Crônica do Jornalista Hamilton Lima* - Tropicália

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Foto: Divulgação

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Sob um céu de 40 graus, sob a latitude de quase 75 ferve o crânio do homem sentado à sombra de um jequitibá. Abstrato. Só em seus sonho embalado pelo chá de beladona importada de um canto qualquer.

Sentado sob a sombra de uma árvore cujo nome desconhece numa praça da conhecida cidade de Porto Velho observa as seis árvores mortas que enfeitam o logradouro, talvez por incompetência das autoridades, talvez por preguiça. Um pé de ipê amarelo em algum lugar fala com ele. Fala, responde, sorri. Perto do ginásio Cláudio Coutinho. Passam estudantes do Carmela Dutra como flores arrastadas por um vento mais forte.

Um dia qualquer de calor, digno do senhor Equador, a linha que os ingleses cientistas inventaram para cortar o mundo em Norte e Sul, estratificado nos conceitos de sub e desenvolvidos. Um conceito. Consistente por enquanto.

A beladona misturada com um alcalóide da Amazônia faz efeito e o homem, cujo crânio transpira idéias se encharca com o suor carregado de lágrimas. Chora pelo cérebro, pela fronte levemente suja de areia carregada pelo vento.

Seis árvores mortas, seis milhões de judeus mortos, o homem de seis milhões de dólares. Tudo se encaixa por um momento. Seis formigas arrastando uma mosca morta.

Os sonhos que zelam pela praça desconhecida dos homens da prefeitura. Seis saias sacolejantes mostrando calcinhas brancas numa calçada mais elevada.

Ninfetas? Sonho de um ex-adolescente de 21 anos, seis vezes reprovado na última série do segundo grau. Sem professores que quisessem ouvir suas mentiras setenta vezes sete.

Sete de setembro, seis de agosto, sete de julho. Em algum lugar um homem planta mandioca com uma índia perdida. A praça não questiona.

O ipê pergunta qual é o problema. ?As árvores mortas?, gritam bem alto. Quero outras árvores. Os judeus ninguém planta, mas o homem quer árvores.

Um funcionário da prefeitura passa perto e pergunta se não tem nada que fazer. Sabe que o sistema pode ferir, erradicar.

Levanta, dá adeus ao ipê e em pé contempla pela última vez as árvores mortas que enfeitam a praça. A praça dos seis cadáveres. E do Aluízio Ferreira.

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