*O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirmou que recebeu R$ 6,5 milhões de um suposto "caixa 2" da campanha à presidência do PT em 2002. Ele também disse que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva sabia dos acertos entre as legendas. "O Lula estava na sala ao lado. Ele sabia que estávamos negociando números", afirmou, numa entrevista-bomba veiculada nesta sexta-feira pela revista "Época".
*Costa Neto renunciou ao mandato de deputado federal no dia 1º após as denúncias de que foi um dos beneficiados do "valerioduto", o esquema do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para a distribuição de recursos a parlamentares. Sobre sua renúncia, o ex-parlamentar afirmou: "cometi um erro fiscal. Não declarei o dinheiro que recebido do PT".
*Na reportagem, o presidente do PL entra em detalhes sobre a negociação entre os dois partidos, feita em 2002. Segundo Costa Neto, houve acerto financeiro entre as duas legendas para manter a coligação que efetivamente venceu as eleições daquele ano. Uma versão dessa história já circulava de maneira apócrifa por veículos de comunicação e pela internet há pelo menos duas semanas.
*Acertos
*O PL se arriscava a não obter o percentual de votos necessários para ter acesso ao chamado "fundo partidário", mantido pelo governo federal por meio de multas e distribuído aos partidos com representação no Congresso Nacional. O partido avaliou que a lei da "verticalização", que obrigava a todas as coligações partidárias seguirem as alianças em nível federal, tornava mais árduas as chances do PL obter esse percentual: a legenda somente poderia coligar com o PT.
*O assunto foi discutido numa reunião entre representantes das duas legendas em junho de 2002, segundo Costa Neto, no apartamento de deputado Paulo Rocha (PT). Participaram desse encontro, Lula, Dirceu, o próprio Costa Neto, o candidato a vice-presidente José Alencar e o então tesoureiro do PT Delúbio Soares.
*Ainda de acordo com o presidente do PL, Lula e Alencar teriam saído da sala onde era feita a reunião, quando Costa Neto, Delúbio e Dirceu acertaram uma ajuda de R$ 10 milhões do PT ao PL. Costa Neto afirma que Alencar teria feito questão de pedir "tudo por dentro", isto é, de que a transferência de recursos fosse feita legalmente.
*Ainda de acordo com o presidente do PL, Lula sabia dos acertos: "o presidente sabia o que a gente estava negociando. Olha, ele e o Zé Dirceu construíram o PT juntos. O Lula sabia o que o Dirceu estava fazendo. O Lula foi lá bater o martelo. Tudo que o Zé Dirceu fez foi para construir o partido".
*Campanha
*A situação desandou após as eleições, quando o PL não obteve o percentual mínimo necessário para ter acesso ao fundo partidário (5%), o que somente ocorreu com a fusão da legenda aos partidos PGT e PST.
*Após a eleição, Costa Neto procura Dirceu e Delúbio, que finalmente "acerta a situação". Segundo o presidente do PL, o ex-tesoureiro do PT lhe orientou a fazer a procurar a agência SMPB, do empresário Marcos Valério. O tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, foi enviado à SMPB e voltou cheques da agência dirigidos para a empresa Garanhuns, no total de R$ 800 mil. Pouco mais tarde, um emissário de Delúbio procura o PL e "resgata" as ordens de pagamento, com dinheiro vivo.
*De acordo com Costa Neto, o emissário portava uma daquelas "malinhas com rodinhas, de levar no aeroporto. Chamei alguns fornecedores de campanha e eles pegaram todo o dinheiro".