TIRE O CHAPÉU!”
“Pode não, governador. Aqui, vá lá que seja. O senhor está no seu terreiro. Mas na casa do outros, onde o anfitrião e demais convidados estão obedecendo ao figurino, é mais do que descortesia - é desrespeito, é desacato, é deboche. Pior é que não é o senhor em particular que está sendo impertinente, desaforado e insolente. São os rondonienses, o Estado de Rondônia, que V.Ex.ª representa, que vão estar sendo tomados por insultuosos, grosseiros e petulantes. Portanto, quando estiver na casa alheia representando quem o elegeu, tire o chapéu governador!”
Não obstante ter recortado e guardado o texto, não o encontrei de modo a reproduzi-lo “ipsis litteres”. Mas, na síntese, esse era o sentido. Convenhamos, nenhum de nós tem estatura moral para se dirigir a um governador (qualquer governador) nesse tom – imperativo. Pelo sim, pelo não, depois disso, nunca mais se teve notícia de Cassol estorvando solenidades fora de Rondônia com suas inconveniências. Repare o leitor que, tendo ocupado as mais elevadas funções neste Estado, no Executivo e no Legislativo, no setor de cerimonial, não bastasse integrar o Comitê Nacional de Cerimonial Público (CNCP), Ciro estava absolutamente seguro do que estava falando.
Outro assunto acerca do qual Ciro Pinheiro se sente inteiramente a vontade para falar com segurança diz respeito às entidades de representação da sua profissão. Não é apenas um dos fundadores do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Rondônia (Sinjor), mas um participante em todas as demandas da categoria desde que esta era organizada em simples associação. Integrou quase todas as diretorias da entidade, representou-a num sem número de fóruns país afora, participou de todas as discussões da classe aqui e alhures e a presidiu num dos momentos mais aflitivos. Nenhum de nós possui mais conhecimentos, está mais familiarizado ou tem mais autoridade do que ele para falar sobre associações de classe no setor de comunicação, particularmente sobre o Sinjor.
3 – SINJOR E CIRCO
Se foi porque estava decidida – como pareceu desde o início - a permanecer no poder a qualquer custo que a atual diretoria do Sinjor convidou Ciro Pinheiro para integrar a Comissão Eleitoral para conferir respeitabilidade a um processo de votação conduzido de qualquer jeito, acertou na mosca quanto ao primeiro propósito, mas incorreu num tremendo equívoco no que diz respeito às segundas intenções (perdão pelo trocadilho). Muito provavelmente os organizadores do simulacro de eleição confundiram alhos com bugalhos ao interpretar os modos sempre corteses, comedidos e acolhedores de Ciro Pinheiro como transigência, pusilanimidade e conivência.
Com toda certeza os que se aparelharam para promover o continuísmo no Sinjor não conheciam o Ciro Pinheiro de “Tire o Chapéu, governador!”. Por conta da inadvertência, tiveram que conhecer agora o Ciro Pinheiro de “Sinjor: O exemplo que não foi dado” - artigo publicado por vários sites de notícia da nação caripuna relatando como se deram as eleições na entidade, nesta sexta-feira (24). Definitivamente, é ler aquele texto e quedar-se convicto de que se está diante de um dos escândalos mais escabrosos de quantos os próprios jornalistas não se cansam de denunciar e clamar até aos céus por uma nesga de justiça.
O mais estarrecedor é que o artigo está na Internet desde domingo (26) e, até o momento em que estas estavam sendo batucadas, a diretoria do Sinjor não movera uma palha para romper o incriminador silêncio a que se recolheu. E afora um ou outro palpite ligeiro e infeliz, ninguém o repercutiu. Nem no site da entidade, onde tudo que há sobre o assunto é uma nota lacônica sobre a eleição do novo presidente, mas nem uma linha sobre as denúncias. Seja como for, na hipótese de que fique tudo por isso mesmo, fica-se imaginando o dia em que o presidente eleito do Sinjor estiver num desses fóruns de promoção da cidadania junto com representantes de outras entidades e alguém da platéia vociferar: “Desce daí, marmanjo! Tua eleição foi viciada!” Diante das denúncias e do tenebroso silêncio oficial que a elas se seguiu, quem ousar sair em defesa vai ser tomado como farinha do mesmo saco. E não haverá como dizer que, com nossa omissão, não fizemos por merecer.
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