Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

Receba todas as notícias gratuitamente no WhatsApp do Rondoniaovivo.com.​

1 – EXPEDITO JÚNIOR Primeiro governador eleito do Estado, Jerônimo Garcia de Santana convocara a imprensa, em novembro de 1986, para dizer a que viera. Lá pelas tantas, o jornalista Carlos Souza – que absolutamente ninguém saberá de quem se trata até que se diga que esse fulano e o desportista “Ditão” são a mesma pessoa – dirigiu-se ao entrevistado nos seguintes termos: “Governador, nós, desportistas (falava pelos aficionados do futebol e pelos jornalistas do setor), há tempos sonhamos em ver o Aluízio Pinheiro (referia-se ao principal campo de futebol da capital) transformado em um estádio de verdade, em um grande estádio. A pergunta é a seguinte: com o senhor no governo, a gente pode continuar sonhando?” Safo como poucos, Santana não perdeu a deixa: “Perfeitamente. Pode continuar sonhando”. O senador Expedito Júnior (PR) pode até ainda não ter percebido, porquanto tudo leva a crer que atirou no que viu e terminou abatendo o que não estava ao alcance da vista. Mas não se descarte a hipótese de que tenha feito tudo de caso pensado, haja vista que em matéria de estultices melhor não duvidar dos políticos. A verdade é que, ao tornar público seu envolvimento no episódio da negociação para votação da prorrogação da CPMF, terminou por prestar um dos mais relevantes serviços à cidadania e à política do pedaço. Pudera! Na aposta que fez não havia o risco de que pudesse perder. Como foi amplamente divulgado, sabedor – como todo mundo – de que o governo faria das tripas coração para tentar aprovar a prorrogação do tributo e que a maioria da base aliada no Senado era (é) precária, o senador decidiu vender caro o seu peixe. Estabeleceu que, caso o governo não operasse a transposição de uma pá de servidores do Estado para o quadro da União e não reconsiderasse a dívida do Beron, votaria contra a prorrogação do imposto, não obstante seu partido integrar a base governista. O leitor pode até achar que esse é um jeito algo canhestro de exercer o mandato. Mas, se assim for, terá que concordar que a Casa inteira age à sinistra. 2 – GRANDE CORAÇÃO Bobagem imaginar que Expedito Júnior tenha agido de outra maneira senão movido pela defesa de interesses da população que julga mais importantes do que a prorrogação do imposto e, naturalmente, pela preocupação com seu projeto político. Tome-se, para avaliar o procedimento, o caso do senador Pedro Simon (PMDB-RS), em tudo por tudo análogo ao ocorrido com o parlamentar rondoniense, a começar pelo fato de também ser filiado a um partido da base aliada. Na verdade, se algo de reprovável existe nos dois comportamentos, o do senador gaúcho tido e havido como uma das reservas morais da instituição e do país é mais grave, porquanto o peemedebista chegou a assinar um documento em que se comprometeu a votar contra a CPMF. Não apenas mudou o voto como, para surpresa geral, protagonizou o maior barraco do debate ao tentar interceder pelo governo. A virada de Simon, porém, custou cerca de R$ 700 milhões aos cofres federais, quantia de que, naturalmente, o parlamentar não viu nem a cor. Mas esta foi a bufunfa liberada pela Fazenda para a governadora Yeda Crusius (PSDB) que, de outro modo, não poderia pagar os salários de dezembro e o 13º dos servidores estaduais. E olhe que ela nem é do mesmo partido de Simon. Mas como o governo condicionou a liberação ao voto, Yeda foi à luta e Simon, cuja integridade só não é maior do que o grande coração, topou. Crusius ficou tão grata com o gesto que, quando o senador Artur Virgílio (PSDB-AM) agrediu Simon com ofensas e impropérios ao final dos debates, imediatamente mobilizou o alto comando do partido para, por telefone, obrigar o líder tucano a se desculpar. Quem estava assistindo pela TV Senado viu o amazonense retroceder. É bastante improvável que o país venha a saber tudo o que se passou, por estes dias, no Senado. Mas não é difícil imaginar o quanto o governo terá oferecido a Expedito Júnior, em termos de cargos e outras prebendas, em troca das duas reivindicações, com o propósito de assegurar o seu voto. Impossível saber o que se passou ali com o envolvimento da Presidência da República, dos senadores e de vários governadores. 3 – ILUSÕES PERDIDAS Que o diga o governador Ivo Cassol, que jamais, nem neste e muito menos no primeiro mandato, havia sido tão paparicado em audiências ministeriais e no próprio Palácio do Planalto, com o presidente Lula. O certo é que, conquanto também não se saiba o que o governo ofereceu a Cassol para tentar convencer Expedito Júnior, o senador não arredou o pé. Na tarde da quarta-feira (12), momentos antes de o Senado iniciar o debate, o Ministro Guido Mantega, da Fazenda, ligou para dizer que não era possível atender a qualquer dos pleitos. A transposição, segundo Mantega, custaria R$ 500 milhões anuais, algo que o governo considerou impossível de bancar. Quanto à dívida do Beron, a alegação foi a de que há, no Ministério, uma fila de casos similares. Caso o governo decidisse atender Rondônia, no minuto seguinte os demais Estados, com mais força política e maior peso econômico, exigiriam o mesmo tratamento, criando uma tensão insuportável para a administração federal. Algo de que, ao menos no que diz respeito às pessoas de bom senso, já se desconfiava – aí possivelmente incluído o próprio Expedito Júnior. Sua aposta, portanto, consistiu no seguinte: na remota hipótese de que o governo aceitasse suas condições, faria jus a todos os méritos solitariamente, viraria herói e nunca mais perderia uma eleição neste Estado. Afinal, com a sua estratégia, Expedito Junior teria estancado uma sangria que chega hoje a cerca de R$ 12 milhões mensais no caso da dívida do Beron – aos quais se somariam, por baixo, algo em torno de R$ 25 milhões mensais que o governo deixaria de desembolsar com a transposição. E se o resultado fosse o que se conhece, acabaria de vez com toda essa exploração da boa fé alheia de que tem feito uso um magote de políticos do pedaço para construção de suas plataformas nas campanhas eleitorais com essas lorotas de transposição e dívida do Beron. Se, ameaçado de perder uma receita de R$ 43 bilhões, o governo não cedeu é porque não cederá é nunca. Ciente de que não poderia construir o grande estádio almejado pelos desportistas rondonienses em sua gestão, Santana aproveitou a bola levantada por “Ditão” para, de um modo bem humorado, remeter de vez a aspiração ao mundo dos sonhos - de onde nunca deveriam ter saído a lorota da transposição e o conto da reconsideração da dívida do Beron. Pois bem. De agora por diante, quando um político aparecer pedindo votos prometendo a transposição e a suspensão da dívida do Beron, só os terá de quem preferir continuar sonhando.
Direito ao esquecimento

A política de comentários em notícias do site da Rondoniaovivo.com valoriza os assinantes do jornal, que podem fazer comentários sobre todos os temas em todos os links.

Caso você já seja nosso assinante Clique aqui para fazer o login, para que você possa comentar em qualquer conteúdo. Se ainda não é nosso assinante Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Qual sua opinião sobre o bloqueio de emendas parlamentares?
Você acredita que a gestão Hildon Chaves realmente teve 90% de aprovação?

* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!

MAIS NOTÍCIAS

Por Editoria

PRIMEIRA PÁGINA

CLASSIFICADOS veja mais

EMPREGOS

PUBLICAÇÕES LEGAIS

DESTAQUES EMPRESARIAIS

EVENTOS