Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz
1 – VIAGEM À ITÁLIA
Definitivamente, a denúncia que revelou à opinião pública a viagem da primeira-dama de Porto Velho à Itália às custas do contribuinte, disparada pelo candidato à Prefeitura Alexandre Brito (PTC) e encampada mais enfaticamente por este O ESTADÃO no que diz respeito à amplificação das suas ressonâncias, andou tirando a campanha do prefeito Roberto Sobrinho (PT) dos eixos, está ameaçando a vitória da candidatura oficial no 1º turno que até então parecia certa e, no limite, pode custar a reeleição do petista dada como favas contadas há cerca de apenas uma semana.
Sorte da coligação “Trabalho de Novo, Com a Força do Povo” (PT/PMDB/PRTB/PP e PSC) que a denúncia tenha sido encaminhada por um deputado às voltas com problemas de credibilidade por conta das investigações várias de que está sendo objeto – o que lhe valeu a inclusão do nome na “lista suja” das corporações de magistrados – e que o jornal que mais a tem repercutido não seja conhecido exatamente por uma imparcialidade irrestrita, mormente quando, em épocas eleitorais, entorta o procedimento editorial na direção da paixão.
Diante da evidente operosidade da administração (obras por toda parte), mas, sobretudo em face da absoluta ausência de registros acusando malversações nas finanças municipais, possivelmente o eleitorado porto-velhense tenderia a se sentir mais confortável para votar, sem hesitações, na reeleição de Roberto Sobrinho (PT) se, em vez do logro que salta aos olhos, a assessoria do prefeito tivesse decidido pela sinceridade no episódio em questão.
Assim, bem que aquela portaria poderia ter sido redigida em termos mais verdadeiros. Dir-se-ia, por exemplo, que o desempenho do prefeito Roberto Sobrinho no exterior poderia ser afetado, com possíveis prejuízos para a administração municipal, caso tivesse que ficar afastado da mulher por duas longas semanas. Razão pela qual, mais prudente que a municipalidade providenciasse para assegurar a companhia da mulher, financiando-lhe a viagem e tudo mais.
2 – SOLIDÃO CONJUGAL
Não chega, como se pode ver, uma explicação irrespondível, mas, em até função das subjetividades de que se vale – até que ponto pode alguém, em bom juízo, saber que prejuízos um município vai ter por conta da solidão conjugal do seu prefeito? -, é menos desastrosa do que a que terminou sendo publicada no Diário Oficial. Pela transcrição:
“A Chefe de Gabinete do Prefeito, no uso das.... tarará, tarará.. Resolve: Arbitrar e conceder à servidora Lucilene Peixoto dos Reis, professora, Cadastro Nº. 69923, 14 Diárias no valor unitário de U$ 553,00 , tendo em vista que a mesma se deslocará à Itália no período de 17 a 31/07/2007, com a finalidade de assessorar o Exmo. Sr. Prefeito durante viagem de intercâmbio entre a Associação Casa Família Rossetta com o Governo Regional Siciliano, bem como outros órgãos governamentais italianos, com vistas a atrair recursos financeiros para implementar os projetos sociais já em andamento”.
Que conversa mais fiada, sô! Não é preciso ser adversário do prefeito, ou seja, não é necessário armar-se de má vontade contra Sobrinho para perceber quão esfarrapadas são tais explicações. Repare o leitor nas entrelinhas para tentar perceber o que deverá ter acontecido. Decidiu-se que a mulher do prefeito deveria viajar na sua companhia à Itália às expensas da Prefeitura e, constatado que não havia como justificar isso de modo legal irretorquível, optou-se por inventar uma historinha - dar, por assim dizer, um jeitinho.
Podiam ter encerrado o assunto dizendo simplesmente que a professora estava viajando com a finalidade de acompanhar o “Exmo. Sr. Prefeito” e fim de papo. Esse lero-lero de “assessorar” e “com vistas a atrair recursos financeiros” é que denota a intenção de embaçar o meio de campo para ludibriar a platéia. Foi “maus”. Cabe na cabeça de quem dizer que sem dona Lucilene tais recursos não seriam atraídos?
Ou seja, a quantia aí envolvida, cerca de R$ 15 mil (R$ 20 mil pelas operações cambiais da acusação adversária), é uma mixaria, uma merreca de nada – ainda mais que, segundo se informa da Prefeitura, a primeira-dama andou devolvendo algo em torno de R$ 2 mil. O que pode ter até piorado as coisas, porquanto a partir do vício de origem, a inferência que se pode fazer é que a intenção desse gesto foi a de tentar mascarar ainda mais a tramóia.
3 – DESCRENÇA À VISTA
Que a campanha da reeleição saiu dos eixos até os bagres ameaçados do Madeira já estão desdenhando de quem disso ainda duvida. Basta ver o quanto de diversionismo transpareceu na visita do prefeito à Superintendência da Polícia Federal para “manifestar preocupações” e acusar a concorrência de andar “perdendo a (com)postura” na reta final da disputa.
O que se quer é dizer a partir do comando da campanha petista é que a denúncia de que se fala é exclusivamente produto desse suposto clima de exacerbação. Os releases da campanha que daí por diante passaram a ser distribuídos dão bem uma idéia do quanto se tenta misturar alhos com bugalhos na tentativa de confundir e desviar a atenção do eleitor do foco da questão. Fala-se recorrentemente em “ataques pessoais” quando, por mais peçonha que se possa identificar no denunciante, foi claramente o interesse público que a portaria das diárias pretendeu lograr.
Num contexto de satisfação geral instala-se uma espécie de complacência coletiva que chega a legitimar o "rouba, mas faz". Em situação de crise e de penúria, porém, qualquer desvio de recursos parece aos olhos da população como assalto ao próprio bolso. Em termos de tombo moral, o impacto é tanto maior porquanto a imagem de integridade até então ilesa de Sobrinho remete o episódio ao colosso com pés de barro, ao santo do pau oco, ao ouro de tolo e por aí vai.
No resumo da ópera, a disputa tenderá a ir para um 2º turno a depender do tempo que restar ao eleitor para refletir sobre essa questão. Não tem “mas” nem meio “mas”. Está-se diante de uma quebra de confiança. O que se tentou com a portaria foi tapear o contribuinte – e não há nada que ofenda mais o ser humano do que ser tratado como tolo por parte daqueles em quem confia.
Caso tenha tempo, ao concluir que ao tentar justificar o financiamento público da viagem da mulher à Itália o prefeito Sobrinho, na verdade, apelou para o engodo, o eleitor começará a se perguntar sobre o quanto mais de tapeação estará embutido na administração municipal até agora apresentada como modelo de probidade. Afinal, cesteiro que faz um cesto faz um cento. A dúvida evoluirá para a insegurança e daí para a decepção e a descrença será um pulo. A ver.