É proibido fechar – Osmar Silva

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Foto: Divulgação

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A primeira vez que visitei Porto Velho deixei a bagagem no Hotel Yara e perguntei onde ficava o Rio Madeira. O porteiro apontou a direção. Era uma bela tarde de um sol que dourava as lojas e os casarios da 7 de setembro. Me impressionei com o tamanho e a beleza do Rio Madeira. Com a ausência de um cais de porto e com a descida íngreme, escorregadia e perigosa do barranco para chegar às embarcações. E, também, com o desleixo do que restava da Rodovia Madeira Mamoré de cujas histórias já tinha conhecimento.

Tudo atraia minha atenção. Bebia cada cena e cada expressão que ouvia dos nativos. No caminho de volta parei numa banca de revista da Praça Jonathas Pedrosa e comprei os jornais da terra. Me espantei de ver três diários. Um deles me chamou a atenção. Tanto pelo nome quanto pela letra gótica utilizada no título. Foi o meu primeiro contato com o Alto Madeira que, recentemente, completou a incrível marca de 99 anos.

Cruzei a rua e sentei numa mesa do Café Santos. Entre um gole e outro de cerveja, fui absorvendo informações desta nova terra que me acolhia. Primeiro li o Alto Madeira. Perguntei ao garçom onde ficava. Ele apontou para o outro lado da praça. Vi o nome dos Tourinhos, Luiz e Euro, num expediente rico de informações.

Fiquei um tempo ruminando: caramba! Esse Jornal Alto Madeira é mais velho que A Tarde, da Bahia. Ele viu o nascer e o morrer de Getúlio Vargas, o Estado Novo, a Segunda Guerra Mundial, JK e os seus 50 anos em 5, a Guerra do Vietnã, a Revolução de 64, as Diretas Já, viu tudo.

Li também os outros jornais naquela minha primeira tarde/noite em Porto Velho. Mas o Alto Madeira continuava me encafifando. Perguntava para um e para outro. Fui constatando a sua importância para o povo de Rondônia. E me dando conta de que esse jornal era o registro mais fidedigno da história deste pedaço amazônico do extremo Norte do país. Tudo está em suas páginas: os ciclos econômicos da borracha, do ouro, do diamante, da cassiterita e da colonização rumo ao agronegócio dos dias de hoje. De Porto Velho município do Amazonas ao Território do Guaporé e ao Estado de Rondônia

Tudo registrado ali. Com foto e o preto no branco. Da letra e do papel. A foto, do clichê ao print. A letra, montada no componidor e, depois, cunhada no chumbo quente da lynotipo.

A cópia de uma página do Alto Madeira é uma certidão com fé pública da história. Os políticos com as suas aventuras e desventuras; os governos com seus erros e acertos; os empresários com seus sucessos e insucessos; os romances e tragédias do Roque, da Taba do Cacique e do Araribóia. A chiqueza dos salões do Ypiranga, do Bancrevea, do Ferroviário, do Flamengo e do Botafogo com suas festas de debutantes e de misses.

A boemia dos bares Bangalô e Hangar, por exemplo. Tudo, timtim por tim, registrado nas colunas sociais do Ciro Pinheiro entre mestres desta área, na coluna Alto Madeira Na Rua entre tantas outras de luminares do jornalismo regional. Além das trágicas eclosões de violência pela posse das riquezas de Rondônia. Os carnavais e o folclore. Tudinho no Alto Madeira.  

A Tribuna, O Guaporé, O Imparcial e até o meu querido O Parceleiro tiveram e cumpriram seu papel neste duro mister de ser as antenas da raça humana. Cada um a seu tempo. Mas o Jornal Alto Madeira tem feito isso com maestria aguerrida o tempo todo. Desde 1915.

Vos digo, amigos, que após Percival Farquar com sua Rodovia Madeira Mamoré, Mariano Rondon com suas linhas telegráficas e Jorge Teixeira com a sua Nova Estrela no Céu Azul da União, ninguém mais que o Alto Madeira merece ser tombado(e protegido) como patrimônio histórico e cultural do Brasil.

E que no decreto conste a cláusula: “é proibido fechar”.

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