*Os partidos de oposição entregaram nesta segunda-feira uma carta ao presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), pedindo que ele se afaste da função até que termine a investigação sobre a denúncia de que recebeu propina de um empresário. O documento foi divulgado pelo líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA). Apela-se a Severino o compromisso de que "agiria na condição de magistrado" diante de questões que dividiam a Casa e exigiam atenção por parte dos parlamentares.
*"É novamente hora de demonstrar seu compromisso com a imparcialidade. A nenhum magistrado é dado comandar um procedimento no qual possui interesse direto. Em nome do que representa o Parlamento brasileiro, solicitamos a Vossa Excelência que se afaste da Presidência da Câmara dos Deputados até que as denúncias trazidas a público durante o fim de semana sejam apuradas com rigor e isenção", diz o texto da carta entregue a Severino.
*Líderes e presidentes dos partidos de oposição passaram cerca de três horas reunidos nesta segunda para discutir a situação do presidente da Câmara. Além de entregar a carta, a oposição propõe a formação de uma comissão composta por vários partidos para acompanhar as investigações em várias instâncias. Entre elas, a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União (TCU).
*O líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP), disse que Severino "perdeu a autoridade moral e política para dirigir a Câmara", mas, como não existe no regimento da Casa a figura do pedido de afastamento, Goldman defendeu o auto-afastamento do presidente. O vice-líder do PPS, deputado Raul Jungmann (PE), informou que seu partido também é favorável ao auto-afastamento, para que a investigação sobre o assunto seja "independente e rápida".
*Já o deputado Fernando Gabeira, que discutiu com Severino na semana passada e também participou da reunião, sugeriu representação contra Severino no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar. Caso Severino se recuse a sair, os partidos devem pedir a cassação de seu mandato.
*O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), disse que o objetivo da reunião foi criar um movimento de defesa da imagem da Câmara.
*- Vamos fazer uma manifestação pública em defesa da Câmara dos Deputados, que não pode mais continuar sendo comandada pelo deputado Severino Cavalcanti - disse Bornhausen.
*Ele explicou:
* - Nosso objetivo é defender a imagem da Câmara dos Deputados. Severino tem de entender que precisa se afastar para que as acusações que envolvem o nome dele possam ser feitas de forma correta e independente.
*No domingo, o presidente da Câmara divulgou nota informando que determinou a abertura de sindicância na Casa para apurar as denúncias e que enviou o caso para a Corregedoria. O titular da Corregedoria da Câmara é o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), considerado homem de confiança de Severino e chamado por ele de "meu filho".
*Reportagem da revista "Veja" afirma que Severino recebeu propinas mensais de R$ 10 mil entre março e novembro de 2003, pagas por Sebastião Augusto Buani, que explora atualmente um dos oito restaurantes da Câmara. A revista diz que ele também recebeu de Buani outros R$ 20 mil pela renovação de seu contrato em 2002, quando o deputado era primeiro-secretário da Casa. A reportagem menciona ainda um suposto documento assinado por Severino, assegurando a Buani monopólio de cinco anos como concessionário. Esta seria a prova mais importante contra Severino.
*No fim de agosto, Severino já causara polêmica ao informar que enviaria para a Corregedoria, e não para o Conselho de Ética, os relatórios dos processos de pedido de cassação dos parlamentares envolvidos com o escândalo do mensalão. A medida, vista como forma de retardar o processo de apuração, foi chamada de "operação abafa", causou intensa reação no Congresso e não foi levada adiante.