RONDONIAOVIVO 20 ANOS: Histórias, notas, fatos, heróis e um legado no jornalismo - Por Marcos Souza

RONDONIAOVIVO 20 ANOS: Histórias, notas, fatos, heróis e um legado no jornalismo - Por Marcos Souza

Foto: Divulgação

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A batida do coração começa leve, quase inaudível. Corta para cena de homem surtado com a sua caminhonete parada na ponte de concreto que cruza o rio em uma estrada de acesso para Alto Paraíso. A música sobe. Corta para o homem segurando uma pistola em uma das mãos, muito alterado, gritando palavras desconexas e impedindo os carros de cruzar a ponte estreita. Ele ameaça. É o brabo. Os motoristas dos carros parados devido a esse refluxo cerebral do sujeito tentam protestar, mas ele continua impávido com sua arma na mão.
 
A música é catarse pura. Outra pessoa puxa sua arma, escondida. Uma câmera Sony Cybershot de 04 megapixel, pequena, portátil. Escondida em uma das mãos, com a lente aberta e gravando. Colocada no modo vídeo. A pessoa disfarça, pede calma ao homem que o ignora e fica circulando o carro. Gritos de protestos e essa cena está sendo registrada. Logo depois chega a Polícia Rodoviária Federal. É feita uma breve negociação e o surtado se entrega, com gritos das pessoas que aguardavam a ponte ser desocupada. 
 
Tudo filmado.

 
Os documentos chegaram de forma anônima em uma pasta robusta. Relatório farto e CD-Roms com áudios. A música era de suspense, misteriosa, solene e impactante. Corta. O material chegou nas minhas mãos e ouvi todos áudios que estavam nos CDs – diálogos, ligações de celulares. Na pasta estava escrito, Operação Dominó. Deputados, juiz, promotor de justiça, assessores da Assembleia Legislativa envolvidos em um forte esquema de manipulação de poder, prevaricação e desvio de recursos públicos. Áudios de ligações por celular, tudo registrado com valores, alguns com xingamentos à polícia federal.  Ali. Eu, editando os vídeos para divulgar em primeira mão. Um vídeo, dois vídeos, três, quatro, cinco, seis, sete, oito e até nove vídeos com áudios de autoridades do legislativo e judiciário negociando, na íntegra disponíveis após a exibição da logo e um texto curto de contextualização de cada gravação. 
 
Sozinho, na redação, sala fechada, pequena. Na minha frente o programa de edição Sony Vegas, cola áudio, abre legenda, fecha logomarca digital. Um clipe com áudio de deputado falando de propina. Um assessor rindo e dizendo que está tudo certo, que o dinheiro vai cair na sua conta. Ao fim da edição que me levou oito horas, publiquei no Youtube e no outro dia os acessos a esses vídeos foram ótimos. A música progressiva é a trilha ideal.
 
Tudo editado.
 
Bloqueio em Extrema, na divisa entre Rondônia e Acre, 2009, os manifestantes, moradores da região de Vila Extrema, vem fazendo um rigoroso protesto na BR 364 impedindo veículos – principalmente de cargas, como caminhões -. Eles querem a emancipação do distrito de Porto Velho, e que Extrema vire um município. Para dramatizar, os manifestantes contam com apoio dos índios Kaxararis, que têm aldeias na região. O repórter chega com sua câmera, pois conhece alguns moradores e lideranças. A máquina fotográfica é uma extensão do seu corpo, a adrenalina a mil. É o final da tarde de uma quarta-feira quente de agosto. Dezenas de policiais federais tentam negociar com os moradores para desbloquear a estrada da divisa, com risco de usar a força para isso. Os manifestantes se recusam a recuar ou abrir a rodovia. Na pista fogueiras, barricadas feitas com sacos, toras de madeira. Ao longe era possível ver vários pontos de fumaça preta, com a queima de velhos pneus. O repórter tenso, via o clima ficar mais bruto, pois logo chegou uma patrulha de choque da PRF, com os agentes munidos de coletes, armas de grosso calibre, como uma 12, bombas de efeito moral penduradas no fardamento, capacetes, cassetetes. Dezenas deles. Do outro lado moradores, não uma turba, mas pessoas comuns, sitiantes, fazendeiros, se armando com pedaços de madeira, pedras, ferramentas como foices, enxadas, terçados, garrafas de coquetel Molotov. Tenso, quente, o suor descendo a sua testa e ele isento de lado, no faro da notícia, no calor da emoção entre a informação e as imagens necessárias para o registro. Na sua cabeça, a música que serve de abertura e fechamento de vídeos, seguido da logo em vermelho. 
 

