AURORA: Um dos filmes mais lindos do cinema disponível no YouTube - Por Marcos Souza

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AURORA: Um dos filmes mais lindos do cinema disponível no YouTube  - Por Marcos Souza

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O filme 'Aurora' (Sunrise – A Song of Two Humans), clássico do cinema mudo lançado em 1927, já caiu em domínio público há algum tempo e por isso já está disponível no YouTube gratuitamente, e é um daqueles filmes que se assiste com uma mão no queixo e outra no peito – no lado esquerdo,  onde fica o coração - de tão lindo que é.
 
Essa obra prima foi o primeiro filme dirigido pelo diretor alemão F. W. Murnau nos Estados Unidos, um cineasta marcado pela sua genialidade com o expressionismo – dirigiu o espetacular 'Nosferatu' (1922) -, estilo criado e consagrado no cinemas da Alemanha no período do cinema mudo, revelando gênios como Fritz Lang e Robert Wiene. Ou seja um cinema inovador e de grande referência estética no uso de luzes, sobreposição de imagens, sombras e cenários gigantescos contraponto com a ação do filme.
 
Em 'Aurora', com roteiro baseado no conto 'Viagem a Tilsit', de Herrman Suderman, foi até então o filme mais caro bancado pela Fox Film Corporation, pois o produtor Charlie Fox ficou impressionado com o estilo de Murnau e lhe deu carta branca para fazer o filme como quisesse.
 
O filme tem uma referência muito próxima da obra de Theodore Dreiser, no livro 'Uma história americana' - na intenção do crime conjugal -, ao mostrar um homem casado e infeliz, interpretado por George O'Brien, que vive um dilema moral ao ter um tórrido romance escondido com uma turista de passagem na vila que mora e ela vira sua amante, a ótima Margareth Livingston, enquanto ignora a jovem esposa, vivida pela linda atriz Janet Gaynor (que recebeu um Oscar por esse filme).
 
Eles tem um filho ainda bebê, mas o homem, como estivesse enfeitiçado vive uma vida paralela, destoando a sua realidade.
Quando a amante propõe ele matar a esposa, depois ele vender a fazenda e os dois irem embora do local, o homem desnuviado pela atração amoral daquela mulher sedutora concorda em realizar o feito. Para isso ele deve chamar a companheira para um passeio de barco no rio, depois simula um acidente  virando o barco e a afoga. Para ele escapar da voracidade da corrente do rio ele faz um salva vidas com feixes de junco, que ajudará a flutuar nas águas até chegar a margem.
 
Murnau é um mestre em construir narrativas visuais deslumbrantes, principalmente ao utilizar um drama inicialmente pesado com o uso de fotografia – luz e sombra  - tomadas de cena e plano sequência onde a câmera acompanha os atores como um elemento imerso a história que está contando. É um deleite!
Quando o homem convence a esposa a um passeio de barco romântico, ela fica muito feliz, pois vê nessa iniciativa dele a chance de restabelecer o amor do casal que parecia perdido.  Para nós espectadores é uma sequência de suspense e dor  - por causa da mulher,  linda, esperançosa, e vai muito da interpretação de Gaynor. O homem, com semblante frio, corpo pesado, barba por fazer, olhos fundos, uma caricatura vilanesca silenciosa.
 
É um clímax tenebroso para o plano que quer executar em vista da intenção inocente de uma mulher ainda apaixonada. O diretor mostra sinais para essa mulher quando ela entra no barco. Como o cachorro de estimação que pressente o perigo e tenta algo. Ou quando o casal no rio passa por alguns pássaros que estranhamente alçam voo como estivessem com medo. E o homem com o semblante frio.
 
A mulher percebe, ela sente que tem algo estranho com o marido, logo ele vai se afastando da margem e se dirige para um ponto distante do rio.
 
Mas acontece um despertar que o leva a perceber que aquela minúscula mulher, com cara de anjo e muito medo é a sua esposa e a mãe do seu filho. Então ele desiste, porém ao querer se mostrar arrependido a leva para a margem próxima a cidade e ela foge, temendo pela sua vida.
 
Ele a persegue e logo ele vai buscar provar que está arrependido e que o que iria fazer era uma grande besteira. Mas como convencer ela de que a ama?
 
E aí o filme tem início de fato após uma intensa introdução dramática. E vou evitar contar que nesse período na cidade o casal vai passar por uma série de situações inusitadas, onde – e aí vem a genialidade desse roteiro tão bem escrito e melhor dirigido  - se mistura humor nonsense, amor, música, dança e um final avassalador que envolve uma tempestade e a punição.
 
'Aurora' é um tratado poético cinematográfico  visual, com cenários luxuosos e tem sequências inesperadas como num parque temático de grandes proporções, cenário real construído em estúdio e que consumiu boa parte do orçamento do filme. Um trabalho incrível dos cinegrafistas – colaboradores de Murnau – Charles Rosher e Karl Struss.
 
Mas tem tantas cenas inesquecíveis e uma trama tão bem amarrada, única até em coincidências chaves que vão construindo a relação que precisa ser restabelecida pelo homem com a sua esposa. E isso é feito de forma emocionante.
O filme é todo construído como uma metáfora do bem contra o mal, ao se permitir construir devaneios dos pensamentos dos personagens numa mística quase sagrada e que envolve paralelo com o paraíso da Bíblia, e na semiótica simples de que a personalidade, por exemplo da amante – de preto, fumando e se esgueirando por entre sombras e paredes nos remete a uma bruxa (ou cobra). Um encanto corruptor que provoca a dissonância na vila onde vive o casal.
 
O filme é uma obra prima, o diretor francês  François Truffaut considerava 'Aurora' como o mais belo filme já feito pelo cinema. O filme recebeu três Oscars em 1929, está na lista dos melhores filmes da história do cinema pelo Instituto Britânico de Cinema, ao lado de filmes clássicos como 'O encouraçado Potemkin' (do diretor russo Serguei Eisenstein/1925) e 'Cidadão Kane' (de Orson Welles/1941).
 
Eu recomendo muito que futuros diretores de cinema ou quem faz cinema independente, de guerrilha, assista esse filme de 1928. Pois utilizando câmeras com poucos recursos, sem a parafernália de efeitos de CGI do cinema moderno,  Murnau subverte com engenharia de corte na edição do filme, sobreposição de imagens  - recurso muito usado aqui ao conectar a cidade com a visão dos personagens, uma das marcas do expressionismo alemão. É um filme sofisticado e simples, num feito que o eleva a status de arte.
 
Outro detalhe, o filme é mudo, mas tem uma trilha sonora espetacular  a cena da tempestade ganha muita força no seu poder dramático graças aos efeitos sonoros que são sugeridos pela imersão da potente música orquestrada. E tem ainda a notável visão do diretor em utilizar poucos diálogos,  com o uso mínimo de texto descritivo da cena ou dos que os personagens estão vivendo e querendo passar.
 
O trabalho de expressão corporal e facial, aliado a direção detalhada de Murnau transforma a experiência de assistir 'Aurora' um desbunde de prazer que poucos filmes proporcionam.
 
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