POLÍTICA EM TRÊS TEMPOS
1 – TÍTULO INCOMUM
Não são muitas, mas, de todas as designações honoríficas que me foram concedidas, do prosaico “Título de Sócio Benemérito do Teatro de Amadores de Sousa” ao enfatuado “Título de Constituinte Colaborador”, da Assembléia Constituinte do Estado de Rondônia, passando por diplomas e certificados vários, entre os quais um singelo e dadivoso “Diploma de Honra ao Mérito” conferido pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Pobres do Cairi... Pois bem, de todas as distinções a mim atribuídas, nenhuma me comove mais, mexe mais com minhas vaidades e eleva mais minha auto-estima do que o título de “Fundador da Banda do Vai-Quem-Quer”. Entre muitas razões que a própria razão desconhece, possivelmente porque, de todos, é com certeza o mais original.
Primeiro porque, de longe, é o campeão da informalidade. No dia em que inventar de emoldurá-lo vou ter que encomendar um, mandar confeccionar um, imprimir um a partir do layout que me der na telha. Enfim, improvisar algo tangível de modo a, em vez de dizer a alguém que sou fundador da Banda do Vai-Quem-Quer, poder mostrar para todos que sou, de fato, isto que estou dizendo. Depois porque, com toda certeza, confere aos seus portadores a condição de o mais seleto clube do planeta – não mais que uma dezena, aí incluídos seus dois pilares fundamentais, Manoel Mendonça (Manelão) e Silvio Santos, que, sem blasfêmia alguma, estão para a Banda como Pedro e Paulo para a Igreja.
Por fim porque, de todos, absolutamente todos, esse foi o que menos fiz por merecer. Colocando as coisas nos seus devidos lugares, se há um jornalista que tem esse título por justo merecimento atende por Evamar Mesquita, hoje mais advogado, embora não tenha abandonado completamente o ofício (faz o programa “Em Cima da Hora”, da Rádio Transamazônica, conduzido por Lucivaldo Souza). Claro que vi a Banda nascer. Freqüentava, junto com o grupo fundador, os bares mais encardidos do lugar, entre os quais uma espelunca chamada “Bar do Casemiro”, onde éramos mais assíduos.
2 – NOTÍCIA VITAL
Mas foi Mesquita o responsável pelo primeiro registro da Banda em letra de forma. A Banda ainda era uma idéia produzida por cabeças alegremente encharcadas de álcoois diversos quando, em meio a mais uma ressaca, todos foram surpreendidos com a notícia anunciando a estréia da Banda no carnaval daquele ano -1981.
Conta Mesquita que tínhamos sido expulsos do “Bar do Casemiro” - Que bar! O proprietário dava-se ao luxo de expulsar os fregueses quando enchia o saco e no dia seguinte estava todo mundo lá – e fomos parar no auto-explicativo “Choppão” (com dois “pês”). Lá é que teriam sido dados os últimos retoques a uma idéia ora atribuída a Narciso Freire (que a tivera ao ler uma notícia na revista “Manchete” sobre a Banda de Ipanema) ora a Emil Gorayeb Filho, o “Emilzinho”, que vira a banda no Rio de Janeiro e enxergara a possibilidade de reproduzi-la aqui.
É uma questão bizantina, porquanto todos do grupo sabiam da existência da banda carioca, celebrizada primeiro pelo mais retumbante sucesso editorial da época – o semanário “O Pasquim”. A conversa no “Choppão” sobre a hipotética banda deve ter se desdobrado (sinceramente, estava para lá de chapado para lembrar de alguma coisa, aí incluído se estava realmente lá) em tantos detalhes que Mesquita – que enquanto atuou como repórter foi dos mais inquietos e perspicazes – farejou ali uma notícia acabada.
Para não dizer que não tive absolutamente nada a ver com o peixe, na condição de editor-chefe do jornal onde ambos trabalhávamos – “O Guaporé”, que nessa época tinha entre seus redatores Ary de Macedo, João Teixeira, Montezuma Cruz, Jorcêne Martinez, Sérgio Valente e Pedro Sá – destaquei a notícia na metade superior da página em que saiu publicada. Deu no que deu.
Mas não foi só surpresa que o anúncio da estréia causou. Protagonistas principais da notícia, Manelão e Sílvio Santos ficaram apavorados. E agora? O que é que se vai fazer para botar essa bendita banda na rua? Das duas, uma: ir aos jornais (principalmente aos concorrentes, na época “A Tribuna” e, claro, o “Alto Madeira) dar o dito pelo não dito ou pegar o boi à unha. Quer dizer, a publicidade foi vital para conferir à idéia um caráter de compromisso. A necessidade, já se disse, é a mãe da invenção. Logo Narciso Freire lembrou que um dos seus vizinhos era ninguém menos que o “Mestre Dantas”, o bravo regente da Banda de Música da Guarda Territorial - conhecida como “A Furiosa”.
3 – GRUPO FUNDADOR
Coube ao poeta Sílvio Santos (hoje jornalista “Zé Katraca”) compor o hino, ao arquiteto João Otávio Pinto (o grande “Jotapi”) criar a 1ª camiseta e a Manelão assumir a confecção de umas poucas centenas de exemplares. Naquele carnaval, a banda saiu do “Choppão” (José Bonifácio com Duque de Caxias) com algo em torno de uns 400 foliões uniformizados e ao completar o ciclo (retornava ao “Choppão” depois de subir pela Carlos Gomes até a Joaquim Nabuco, descer pela Sete, subir a Rogério Weber e retornar pela Duque, todo mundo a pé, inclusive os músicos) arrastara mais de 6 mil pessoas. E virou história.
O propósito destas tortuosas é dar conta de que, à falta de um título em papel, a partir deste ano há um registro capaz de comprovar que sou, de fato, “Fundador da Banda do Vai Quem Quer”. Neste sábado (07), por iniciativa do doutor Lúcio Guzman (que não é fundador da Banda, mas o é da Unir), os fundadores da banda foram reunidos no Clube Ferroviário para participar de um documentário. Coisa simples.
Foram gravadas imagens e colhidos depoimentos de Sílvio Santos, Evamar Mesquita, Emil Gorayeb, Narciso Freire, Maria de Nazaré (que pouca gente conhece por esse nome, mas vem a ser a “Lica”, da Receita Federal) e o locutor que vos fala, todos capitaneados pelo general da Banda, naturalmente. Completam o grupo a mulher do Emil (Eliana, em viagem), Antônio Edson (o “Nenê”, um perigo no karatê, que não pode comparecer) e Cláudio Carvalho (o “Cadoca”, já no andar de cima).