Cassol e a nova eleição geram histórias mal contadas e desconfiança na Justiça Eleitoral – Por Paulo Queiroz

Cassol e a nova eleição geram histórias mal contadas e desconfiança na Justiça Eleitoral – Por Paulo Queiroz

Cassol e a nova eleição geram histórias mal contadas e desconfiança na Justiça Eleitoral – Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

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Política Três Tempos

1 – CONVERSA FIADA

Que algo nessa história parece estar mal contado - disso até os bagres ameaçados do Madeira já estão desconfiados. Fala-se, leitor, da única história mal contada do pedaço que mais está dando o que falar. E só por aí - ou seja, por não se precisar sequer dizer que história é essa sem que o leitor deixe de saber que história é - já se pode aduzir que a tal história muito tem dado o que falar mais pelo que tem de mal contada do que pela história que pretende ser. É isso mesmo, leitor, você acertou na mosca.

A história de que se fala é essa da cassação do governador Ivo Cassol (sem partido) pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por abuso do poder econômico. Até aqui morreu o Neves. Ou seja, caso a história tivesse parado por aí, até que daria para o gasto.

Afinal, Cassol estaria apenas engrossando uma lista em que já figuram os governadores Cássio Cunha Lima (Paraíba), Luiz Henrique (Santa Catarina), Jackson Lago (Maranhão); Marcelo Miranda (Tocantins), José de Anchieta Junior (Roraima) e Marcelo Déda (Sergipe). E não obstante o primeiro da lista já ter sido cassado duas vezes pelo TRE paraibano e o segundo esteja com o processo de cassação já aprovado por três dos sete ministros do TSE, estão todos lépidos e fagueiros no exercício dos respectivos mandatos.

Quer dizer, com base em exemplos tão edificantes, o eleitorado caripuna seria capaz de intuir que essa história de cassação de mandato de peixe graúdo na instância nativa - quiçá nas do andar de cima - sempre leva um jeitão de conversa para boi dormir. E assim, passada a modorrenta quebra da não menos macambúzia rotina com o anúncio pífio, voltar-se-ia ao jururu repouso dos ruminantes sem mantra hipnótico algum.

O diabo é que, além de cassado, Cassol teve anulados os votos que recebeu em 2006. Por conseqüência, restou também anulado o pleito que o elegeu e, na rabeira, apareceu engatada a história da convocação de nova eleição para o dia 14 de dezembro. Aqui é que o bicho quer pegar. Melhor: não quer.

2 – NORMAS FANTASMAS

Melhor dizendo, levantou as orelhas e eriçou-se atento – o bicho, leitor. Enfim, desde o dia 4 passado, a nova eleição não apenas está convocada, mas já está com datas definidas para o primeiro e o eventual segundo turno – 14 e 21 de dezembro respectivamente. Decorridas duas semanas, no entanto, o contingente de crédulos que levou o anúncio a sério está mais é se sentindo como uma espécie de síntese de antigos personagens do Jô Soares caracterizados por bordões autoflagelatórios como “Eu acreditei!”, “Eu me odeio!”, “Tira o tubo!” e por aí vai. Sobram-lhes razões para tanto ceticismo.

Primeiro porque, não obstante vozes acautelatórias no decorrer do julgamento, a corte eleitoral do pedaço desabridamente determinou o imediato cumprimento da sentença, ou seja, o afastamento de Cassol e de seu vice em cima da bucha com a sua subseqüente substituição no cargo pelo presidente da Assembléia Legislativa. A alguém que enxergasse nessa providência uma atitude premeditada para desmoralizar o próprio TRE não se poderia imputar qualquer aleivosia. Tão farta é a jurisprudência do TSE no sentido de que se deve aguardar a publicação da decisão e eventuais embargos que, no dia seguinte, ao decidir liminarmente manter Cassol no cargo, o ministro Arnaldo Versiani poupou-se de especificá-la.

Seja como for, consolou aos crédulos o fato de que, além de restar mantida, a nova eleição teria suas normas votadas e divulgadas pela Justiça Eleitoral na terça-feira subseqüente, dia 11, conforme foi amplamente divulgado. Não teve norma alguma. Em vez disso, circulou a informação de que a providência estaria completada na quinta-feira (13). E já a impaciência coletiva dava lugar a um progressivo e galhofeiro desdém.

Até porque, em vez das novas normas, o que veio a lume, da quinta para a sexta-feira (14), foi uma inserção na página de Internet do Governo de uma história ainda mais mal contada do que a que até aqui então se viu. Dava conta de que o TSE tornara sem efeito sentença local.

3 – ERRO OU PREMONIÇÃO

Pela transcrição de um dos trechos: “Desta forma, o TRE de Rondônia foi obrigado a cancelar a reunião que seria realizada na tarde desta quinta-feira que já iria definir regras para as novas eleições, agora suspensas”. Não contente, o site governamental ainda abriu espaço para o governador fazer proselitismo.

Numa reviravolta de que até Deus haveria de duvidar, a semana terminou ao som de uma surrealista “Nota Oficial” do Departamento de Comunicação (Decom) do Governo informando que a notícia que fizera divulgar, na verdade, não procedia, atribuindo tudo a um “grave erro”.

Ingenuamente, alguns setores da imprensa – notadamente da eletrônica – atribuíram o episódio a uma suposta intencionalidade governamental no sentido de inventar uma mentira com o propósito de confundir e manipular a opinião pública. Era só o que faltava. Se cabe na cabeça de alguém imaginar que Cassol seja trouxa a ponto de incorrer em tamanha puerilidade. Com poucas chances dadas ao erro, o buraco é mais embaixo. Mas muito lá mais embaixo - e isto é terrível.

Está prevista para esta terça-feira (18) a reunião do TSE que irá julgar os embargos declaratórios e o recurso impetrados pela defesa de Cassol. A depender do resultado, saber-se-á se o “grave erro” do Decom terá sido, na verdade, uma premonição ou um desejo. Caso o augúrio seja contemplado, quem não acreditar nas qualidades oraculares do governo vai desconfiar que, em vez de premonição, o que houve foi precipitação.

Mentindo é que Cassol não estava. Ou se preferirem, esta é a versão mais improvável. Diz-se Cassol porque, como até os bagres ameaçados do Madeira estão extenuados de saber, neste governo não se tira um grão de poeira do lugar sem sua expressa determinação. E caso tivesse inventado uma mentira, por que raios ele próprio, sem que ninguém pusesse em dúvida sua história, é que tomaria a iniciativa de desmentir-se? “Grave erro”? Se cabeças não rolaram é porque, neste governo, a única que pode cometê-los e permanecer em cima do pescoço é a dele mesmo.

Enfim, restam duas hipóteses: na primeira, Cassol terá botado a caçada a perder, ou seja, atirou antes da hora e poderá ter espantado o bicho. Na segunda, o bicho fará ouvidos de mercador e, como ninguém parece ter percebido o que pode ter acorrido (a hipótese mais danosa deteve-se na puerilidade da suposta mentira), confirmar-se-á a precipitação governamental. E isto é terrível. Ou seja, jamais se saberá quem é mais proficiente em termos de “histórias mal contadas” – se Cassol e seu governo ou se a Justiça Eleitoral daqui e dalhures.

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