Renúncia de presidente da Bolívia não fecha fronteira em Guajará-Mirim

Renúncia de presidente da Bolívia não fecha fronteira em Guajará-Mirim

Renúncia de presidente da Bolívia não fecha fronteira em Guajará-Mirim

Foto: Divulgação

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*Um ano e quatro meses depois da maior crise social e institucional de sua história democrática, Bolívia volta a se situar à beira do abismo com a renúncia do presidente Carlos Mesa (foto), cujas conseqüências são praticamente imprevisíveis. Mesmo com essa crise política, as fronteiras não foram fechadas, e em Guajará-Mirim a situação continua normal para quem cruza o rio em direção a Guayaramérin. Para os brasileiros a situação está normal até o momento.

*Surpreendendo a todos, o governante tornou pública sua determinação no final de um discurso à nação no qual acusou aos sindicatos e outros setores de impedir o desenvolvimento econômico nacional, necessário para sair de uma grave crise que arrasta o país; e de não deixá-lo governar em paz.

*Apesar de gozar de uns primeiros meses de calma, a gestão de Mesa esteve marcada desde o começo pelas dificuldades próprias de um governo que nasceu como filho não desejado, acidentalmente, como a única saída possível a uma situação conjuntural e estrutural extremamente frágil.

*Na qualidade de vice-presidente, Mesa sucedeu em 17 de outubro de 2003 seu amigo e colaborador Gonzalo Sánchez de Lozada, que renunciou ao não poder controlar uma onda de protestos nas ruas, reflexo do repúdio popular à forma de governar dos partidos tradicionais, desde o restabelecimento da democracia em 1982.

*Um prestígio forjado em seu trabalho como mordaz comentarista televisivo e como historiador foi a única carta de apresentação do novo governante, que ao assumir a presidência tinha uma popularidade superior a 80%.

*No entanto, esse respaldo popular e a tranqüilidade nas ruas, forçada pela rejeição à violência dos cidadãos, foram diminuindo de forma progressiva ao ver-se superado o governante por suas próprias promessas.

*A primeira delas, um referendo sobre as reservas de gás do país, foi cumprida em julho de 2004, mas, apesar dos resultados favoráveis aos planos do governante, acabou transformando-se em uma faca de dois gumes por sua ambigüidade e pelas ânsias nacionalizadoras de alguns partidos, na hora de fazer uma nova lei petrolífera.

*A posição sobre este ponto do Movimento Ao Socialismo, do líder cocaleiro Evo Morales, que em algum momento chegou a atuar como aliado do Mesa, foi um dos motivos apontados pelo governante para renunciar.

*O segundo compromisso, a convocação de uma Assembléia Constituinte, topou desta vez com a posição do departamento de Santa Cruz, no oriente tropical, que antepôs a exigência de conseguir sua autonomia regional a esse plano de voltar a fundar o país.

*O movimento autonomista, liderado por empresários, foi visto por alguns analistas como uma estratégia da antiga classe dominante, deslocada com a queda de Sánchez de Lozada, para evitar o processo constituinte e a conseqüente perda dos privilégios dos quais gozou historicamente.

*Esses grupos são identificados com os partidos que têm voto no Congresso, a outra grande frente de batalha de Mesa, pois, por sua origem independente, carece de formação política e representação parlamentar.

*Para batalhar com semelhantes empecilhos, o chefe do Estado boliviano teve que lançar mão de uma gama de recursos que se mostraram insuficientes para governar uma nação na qual 73% da população é pobre e 62% se declara indígena, quando os dirigentes sempre pertenceram à elite crioula.

*Além de seu prestígio e fama de honradez, se valeu de um discurso didático para chegar aos setores menos poderosos com uma grande clareza expositiva e uma notável capacidade de síntese.

*No entanto, essa virtude, que, segundo ele, foi reconhecida pelas "maiorias silenciosas", não foi acompanhada da habilidade política necessária para negociar com as "minorias radicais" que forçaram sua renúncia.

*Segundo seus detratores, também não o favoreceu sua teimosia, que o levou a se chocar com outras autoridades, incluindo as Forças Armadas; nem seu convencimento de se acreditar sempre em posse da verdade, com a crença que sua capacidade de análise histórica era suficiente para governar uma nação.

*Sua renúncia, que deverá ser ratificada pelo Congresso, afunda a Bolívia em uma grave incerteza, quase maior que a vivida no fatídico outubro de 2003.

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