No dia em que pernoitou em RO, Guevara foi visto no Chile, no MT, no Peru e no Acre - Por Paulo Queiroz

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No dia em que pernoitou em RO, Guevara foi visto no Chile, no MT, no Peru e no Acre - Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

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1 – CHE, O UBÍQUO Ele, coitado, com toda certeza morreu sem saber. Mas agora, graças - entre outros tantos – à produtora de vídeos “DGT Filmes”, que anda por aqui realizando um documentário intitulado “Caçambada Cutuba: O Atentado de Porto Velho e a Última Visita de Che Guevara ao Brasil”, fica-se sabendo que o revolucionário argentino que empresta seu nome à obra possuía, entre muitos outros (vá o leitor se acostumando com a expressão, porquanto se está tratando de gente próxima ao surreal), o dom da ubiqüidade. Que, como ensinam os dicionários, consiste na faculdade de o indivíduo estar física e concomitantemente presente em vários lugares. Para se ter uma idéia do quanto isso é extraordinário, o leitor pode até ter uma impressão equivocada sobre essa coisa, mas nem aos espíritos é dado o dom da ubiqüidade. Conforme ensinam os manuais da religião, “um espírito não pode dividir-se, ou existir em muitos pontos ao mesmo tempo. Não pode haver divisão de um mesmo espírito; mas cada um é um centro que irradia para diversos lados. Isso é que faz parecer estar um espírito em muitos lugares ao mesmo tempo”. Mas a força de irradiação depende do grau de pureza de cada um, adverte-se. Enfim, se para um espírito a coisa já não é fácil, imagine para um corpo humano, de resto, morada chula e impura do espírito. Pelo visto, no entanto, não o corpo do Che. Que enquanto era identificado por uma suposta amiga de infância numa rua de Santiago do Chile, era, ao mesmo tempo, hóspede da família Baldrán nos arredores de Córdoba (Argentina), alugava um barco (o “Vitória dos Palmares”) em Corumbá (aonde chegara de trem) para prosseguir viagem rumo a Bolívia, era reconhecido enquanto almoçava no restaurante “La Tunupa” em Pisco (Peru) antes de seguir viagem para La Paz, passava desapercebido por um barbeiro acreano que lhe aparou as madeixas em Rio Branco e, por aqui, pernoitava em Porto Velho sob a proteção do Partido Comunista para, na madrugada seguinte, seguir de trem para a fronteira boliviana. 2 – BARBA NO ACRE Tudo isso, como se vê, na véspera de entrar em terras da Bolívia, onde seria executado meses depois de instalar ali um foco guerrilheiro. Cada uma dessas histórias, cujos cenários foram aí citados, é narrada com uma riqueza de detalhes para Dostoievski nenhum botar defeito. Como, até onde a vista alcança, depois de entrar em território boliviano o companheiro Ernesto só saiu de lá morto – mesmo assim, no interior de um esquife com o que dele restara 30 anos depois do seu fuzilamento -, antes de chegar a La Paz (onde há um registro inequívoco no livro do Hotel Copacabana) o comandante Ernesto Guevara de la Serna, o “Che”, adquirira o dom da ubiqüidade. Pois não! No que nos diz respeito, na “remota” hipótese de alguém ter inventado essa história com propósitos algo insondáveis, saiba-se que o enredo acreano dá de goleada na lorota (êpa) caripuna – de que oportunamente esta coluna irá se ocupar (ora se não). Por enquanto, inteiremo-nos acerca das peripécias do Che em território acreano, segundo relato de uma das filhas do profissional que fez a barba do guerrilheiro, a advogada aposentada Maria Ferreira Martins, depoimento colhido pelo jornalista Élson Martins (muito bom jornalista, por sinal). “João Barbeiro, como ficou conhecido João Martins Xavier, um velho comunista cearense estabelecido em Rio Branco desde 1946, recebeu, ao anoitecer da véspera em que Guevara entrou na Bolívia, a visita de um integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que lhe pediu para fazer a barba de um estranho. Achou esquisito quando ele, sem pedir a sua autorização, fechou a porta e a janela do pequeno estabelecimento. Não era essa a rotina da barbearia!” Barba feita, o cliente agradeceu com um sorriso e gestos e desceu a escadinha de três degraus, de madeira, desaparecendo na escuridão da rua da frente. O amigo (que está vivo, mas não autorizou a citação de seu nome) então voltou e cochichou ao ouvido de João Barbeiro: Você acabou de fazer a barba do comandante Che Guevara.” 3 – MAIS LOROTAS “Maria Martins comenta que o pai, com idade avançada na época, poderia ter morrido de emoção porque admirava o comandante Che Guevara e falava o tempo todo de sua luta como exemplo. Ao saber a identidade do cliente, tremeu e quase desmaiou.” Ficou nisso? Umas cordas! Não se sabe por artes de que outros dons atribuídos ao Che, mas o fato é que, a se dar crédito aos relatos acreanos, o guerrilheiro pintou e bordou no Estado vizinho. “Mais duas pessoas, o líder seringueiro Chico Mendes e o Frei Peregrino, irmão do folclórico Padre José que foi personagem da minissérie ‘Amazônia’ da TV Globo, rodada em 2007 - também teriam cruzado com Che Guevara na mesma época. Numa entrevista que concedeu ao sociólogo Pedro Vicente, Chico Mendes narra seu encontro:” “Eu nunca tinha visto seu retrato (do Che). Caminhando pela BR-317 e, cansado, parei no bar no entroncamento, a 12 quilômetros de Xapuri. Naquele instante chegou um cidadão vindo das bandas de Rio Branco. Perguntou se eu não gostaria de acompanhá-lo até os seringais da Bolívia, pois não tinha costume de caminhar na selva. Não aceitei o convite. Alguns meses depois, em Xapuri, passei diante da delegacia e um retrato me chamou atenção. Dizia que Che se encontrava em território boliviano para organizar o terror na região. Fiquei abalado. Lembrei-me que havia visto e conversado com aquela pessoa no entroncamento. Tempos depois, ao ler o livro sobre a guerrilha do Che na Bolívia reafirmei a convicção de que cruzei com ele. Posso afirmar com certeza, era o Che!” “O suposto encontro do Frei Peregrino com Che foi narrado por seu irmão, Padre José (o da minissérie), famoso por suas histórias fantasiosas. Num artigo que publicou no semanário ‘O Jornal de Rio Branco’, em 1980, José informa que Che fez indagações a Peregrino sobre como se deslocar para Santa Rosa, no alto rio Abunã. O frei indicou alguém que possuía canoa motorizada e que levou o comandante da Revolução Cubana ao local onde o aguardava um avião”. E la nave va!
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