Desculpas esfarrapadas tentam justificar massacre em Gaza e expansionismo israelense
1 – TERROR EM GAZA
Jennifer Loewenstein é uma professora universitária norte-americana, uma das mais conhecidas ativistas dos direitos humanos no seu país. Além de integrar a direção do Centro de Estudos de Refugiados da Universidade de Oxford (Inglaterra), é Diretora Associada do Centro de Estudos do Oriente Médio de uma das principais universidades públicas norte-americanas, a do Estado de Wisconsin, em Madison (capital).
Com o propósito de comentar o corajoso e excepcional artigo dos cientistas políticos João Paulo Viana e Vinícius Valentin Miguel – “Massacre em Gaza e o Silêncio dos Cúmplices” -, o repórter andava colhendo dados na Internet quando topou com um texto da professora. Ela trabalhou durante meses, em 2002, no Centro Al Mezan de Direitos Humanos, em Gaza, tendo lá retornado várias vezes desde então. Levando em conta a origem judia de Jennifer Loewenstein – e nisso reside considerável argumento em favor da sua isenção - nada mais eloqüente e esclarecedor do que seu testemunho, do qual se seguem alguns trechos.
“Deixemos uma coisa perfeitamente clara. O terror de estado disparado neste momento dos céus e do chão contra a Faixa de Gaza não tem nada a ver com o Hamas. Não tem nada a ver com o ‘Terror’. Não tem nada a ver com a ‘segurança’ a longo prazo do Estado Judeu ou com o Hezbolá, a Síria ou o Irã, exceto na medida em que agrava as condições que levaram até a crise de hoje. Não tem nada a ver com alguma conjurada ‘guerra’ -- um eufemismo cínico e gasto que não representa mais que a escravização por atacado de qualquer nação que ouse reclamar seus direitos soberanos; que ouse afirmar que seus recursos são seus; que não queira uma das obscenas bases militares do Império assentada em suas queridas terras.”
“Esta crise não tem nada a ver com liberdade, democracia, justiça ou paz. Esta política não tem nada a ver com foguetes primitivos sendo lançados do outro lado da fronteira ou com túneis de contrabando ou com o mercado negro de armas, assim como o Fatah de Arafat tinha pouco a ver com as pedras e os atentados suicidas a bomba. As associações são contingentes; criações de um dado ambiente político.”
2 – MÍDIA SERVIL
“Remova os clichês e o blá-blá-blá estridente e vazio da mídia servil e de seu patético corpo de servidores estatais voluntários no mundo ocidental e o que você encontrará é o desejo nu de hegemonia, de poder sobre os fracos e de domínio sobre a riqueza do mundo. Pior ainda, você encontrará o egocentrismo, o ódio e a indiferença, o racismo e a intimidação, o egoísmo e o hedonismo que tentamos tanto mascarar com nosso jargão sofisticado, nossas teorias e modelos acadêmicos refinados, que na verdade ajudam a guiar nossos desejos mais feios e baixos. A insensibilidade com que nos rendemos a eles já é endêmica à nossa cultura; nela floresce como moscas sobre um cadáver.”
“Desconsidere os atuais símbolos e linguagem das vítimas dos nossos caprichos egoístas e devastadores e você encontrará os gritos desafetados, simples e cheios de paixão dos pisoteados; dos ‘condenados da terra’ implorando para que você cesse sua agressão fria contra suas crianças e seus lares; suas famílias e seus vilarejos; implorando que os deixe em paz, pedindo primeiro educadamente e depois com crescente descrença no porquê de você não poder deixá-los viver sem serem incomodados nas terras de seus ancestrais, sem serem explorados, livres do medo de serem expulsos, violados ou devastados; livres dos carimbos e dos bloqueios de estrada e dos postos policiais de controle e cruzamentos; dos monstruosos muros de concreto, torres de guarda, bunkers de concreto e arame farpado; dos tanques, das prisões, da tortura e da morte. Por que é impossível a vida sem essas políticas e instrumentos do inferno?”
“A resposta é: porque Israel não tem qualquer intenção de permitir um estado palestino viável e soberano ao lado de suas fronteiras. Não tinha qualquer intenção de permiti-lo em 1948, quando arrancou 24% mais terra do que havia sido legal, ainda que injustamente, alocado pela Resolução 181 das Nações Unidas. Não tinha qualquer intenção de permiti-lo ao longo dos massacres e complôs dos anos 1950.”
3 – SANGUE NAS RUAS
“Enquanto Israel alardeava nos microfones e satélites do mundo o seu desejo de paz e de uma solução biestatal, ele mais que duplicava os assentamentos judeus, ilegais, nas terras da Cisjordânia e em volta de Jerusalém Oriental, anexando-as na medida em que construía e continua a construir uma superestrutura de estradas e autopistas sobre as cidades e vilarejos sobreviventes, picotados da Palestina. Anexou o Vale do Jordão, a fronteira internacional da Jordânia, expulsando quaisquer dos ‘nativos’ que habitassem a terra. Fala com uma língua de víbora sobre os múltiplos amputados da Palestina, cujas cabeças serão logo arrancadas do corpo em nome da justiça, da paz e da segurança.”
“Israel, com o apoio aprovador e incondicional dos EUA, já deixou dramaticamente claro ao mundo todo, várias vezes, repetindo em ação atrás de ação que não aceitará um estado palestino viável ao lado de suas fronteiras. Quanto mais horrorosas as ações no terreno, mais insistentes são as palavras de paz. Ouvir e assistir sem escutar nem ver permite que a indiferença, a ignorância e a cumplicidade continuem e aprofundem, a cada túmulo, a nossa vergonha coletiva.”
“A destruição de Gaza não tem nada a ver com o Hamas. Israel não aceitará qualquer autoridade nos territórios palestinos que ele, em última instância, não controle. Qualquer indivíduo, líder, facção ou movimento que não aceda às exigências de Israel ou que busque genuína soberania e igualdade de todas as nações da região; qualquer governo ou movimento popular que exija a aplicabilidade da lei humanitária internacional e a declaração universal dos direitos humanos para seu próprio povo será inaceitável para o Estado Judeu.”
“O sangue de vida do Movimento Nacional Palestino jorra hoje pelas ruas de Gaza. Cada gota que cai rega a terra da vingança, do ressentimento e do ódio não só na Palestina, mas em todo o Oriente Médio e em boa parte do mundo. Nós temos uma escolha sobre se isso deverá continuar ou não. Agora é a hora de escolher.” É isso!