ABANDONO: Guajará-Mirim, uma cidade esquecida pelo Poder Público

Rondoniaovivo foi até o município e viu que a cidade que já foi polo de turismo e compras, hoje está malcuidada

ABANDONO: Guajará-Mirim, uma cidade esquecida pelo Poder Público

Foto: Tempos áureos de Guajará-Mirim parece que ficaram em um passado bem distante - Foto: Felipe Corona

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Uma das cidades mais antigas de Rondônia e com maior área verde preservada, Guajará-Mirim (que fica a 350 quilômetros da capital), também conhecida como a Pérola do Mamoré, hoje nem lembra aquele município que foi uma das maiores áreas de livre comércio da região Norte do país, disputando cada dólar e real dos rondonienses e visitantes que compravam ali ou atravessavam o Rio Mamoré rumo a Guayaramerin, na Bolívia. 
 
O Rondoniaovivo esteve recentemente na cidade de pouco mais de 45 mil habitantes e verificou nas ruas pouca movimentação de sacoleiros e muitas lojas fechadas. Seja do lado brasileiro ou boliviano. E justamente o que afasta os consumidores é o Dólar quase na casa dos R$ 5 reais e o Real desvalorizado.
 
“Os preços subiram muito. Está menos pior comprar do lado brasileiro, mas ainda muito caro. Da última vez que vim aqui, dois anos atrás, o perfume que sempre compro custava 130 reais. Hoje, comprei a 230. Comprei outros a pedido dos amigos e muitos rótulos estão custando mais que o dobro”, lamentou Bianca Andrade, portovelhense que foi passar o final de semana em Guajará-Mirim e comprou alguns produtos em uma loja famosa.
 
 Comércio de Guayaramerin está parado, com pouquíssimos brasileiros se arriscando a fazer compras com o Dólar nas alturas - Foto: Felipe Corona/Rondoniaovivo
 
No lado boliviano, quem está fazendo a festa no Brasil são os “patrícios”. Com a moeda quase pareada com o Real são eles que estão enchendo as sacolas. Quando a reportagem do Rondoniaovivo esteve em Guayaramerin, o câmbio estava R$ 1 por Bs 1,32 para compra e Bs 1,42 para venda. 
 
Ou seja: o brasileiro que levar 100 reais para o outro lado, consegue trocar por 132 bolivianos. Já ao vender os mesmos 132 bolivianos, consegue apenas R$ 92,95 de volta. 
 
“Há três ou quatro anos atrás, os brasileiros faziam a festa por aqui. Compravam muito e consumiam muito conosco. Agora, com nossa moeda forte, estamos vendo muito mais bolivianos saindo com as famílias para se divertir”, afirmou Juan Pablo de la Cruz, garçom de um pequeno resort que fica a cerca de 5 quilômetros do Centro de Guayaramerin.
 
No lado brasileiro, a economia local ainda resiste por conta de alguns atacadistas que têm sede no município - Foto: Felipe Corona/Rondoniaovivo
 
Em Guajará-Mirim e na vizinha boliviana, o impacto da pandemia parece ter sido bem forte. Várias lojas fechadas, com placa de venda ou aluguel. Apenas grandes empresas atacadistas resistem, além de outros negócios que vêm resistindo bravamente ao pouco movimento. 
 
“Hoje, a economia de Guajará tem como base o funcionalismo público, seja municipal, estadual ou federal. Se não fossem os contracheques, não sei em qual situação estaríamos”, falou Bruna Medeiros, gerente de um pequeno restaurante na Rua 15 de Novembro, uma das principais vias do município.
 
Infraestrutura
 
Não muito distante da Rua 15 de Novembro, indo para os bairros mais populares, três esquinas depois, na Rua Dr. Lewerger, carros, motos e até bicicletas têm que fazer várias manobras arriscadas para desviar de buracos e lama empoçada. 
 
Segundo os moradores dessa via e da Princesa Isabel, por exemplo, a prefeitura dá pouca atenção para essa região, que convive há muito tempo com as crateras e a falta de manutenção do pouco asfalto que ainda resiste na rua.
 
