*O pesquisador titular do departamento de Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ecólogo Philip Fearnside (foto), fez um alerta em seu mais recente trabalho de pesquisa acerca dos impactos do cultivo da soja na Amazônia. Segundo ele, o sistema de licenciamento ambiental vigente hoje no Amazonas, para a legalização de áreas plantadas, não representa nenhum impedimento contra o poderio de “lobby” dos megaprodutores de soja que estão de olho na floresta. O estudo é intitulado “O cultivo da soja como ameaça para o meio ambiente na Amazônia Brasileira” e foi publicado pelo Centro para Ciência de Biodiversidade Aplicada (Washigton/DC).
*Na pesquisa, Fearnside chama a atenção para o fato de que, na hora de lançar grandes projetos na Amazônia, a tomada de decisão dá pouco peso aos impactos da soja no desmatamento. “Até mesmo quando os problemas são evidentes, o sistema de licenciamento não representa nenhum impedimento para o poder de lobby”, enfatiza o pesquisador, ressaltando as conseqüências do que ele denomina de “efeito de arrasto”. “Este refere-se à implantação de atividades destrutivas, tais como a pecuária e a exploração madeireira, aceleradas por meio da infra-estrutura construída para a soja”, diz Fearnside, referindo-se ao plantio na Amazônia.
*No contexto da tomada de decisão para o licenciamento do cultivo da soja em regiões florestais, o pesquisador ressalta que, assim como outros produtos comercializados em mercados internacionais, na hora da venda de grãos não se estabelece uma ligação entre a economia global e atividades na fronteira do desmatamento. Mas ela existe, segundo Fearnside. “A soja movimenta uma enorme cadeia de eventos condutores da destruição de vastas áreas de hábitats, além da área plantada”. E sobre a fragilidade do sistema de licenciamento ambiental, o pesquisador reitera que “os produtores de soja (na Amazônia) foram mais efetivos que os demais na captura de subsídios do governo, acelerando em muito o avanço da cultura”.
*Sementes transgênicas
*De acordo com Fearnside, as sementes transgênicas de soja representam um elemento adicional ao avanço potencial da cultura na Amazônia porque “baixam o custo de produção”. E complementa. “É provável que os limites para o avanço da soja venham da saturação de mercados internacionais”.