CRÍTICA/TEATRO - Nelson Rodrigues e a castigada nudez nossa de cada dia – Por Humberto Oliveira

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Foto: Divulgação

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Sexo, inveja, traição, desejo e culpa são alguns dos ingredientes que compõem o plot dramático das 17 peças do dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues. Escritas entre 1941, ano de sua estréia como dramaturgo com A Mulher sem pecado, e 1979, ano de estréia da última obra, A Serpente, um ano antes de sua morte.  
 
Autor de obras marcantes como a peça, Vestido de Noiva (1943), considerada pelos estudiosos como a peça inaugural do moderno teatro brasileiro, Nelson Rodrigues há algum tempo está sendo reverenciado também por diretores e atores, assim como pelo público de Porto Velho, que sabendo que uma peça sua está em cartaz, corre para assistir e lotar os parcos locais onde um grupo de abnegados encena, seja sob a batuta de Jória Lima, que nos presenteou com uma ótima encenação de Álbum de Família, ou por meio da visão do jovem professor e diretor, Júnior Lopes, do Departamento de Artes da UNIR, com a adaptação de Toda nudez será castigada, que recebeu o título – A nudez nossa de cada dia – levada à cena por alunos da Universidade Federal de Rondônia, que formam a Companhia Peripécias.
 
Desde o contato inicial com os atores que fizeram a primeira apresentação e até a versão que assisti na noite de domingo (25) no Teatro Um do SESC, houve realmente um evolução. A proposta, no entanto, continua a mesma, a construção do texto a partir do estudo do universo de Nelson Rodrigues, e inserção de poemas de Baudelaire, Hilda Hilst, Eder Rodrigues, contos de fadas e textos criados pelos próprios atores no processo de montagem. A meu ver o texto rodrigueano já é bastante contundente, o que torna desnecessária e arbitrária o enxerto de falas, que resultam em sua maioria na quebra do ritmo da peça.
 
Outro detalhe que merece ser discutido é a abertura, por demais demorada, aquela correria, que mais parece um exercício de oficina teatral. A música incessante, que muitas vezes dificulta que o público ouça as falas dos atores. Verdade seja dita. Os atores realmente se esforçam para transmitir a verdade do texto. Mas nem todos, infelizmente não conseguem empatia com o público. Os gritos excessivos de Serginho, sempre à beira de um ataque histérico e as tias, que pontuam toda a peça, devido a pouca experiência de suas interpretes, é visível o esforço do diretor para arrumá-las em cena.
 
Elenco numeroso é um problema. E com A nudez nossa de cada dia não acontece diferente. O excesso de música e dança serve apenas para ressaltar que poucos têm o que dizer. Cito como exemplo o ator que se despe no início do espetáculo, e aquele trio formado por uma moça e dois rapazes, cuja participação não ajuda em absolutamente nada no desenrolar da trama. Mas valeu o esforço e a coragem de pisar no palco e encarar a platéia.
 
Em meu ponto de vista o encenador deveria extrair os improvisos, enxertos de textos e poesias, assim como as falas que não fazem parte do texto original e recomeçar. Para que uma adaptação realmente funcione é necessário mudanças sejam coerentes. No início da peça, isso depois do interminável número de dança, Geni, nesta versão vivida com muita garra por Téo Nascimento, fala para Herculano que ali quem lhe fala é uma morta, seguindo desta forma o texto original. No entanto, na cena final quando acontece o confronto entre Patrício, defendido com talento pelo diretor do espetáculo, Junior Lopes, fazendo uma substituição, Geni e Herculano, como num filme hollywoodiano percebe-se o estranho erro de continuidade. Explico. Se durante a trama, aos poucos o público toma conhecimento dos planos de vingança de Patrício, e aquela altura da peça, Geni já está morta, então ela não deveria participar da cena que cito acima. Simplesmente não fica claro o porquê da fala “Quem te fala é uma morta”. Quem conhece a peça sabe que, Geni comete suicídio ao descobrir que Serginho fugiu com o ladrão boliviano e por meio de uma gravação conta a Herculano o que aconteceu. E quanto a Patrício, ele morre no final da peça? Não ficou claro.
 
No elenco de A nudez nossa de cada dia, além de Junior Lopes e Téo Nascimento, participam Danielle Xavier, Flávia Veppo, Helder Monteiro, Macxiwaldo Paiva, Raoní Amaral, Sinara Santana, Thallysson Paiva, Walterlina Brasil.
 
Vale frisar que mesmo com os altos e baixos da encenação, quem ganha é o público que infelizmente não tem muitas oportunidades de assistir ao Teatro rodrigueano, seja amador ou profissional. Fazer teatro, e ainda mais em Porto Velho, e encenando Nelson Rodrigues, realmente não é nada fácil e devemos exaltar a coragem e disposição destes universitários, que conseguiram trazer à cena, uma das mais comentadas e polêmicas obras teatrais deste importante dramaturgo. Oxalá esta disposição contamine os demais grupos teatrais da nossa capital e até mesmo de todo o Estado.
 
Humberto Oliveira é jornalista.
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