O ano de 2024 foi marcado por um período da mais longa estiagem em Rondônia. O rio Madeira, que é um dos maiores símbolos dos rondonienses, chegou a um ponto jamais visto. Porém, essa seca prolongada trouxe com ela o aumento das queimadas não apenas em nosso Estado, mas também no sul do Amazonas, no Acre e na Bolívia, que são localidades que fazem divisas e fronteira com Rondônia.
A situação ficou tão crítica devido a esses incêndios que a quantidade de fumaça na capital, fechou o aeroporto de Porto Velho por alguns dias. Durante algum tempo, os portovelhenses respiraram o pior ar do mundo. Depois desse cenário pós apocalíptico que vivemos, o que está sendo feito pelo Governo de Rondônia para que isso não volte a ocorrer?
Para responder a essas e outras perguntas, o
Rondoniaovivo conversou com o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia (CBMRO) e coordenador estadual da Defesa Civil, coronel BM Nivaldo de Azevedo. Veja a entrevista:
- O que é o cargo de coordenador estadual de Mudanças Climáticas?
R- Fui nomeado pelo governador Marcos Rocha para esse cargo, justamente, pelas mudanças que vem ocorrendo em nosso Estado. A Defesa Civil está coordenando junto aos outros secretários, as ações para mitigar os impactos nos 52 municípios. Iniciamos um trabalho, em dezembro de 2023, quando o governador decretou emergência, e foi criado o comitê e começamos a atuar. Em 2024 chegamos a formar mais 164 servidores dos 52 municípios, sendo que desses, 44 municípios criaram suas defesas civis, sendo que 22 decretaram situação de emergência para crise hídrica e 26 decretaram situação de emergência para incêndios florestais. Todos receberam recursos do Governo Federal e nós ajudamos a prestarem contas desses recursos.
- Como pretendem atuar em 2025?
R- Vamos dar continuidade a esse trabalho junto aos municípios. Já formamos 99 novos servidores em 51 municípios. Infelizmente, teve um município que o prefeito recusou a ajuda do governo para esse combate às mudanças climáticas. Mas essa situação, já foi levada aos poderes que nos fiscalizam. Formamos também para esse ano, 900 brigadistas que podem ser contratados pelos municípios, pelo Estado ou pela União. Vamos contratar 262 brigadistas para atuarem conosco nos perímetros urbanos. O Governo Federal destina recursos quando é decretado emergência, que podem ser empregados na contratação desses profissionais. Eles já estão prontos nos municípios. Podem também ser contratados pelo IcmBio e Ibama, para combate a incêndios nas vegetações e não em edificações.
- O que o senhor diz para pessoas quando afirmam que mudanças climáticas não existem?
R – Se nós tivéssemos falando que o rio Madeira é o maior manancial de Rondônia; o segundo da região Norte, perdendo apenas para o rio Solimões; o quarto maior do Brasil e que em 2024 ele chegou a ficar com um filete de água de 60m a 80m de cumprimento em alguns trechos, onde era possível atravessar andando. Temos também registros de poços artesianos com 200 metros, no estado de Rondônia, que secaram. Assim, o que tenho a dizer para essas pessoas é que temos que nos unirmos e cada um fazer a sua parte para preservamos a nossa natureza, a nossa fauna, pois, são importantes para a nossa sobrevivência.
- Existem casos em que as pessoas estão colocando fogo de propósito para causarem incêndios?
R- Nos combates a incêndio no perímetro urbano, a nossa guarnição de serviço é acionada pelo nosso centro de operações, o Ciop (Centro Integrado de Operações Policiais), para se deslocar a determinado ponto, devido ao fogo em terreno baldio. O pessoal vai até o local, acaba com o foco de incêndio, umedece aquele ponto com bastante água e vai embora para reabastecer a viatura. Cinco ou dez minutos depois somos chamados novamente para o mesmo local, pois se reiniciou o fogo. Quando chegamos lá, observamos que o fogo se reiniciou bem distante do local onde havia sido combatido. Ou seja, as pessoas fazem fogo e que pode passar para as residências. Já no interior, como em Costa Marques, nossa equipe estava combatendo o incêndio florestal e algumas pessoas tocavam fogo na nossa retaguarda, ainda bem que a floresta é pobre em oxigênio, assim o fogo não se alastra facilmente. É muita maldade para queimar os nossos profissionais.
- Existem outros absurdos praticados contra as equipes de brigadistas e bombeiros?
R- Tivemos episódios como na região do Parque Estadual de Guajará-Mirim, onde dispararam armas de fogo contra nossa equipe. Tivemos também casos de pessoas em motocicletas, com garrafas pets cheias de gasolina espalhando o combustível naquelas trilhas, que eles conhecem bem. Mais na frente, eles colocam fogo e vão para outras regiões. São crimes!
-Onde ocorrem a maioria dos incêndios e qual o motivo?
R- A maioria dos incêndios ocorrem em áreas públicas, em reservas. Colocam fogo, eliminam a vegetação e depois, alegam que é uma área antropizada e que para o governo recuperar será um gasto muito grande. Então, eles pleiteiam ali a permanência naquela localidade, isso são as invasões.
- Nesse cenário de mudanças climáticas, o senhor deixa algum outro alerta para os rondonienses?
R- Tem um estudo da Agência Nacional de Águas (ANA), publicada em 2024, diz que nos próximos 16 anos, a Região Norte vai diminuir em 40% a quantidade de água. Isso até 2040. É preocupante!
NOTA DA REDAÇÃO:
Para reduzir o impacto e garantir os fluxos de água existentes e diminuir o efeito da seca na Amazônia, estudos indicam a necessidade urgente de combater o desmatamento e incêndios florestais. Isso pode ser feito com o uso de novas técnicas agrícolas e a motorização da agricultura para a recuperar de áreas degradadas, transformando em áreas produtivas.
Outras ações urgentes e importantes inclui o uso racional da água, recuperação de nascentes e manaciais, recomposição de matas ciliares e polticas de longo prazo voltadas para a sustentabilidade.
Ações governamentais e individuais são essenciais para a proteção do bioma.