“Vocês estão é numa época boa. Ficou só a poeira agora. Mas é perigoso a gente ver os carros, motos, caminhões desviando dos buracos. Vira e mexe tem um susto ou até acidentes. A sorte é que as pessoas não se ferem muito, mas tem os prejuízos. E quem paga são os envolvidos na batida né?”, explica dona Maria das Graças Ferreira, de 62 anos, nascida e criada em Guajará-Mirim.
 
Um dos vários protestos feitos pelos moradores de Guajará-Mirim envolveu até o "plantio" de bananeiras nas ruas - Foto: Arquivo Pessoal
 
Uma obra que nunca avança e ainda está nos sonhos dos guajaramirenses é o novo Hospital Regional, que começou a ser construído ainda em 2013, no governo Confúcio Moura.O prédio já gastou 13 milhões de reais, mas segundo reportagem do Rondoniaovivo de novembro de 2021, serão necessários outros R$ 4 milhões. E sem previsão de entrega.  
 
Ar-condicionado do novo Hospital Regional de Guajará-Mirim já está instalado há cinco anos e não há prazo para uso - Foto: Arquivo Pessoal
 
 
Enquanto isso, com o atual Hospital Regional caindo aos pedaços e sob responsabilidade da prefeitura, a população prefere enfrentar 50 quilômetros na BR-425 até a vizinha Nova Mamoré para receber um atendimento digno e rápido.
 
Brigas
 
Muito dessa falta de zelo é a instabilidade política que a cidade vive há alguns anos. Os últimos capítulos dessa tragédia regional vêm sendo protagonizada pela prefeita Raíssa Paes com participação especial do esposo, Antônio Bento. Segundo informações que correm nos bastidores políticos e entre a população, é o marido quem, de fato, manda e desmanda na Prefeitura de Guajará-Mirim, com uma Câmara de Vereadores submissa ao casal.
 
 O casal Raíssa Paes e Antônio Bento comanda a cidade com mão de ferro e com uma Câmara de Vereadores que pouco combate os problemas vividos pela população - Foto: Divulgação
 
Recentemente, por exemplo, enquanto a saúde do município não tem dipirona para ser distribuída para a população, a prefeita vai gastar R$ 70 mil reais com um show gospel com Régis Danese no Dia do Evangélico, 18 de junho. 
 
Em fevereiro desse ano, a própria Câmara de Vereadores recebeu um pedido de destituição de Raíssa Paes, que foi rejeitado pelos parlamentares. Os requerimentos feitos por dois moradores de Guajará-Mirim apontavam irregularidades na saúde (que teve oito secretários, incluindo um que estava usando tornozeleira eletrônica) e a falta de investimentos de R$ 2 milhões e 200 mil. 
 
Um dos pedidos de destituição feito por uma moradora da cidade, mas que foi rejeitado pelos vereadores
 
De acordo com algumas fontes locais que conversaram com o Rondoniaovivo, as campanhas políticas ainda são feitas de forma antiga, com grande rivalidade entre diversos grupos do município. 
 
“Minha família ainda tem muita influência em Guajará. Como ocupamos vários cargos importantes aqui ou em nível estadual e federal, as pessoas querem saber com quem vamos. A gente analisa, negocia e escolhe. Quem a gente apoia, sempre vence as eleições”, pontuou um ex-assessor parlamentar que trabalhou por anos com um senador rondoniense. 
 
“Justamente essas brigas e disputa por mais poder é que prejudicam e deixam a população com falta de serviços básicos em diversos setores, em uma cidade que a gente sente, que poderia estar em uma situação melhor, mais bem cuidada, com infraestrutura melhor”, analisou uma figura pública com trânsito livre tanto no Governo do Estado quanto na Assembleia Legislativa.
 
Apesar de toda a situação crítica de Guajará-Mirim, um dos símbolos que resiste imponente às turbulências da cidade e a bela catedral de Guajará-Mirim, de Nossa Senhora do Seringueiro - Foto: Felipe Corona/Rondoniaovivo

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