Meu lamento pelas famílias de lá e de cá – Por Valdemir Caldas

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Foto: Divulgação

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É próprio do ser humano alimentar ilusões. É bem verdade que, sem sonho, o homem não supera a si mesmo, nem logra avançar em suas conquistas. Alguns, é claro, confundem sonho com ambição, da mesma forma como não fazem distinção entre o ser e o ter.
 
O Brasil é mesmo um país movido a galões de otimismo. Bastou que a polícia subisse os morros do Rio de Janeiro, afugentasse alguns traficantes e enjaulasse outros para que algumas pessoas acreditassem que o império do tráfico se tinha desmoronado e a ordem social, há muito comprometida, na outrora cidade maravilhosa, agora, sim, estava restabelecida.
 
No fundo, tudo o que tem sido mostrado pela TV não passa de pirotecnia, de jogo de cena para impressionar europeu desavisado. Afinal, as olimpíadas estão chegando e é preciso mostrar ao mundo que somos auto-suficientes e capazes de curar nossas próprias mazelas sociais, sem, contudo, carecer da ajudar de ninguém. Será?
 
Logo, as polícias retornarão aos quartéis e as imagens de televisão, mostrando traficantes em fuga e a apreensão de armas e drogas, serão apenas lembranças. Aí, então, os bandidos voltarão a operar tranquilamente. Sempre foi assim. E assim sempre será. Simplesmente porque o tráfico tem não somente padrinhos influentes nas mais diferentes esferas de poder, como, principalmente, clientela, e, de quebra, ainda conta com a maleabilidade da nossa legislação.
 
O tráfico só será nocauteado, quando houver leis rigorosas e punição exemplar aos que delinqüem. Enquanto isso não acontecer, os marginais de todos os matizes continuarão deitando e rolando, tripudiando sobre os direitos da sociedade e sorrindo da cara das autoridades policiais e judicantes.
 
Até porque este é o país na impunidade consentida. A Constituição Federal assegura ao jovem de 16 anos o mesmo direito que tem o cidadão de 40 anos de escolher o presidente da República, por exemplo, mas, no momento em que ele pega uma arma de fogo, invade uma residência e aterroriza pessoas indefesas, ou, então, mete uma bala na cabeça de alguém, o garotão passa (quando acontece!) uma temporada numa dessas instituições (a maioria delas criada mais para acomodar apadrinhados políticos do que mesmo para recuperar menores infratores), depois sai e volta a praticar atrocidades.
 
Aí, quando a sociedade, cansada de tanta desordem, resolve fazer justiça com as próprias mãos ou a polícia desce o relho nos costados do delinqüente, logo aparecem os defensores dos direitos humanos e entidades religiosas tentando livrar a pele do “coitadinho”. Por isso, meu lamento pelas famílias do Rio e pelas de cá, também.
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