A Assembléia Legislativa de Rondônia não pode desperdiçar mais uma excelente oportunidade de avançar no sentido da ética política, mergulhando fundo na apuração das denúncias feitas contra um membro daquele Poder.
Entretanto, antes mesmo de se começar o processo investigatório, o Corregedor-Geral da Casa, deputado Valter Araújo, descartou a existência de qualquer folha de pagamento paralela na ALE.
Logo, vão dizer que as denúncias apontadas pelo ex-cabo eleitoral do parlamentar não passaram de um tremendo equívoco e, conseqüentemente, decidirão pelo arquivamento do caso. O forno da ALE está em fogo brando. A sociedade já começa a sentir o cheio de pizza gigante no ar.
O deputado Maurinho é acusado de abocanhar parte do salário de funcionários de seu gabinete e de cobrar porcentagem pela liberação de emendas orçamentárias. O dinheiro arrecadado teria sido investido na aquisição de imóveis.
As acusações chegaram às mãos do presidente Neodi Oliveira, que as enviou à Corregedoria-Geral. Eis aí, portanto, o momento para o “Poder do Povo” mostrar que há sintonia entre o discurso moralizador e a prática.
Maurinho diz que está sendo vítima de “inveja, pilantragem e armação”. Coitado do deputado. Chega a dá dó. Atribui-se a Tancredo Neves a frase segundo a qual quando a esperteza é muita, acaba engolindo o dono.
Não é por demais lembrar ao parlamentar rondoniense, contudo, que foi por causa da denúncia de um ex-cabo eleitoral que o então vereador Ramiro Negreiro foi execrado do mapa político há quatro meses e, ainda hoje, briga, desesperadamente, na Justiça, para recuperar o seu mandato.
Uma coisa, porém, o deputado pode ter certeza, ou seja, a de que episódios dessa natureza em nada contribuem para melhorar a desgastada imagem do parlamento estadual, que tem papel importante a desempenhar em nossa vida política, mas que, desgraçadamente, não tem sabido exercê-lo em sua plenitude, sobretudo, por conta de rebotalhos sociais, travestidos de políticos.
Aliás, é pela falta da correta distinção entre política e politicagem, que praticantes de exercício menor são facilmente confundidos com os que se dedicam à política autêntica, que rejeita o oportunismo e as manobras insidiosas, orquestrados na calada da noite, em gabinetes refrigerados, ou, então, em ambientes confortáveis, regados a uísques importados e na companhia de mulheres bonitas.
Uma pergunta, porém, não quer calar: seria o deputado Maurinho o único a beneficiar-se de eventuais irregularidades? Há todo um elenco de benesses de que se aproveitam segmentos específicos da sociedade, sem que, em contrapartida, decorra mais que o aumento do patrimônio do beneficiário.
Maurinho seria, assim, mais um entre tantos (com ou sem mandato) que tem seu patrimônio aumentado graças à generosidade que o Estado Brasileiro oferece a pequenos feudos da sociedade, especialmente aos mais bem situados na hierarquia sócio-econômica do País.
Mesmo assim, a população rondoniense aguarda providências dos órgãos judiciais, como o Ministério Público Estadual, por exemplo, já que, se depender exclusivamente da ALE, o corporativismo, mais uma vez, vai correr solto.