Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – TRISTE AMAZÔNIA Ao perceber o tamanho do estrupício, o ministro Roberto Mangabeira Unger tratou de recuar, não sem antes invocar o bode expiatório de sempre, aquele de quem as autoridades são useiras e vezeiras quando não querem reconhecer suas mancadas – o jornalismo. E disse que o plano de construir um aqueduto para fazer a transposição das águas do rio Amazonas para o Nordeste – de que deram conta as principais publicações do país nas suas edições desta quinta-feira (17) – foi um erro de interpretação da imprensa. Uma pinóia! A proposta está num texto de sua autoria, lançado na primeira etapa da viagem que passou a semana fazendo à região, iniciada por Belém e completada na sexta-feira com a escala da espetaculosa comitiva em Tefé (AM). Na ocasião em que anunciou a idéia, Mangabeira Unger inclusive argumentou que a ligação seria necessária porque "numa região sobra água inutilmente e na outra falta água calamitosamente". De acordo com o que os jornais informaram, proposta faz parte do "Projeto Amazônia", em que o desenvolvimento sustentável da região é discutido por Mangabeira e sua comitiva, de 38 pessoas, entre assessores da pasta, parlamentares e representantes do setor privado. Ocorre que, no momento seguinte em que publicou a informação, a versão eletrônica do jornal “O Globo”, por exemplo, abriu um grupo de discussão conclamando os internautas à manifestação. Foi um “Deus nos acuda”. O que Mangabeira levou de esculacho – como se dizia no século passado – não está no gibi. “Nem a Ditadura, com o projeto da Transamazônica, foi tão ridícula. Daqui a pouco vão propor um canal que leve a neve de Bariloche à caatinga nordestina” – ironizou um. Outro disse que as idéias de Mangabeira são tão estapafúrdias que, se um diz forem exeqüíveis, só o serão por volta do ano 3030. E por aí foi a pauleira em cima do ministro. Pior foi quando outros veículos começaram a repercutir a proposta junto a parlamentares e autoridades do governo. Não foi registrada uma só palavra de apoio. 2 – QUE MINISTRO? Pudera! Se a transposição do São Francisco – que é uma idéia de mais de 50 anos – está dando o rolo que se conhece (com protestos como um duplo auto-suplício de um bispo católico e tudo mais), imagine se governo assume oficialmente uma proposta como a de Mangabeira? Dá para imaginar o volume da pressão governamental sobre o ministro para fazê-lo voltar atrás já no dia seguinte. Em todo caso, não dá para o governo dizer que foi uma surpresa. Mangabeira é aquele filósofo que em 2005 havia publicado um virulento artigo na “Folha de S. Paulo” contra a administração petista, caracterizando-a como “o governo mais corrupto da história” e exigindo o impeachment do presidente Lula da Silva. Não obstante no governo por obra e graça do vice-presidente José de Alencar (Lula e o PT tiveram que engolir a exigência do vice), não se sabe bem o que Mangabeira está fazendo na Esplanada dos Ministérios – afinal, de que raios ele seria ministro? Logo que se tomou conhecimento do convite, ele seria titular de uma Secretaria Especial de Planejamento de Ações de Longo Prazo (Sealopra). Que, possivelmente por conta dessa sigla horrorosa, terminou ficando Ministério Extraordinário das Ações de Longo Prazo. Na posse do filósofo, o presidente Lula da Silva afirmou que ele iria pensar o Brasil de 2022, quando serão completados os 200 anos da Independência do país. O que diabo isso significa, possivelmente nem Lula nem Mangabeira saibam. Pelo menos ainda não vieram a publico para dizê-lo. O fato é que, como reclamam alguns brasileiros de bom senso, a Amazônia parece ter sido contemplada com a sina de prestar-se como laboratório de projetos megalomaníacos, alguns dos quais levados a termo com legados conhecidos. A Transamazônica, por exemplo, adquiriu notoriedade como símbolo das "obras faraônicas", um projeto desproporcional e caro, de motivação política – grandes investimentos por intermédio dos quais a ditadura militar procurava legitimar-se - e pouca utilidade. O primeiro erro da estrada é o seu nome. Ela não é "transamazônica" merda nenhuma, já que o trecho final do projeto original pelo estado de Amazonas jamais chegou a ser concluído. 3 – VIÚVA DE EUCLIDES O segundo é a própria estrada, uma invenção para resolver o problema fundiário no Nordeste e povoar a Amazônia, transportando levas de sem-terra para o meio do mato, que foram praticamente abandonados em alguns anos, sem ajuda para praticar a agricultura e nem meios de transportar sua produção por uma estrada que a floresta teima em reclamar. Depois teve a hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, cuja construção matou e desperdiçou uma quantidade descomunal de árvores. A floresta se vingou com emanações pútridas que comprometem o funcionamento da usina e através de nuvens de moscas que lembram as pragas bíblicas contra o Egito. Sem falar dos projetos concebidos no exterior com propósitos internacionalistas, para não dizer colonialistas e de logro da soberania nacional. Como, para ficar só num exemplo, o da construção de um grande lago artificial na década de 1960, represando águas fluviais no centro da Amazônia para produzir quantidades astronômicas de energia elétrica, plano elucubrado pelo futurologista Herman Kahn, fundador do Hudson Institute. Deu, felizmente, xabu. Agora tem essas hidrelétricas aí do Madeira, de que só se saberá a magnitude dos danos e se serão compensados possivelmente quando os planos de Mangabeira tornarem-se factíveis. Haja chão. Até hoje quase só se tem pensado no Euclides da Cunha "nordestino", que conheceu Canudos como repórter, escritor e visionário. Mas depois de ter denunciado as brutalidades das gentes adoidadas em Canudos, Euclides afiava a pena para repetir façanha semelhante em relação à Amazônia. Já tinha até um fio condutor: o trabalho do braço nordestino. Chegando ao Acre escreveu: "Os cearenses, os paraibanos, os sertanejos nortistas, em geral, ali estacionam, cumprindo, sem o saberem, uma das maiores empresas destes tempos" Infelizmente uma história triste e banal de adultério levou-o embora deste mundo antes. E a verdadeira viúva do Euclides da Cunha assassinado ficou sendo a Amazônia. Que ficou sozinha. Nunca mais ninguém olhou para ela com amor.
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