PECADORES: Blues, gangstêrs, racismo, sangue e o inferno num dos melhores filmes do ano - Por Marcos Souza

Filme usa o blues como base para contar uma história sobrenatural e violenta no anos 30

PECADORES: Blues, gangstêrs, racismo, sangue e o inferno num dos melhores filmes do ano - Por Marcos Souza

Foto: Divulgação

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O berço do Blues, um dos mais marcantes gêneros da história da música, foi no Sul dos  Estados Unidos no final do século XIX, e a sua influência foi marcante no contexto do período em que a segregação racial contra os negros era muito comum. Um dos fatores da importância do blues e a sua característica do canto de herança afro, com letras de contexto social ligados à escravidão, a vida dura e o racismo no Sul norte-americano estadunidense.
 
O novo filme do diretor Ryan Coogler (diretor de sucessos como “Creed” e os dois filmes do Pantera Negra, da Marvel), “Pecadores” (Sinners/2025), usa o blues como base para contar uma história sobrenatural e violenta no anos 30, período da Lei Seca, e cria um plot muito bem desenvolvido na figura de dois irmão gêmeos que retornam a sua cidade natal, Clarksville, no estado da Louisiana, em 1932.
 
 
Não por acaso a escolha por Louisiana pelo diretor é proposital, pois nesse período essa região sulista tinha o blues como uma arma de resistência entre os negros na questão racial, seja nas lavouras de algodão ou nos bares com cantores e músicos que escreviam a sua história no gênero musical, se tornando lendas. 
 
Os irmãos gêmeos Smoke e Stack (que na tradução e dublagem, viraram Fumaça e Fuligem), vivido pelo ator Michael B. Jordan (excelente no papel duplo e que pode valer até uma indicação ao Oscar em 2026), voltam para Clarksville com um propósito ambicioso e determinados, abrir um novo negócio com uma casa de blues. Eles compram um velho celeiro de um fazendeiro branco para transformar até a noite na melhor casa noturna daquele pedaço do Sul. 
 
Eles chegam envolto de mistérios sobre a fortuna que conseguiram obter, uma caminhonete carregada de bebidas - cerveja e uísque -, enquanto vão revendo antigos moradores, velhos amores e tentando convencer as pessoas da cidade de que eles vão trazer uma profunda mudança, principalmente com um espaço dedicado aos negros. 
 
 
Coogler consegue na primeira hora impor um ritmo de redescoberta dos irmãos com a cidade que viveram até a adolescência, porém demonstrando não só um restabelecimento de laços com a velha comunidade, mas também superar traumas - como ocorre com um dos irmãos ao rever um velho amor com quem teve uma perda sofrida e gerou sequelas emocionais profundas nos dois. 
 
Ao abraçar o drama e colher no mistério, o diretor envereda pelo suspense ao mostrar um fato inusitado com um viajante irlandês, Remmick (o ótimo Jack O'Connell), ao abordar um casal em sua casa, para depois revelar a sua intenção e demonstração de força com o sobrenatural. 
 
Ao colher o envolvimento de cada um dos irmãos, que se separam em determinando com suas missões particulares e de negócio, somos envolvidos pelas intenções e as expectativas em torno do que pode ser a abertura da casa de blues. O primo mais jovem dos irmãos, Sammie (Miles Caton, muito bem), filho de pastor e que ama o blues, se tornando um exímio tocador de violão, é o fator prepoderante de ligação do que decorre na trama central do filme.
 
 
Vou evitar contar spoiler para não estragar as diversas surpresas que “Pecadores” proporciona, mas é inevitável não citar que ao tocar em pontos recorrentes que envolvem racismo - como a relação íntima da personagem Mary, a linda atriz Hailee Steinfeld, com um dos irmão gêmeos, ela branca e ele negro, incomode alguns cidadãos - ou ainda as apresentações musicais quando o bar é finalmente aberto, sendo uma de Sammie espetacular com uma ousadia de cena do diretor Ryan Coogler ao permitir interações surrealistas e fantasiosas unindo a raiz do blues em seu passado com o futuro e o presente (o reggae, o jazz e o rap) - quando assistir vai prestar muito bem atenção nessa sequência, que é extremamente simbólica.  
 
E na segunda hora do filme, na virada do plot twist, vamos acompanhar uma transformação de temas da festa para o sombrio, do calor para a brutalidade, a sensualidade expandida em catarse com sequências de puro horror, virando uma sinfonia de sangue, muito sangue. 
 
O diretor tem a habilidade de fazer um musical em alguns momentos e depois de maneira orgânica transformar tudo no inferno na terra, muito além da escuridão. Até o final do filme outras situações vão ocorrer e que serão resolvidas com um achado narrativo impressioante, que condiz perfeitamente com o fechamento proposto pelo diretor.
 
“Pecadores” fez um sucesso incrível, arrecadou US$ 364,6 milhões (cerca de R$ 1,9 bilhão) nos cinemas e já está disponível no catálogo da Max, serviço de streaming da Warner Bros. Discovery.
 
 
Uma curiosidade para quem tem Spotify (aplicativo de música). Se você acessar a trilha sonora oficial do filme disponível, na parte de informações é possível ver um álbum de fotos, onde tem duas fotos em destaque com notícias - como um recorte de jornal, onde podemos descobrir a origem do vilão do filme que causa todo o furor sangrento; e também a origem da fortuna dos gêmeos Fumaça e Fuligem, assim como eles conseguiram obter um caminhão carregados de bebidas.
 
Outro detalhe, tem uma cena pós créditos e que é absurdamente sensacional, dando sequência ao que aconteceu na noite de estreia do bar do blues depois de 50 anos e a participação muito especial de uma das lendas do blues, Buddy Guy - vivo e monstruoso com a guitarra. 
 
“Pecadores” entra direto na lista, com certeza, dos melhores filmes de 2025. 
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