Integrantes da quadrilha suspeita de lavagem de dinheiro e desvio de recursos de fundos de pensão municipais usaram prostitutas para cooptar prefeitos e gestores para o esquema criminoso, de acordo com a investigação.
A Folha apurou com investigadores que algumas das "pastinhas", como eram chamadas as mulheres que participavam do esquema, eram prostitutas ligadas à Jeany Mary Corner, que fez fama organizando festas na capital federal e é suspeita de agenciar garotas. Ela nega: "Quem acusa é quem tem que provar. É tudo mentira", disse. "Brasília inteira sabe [...] eu não faço mais nada disso".Jeany Mary Corner ficou conhecida no meio político após se transformar em um dos pivôs do escândalo que derrubou Antônio Palocci do Ministério da Fazenda durante o primeiro governo Lula.
No relatório da Polícia Federal, as "pastinhas" são descritas como "mulheres muito bonitas" --nem todas prostitutas. Segundo investigadores, elas procuravam políticos municipais, ofereciam um "uísque" e uma ida a lugares mais aconchegantes para, depois, apresentá-los a lobistas e líderes da quadrilha.
O grupo se especializou em oferecer vantagens indevidas a prefeitos e gestores de fundos de previdência municipais para garantir aplicações em investimentos arriscados e de rendimento duvidoso. Se os negócios com os prefeitos fossem fechados, as "pastinhas" ganhavam uma porcentagem sobre o contrato, de acordo com investigadores.
Desbaratado na semana passada pela operação Miqueias, da PF, o esquema é comandado por um doleiro e por um policial aposentado de Brasília, e desfrutava de "prestígio no mundo político", segundo os investigadores.
A decisão judicial que autorizou prisões e buscas, a qual a Folha teve acesso, afirma que as prostitutas tinham "por atribuição percorrer o país visitando os prefeitos e apresentando-lhes os fundos". "Nessas visitas, acredita-se que as 'pastinhas' já [ofereciam] retorno financeiro", diz trecho da decisão que reproduz relatório da PF.
Ainda segundo o documento, cada garota tinha "um âmbito de atuação específico, estando, pois, divididas por regiões e municípios a serem visitados".
FAZENDA
Entre os investigados na Miqueias está o ex-procurador-geral da Fazenda Nacional --órgão vinculado ao Ministério da Fazenda--, entre 2003 e 2006, período em que Palocci era o chefe da pasta.
Segundo investigadores, o procurador Manoel Felipe do Rego Brandão "atua como lobista, intermediando contatos entre os membros da organização criminosa e políticos". Há indícios de que Brandão atuou no Piauí e no Maranhão. A polícia pediu sua prisão, mas a Justiça negou.
Procurado pela Folha, Brandão não retornou. O funcionário está licenciado da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional desde 2006 para, segundo o órgão, "tratar de assuntos particulares". Sobre as suspeitas que pesam contra ele, a Procuradoria da Fazenda diz que cabe à Corregedoria-Geral da Advocacia Geral da União apurar eventual irregularidade.
OPERAÇÃO MIQUEIASO que é
Operação da PF que desbaratou esquema suspeito de lavar dinheiro e fraudar fundos de pensão acusado de movimentar R$ 300 milhões em 18 meses.
Alvos
Ao menos 20 foram presos no DF, RJ e GO. Foram apreendidos papeis e carros de luxo, como uma Ferrari.
Quem
Entre os presos estão o doleiro Fayed Traboulsy e o ex-policial civil Marcelo Toledo, flagrado distribuindo dinheiro no mensalão do DEM.
Esquema
Segundo a PF, prefeitos eram aliciados para comprar papeis podres para fundos de previdência em troca de vantagens indevidas.