 
Como uma sincronia de efeito na intransigência dos manifestantes e a pressão de ordens superiores para a abertura da BR, uma explosão de fumaça eclode próximo a um grupo de manifestantes, que se espalham. Alguns fogem e outros pegam o que tiver próximo e avançam para cima dos policiais. Enfim o conflito. Bombas, tiros com balas de borracha, pessoas correndo, sufocadas pela fumaça. Fogo queimando na pista, pneus sendo derretidos em brasa. Na cabeça do repórter só resta correr, ficar ao lado da força policial para fazer os melhores registros. Vídeos, fotos, gritos, correria, tiros, o arfar da adrenalina no pico e a confusão. 
 
Manifestantes recuam e policiais tentam desbloquear a pista, ao lado, no morro próximo a pista eles sobem tentando inibir os moradores que jogam pedras, pedaços de pau. De repente uma explosão de fogo e chamas se espalhando pelo mato. São os índios descendo o morro com tacapes, cocares, gritando e a pequena população fortalecida avança para cima de alguns agentes, que recuam. Tudo gravado, tudo registrado. A polícia rodoviária recua, corta o avanço e percebe que naquele momento era uma derrocada. 
Manchete no portal. Agências de fora pedindo imagens
 
Tudo filmado.
 
Na minha mente eram quatro recém formados da primeira turma de jornalismo do Estado de Rondônia, as turmas J1 e J2 juntos, criaram um site de notícias em janeiro de 2005, fizeram uma redação e buscavam notícias, ser parte da história ao registrar os seus momentos. 
 
Tudo surgia a nossa frente e virava notícia, referência. E entre eles havia um “louco”, um “xamã” da adrenalina, que buscava estar no cerne de um fato para fazer a notícia acontecer. 
 
Existe paixão pelo jornalismo. Existem caminhos a serem traçados. Dos criadores, então de quatro ficou três, de três ficou dois. E hoje é um. Daqueles quatro jornalistas, um recebeu o cetro para ter em suas mãos o portal de notícias com a melhor história de aventuras, passagens e momentos de pura emoção jornalística. O registro de momentos. 
 
Eu, Marcos, outro Adriel, ela Cristina e ele, o chefe, o cara que foi e é o grande reflexo do que se tornou o Rondoniaovivo nesses 20 anos, Paulo Andreoli. 
 
Orgulho de ter feito história com o Rondoniaovivo e eu digo que todos tiveram a sua essência e participação dividida no tempo certo em que permaneceu. Sem dolo, sem restrição, mas orgulhosos.
 
As pequenas histórias que contei acima, foram fatos e registros de notícias que marcaram o portal de notícias, em momentos importantes e representativos. 
 
O registro da ponte, Paulo Andreoli puxou nossa primeira máquina fotográfica e com ela escondida filmou o cidadão surtado com a arma em uma das mãos. Esse registro marcou nossa primeira cobertura da festa da Corrida do Jerico no município de Alto Paraíso, e o fato ocorreu na volta, quando havia acabado a festa. 
 
O segundo registro foi a cobertura da Operação Dominó, deflagrada pela PF em 2006 em Rondônia, e o que chamamos de ponto de virada o Rondoniaovivo, que saiu de um site de notícias iniciante, para se tornar um veículo relevante com notícias quentes e trouxe o início de uma era de acessos que passaram a crescer desde então. Eu, editei os vídeos dos áudios com os envolvidos na operação, gravados pela Polícia Federal. Terminei o serviço a noite, após postar todos os vídeos no canal do Youtube do Rondoniaovivo. 
 
O outro registro foi em 2009, onde o Paulo se tornou meu herói do jornalismo. Ele partiu para a divisa de Rondônia e Acre, onde disse que havia indícios de conflito entre PRF e moradores de Extrema por causa do bloqueio de protesto na BR 364. Ele tinha contatos no distrito que lhe falaram, a causa era importante e os manifestantes não arredariam o pé da rodovia enquanto não resolvessem a emancipação. Paulo chegou municiado de seu celular, máquina fotográfica e fez um registro histórico do conflito, com policiais e manifestantes numa lida de pancadaria e confronto. A imagem dos policiais descendo uma encosta acossados por um grupo de índios enfurecidos é algo fora do comum. 
 
Todos esses registros em vídeo eram editados com uma trilha de fundo que era só um trecho de uma música do Pink Floyd e a logo em vermelho do Rondoniaovivo. “Time”, do álbum “The Dark Side of The Moon”. Um trechinho apenas, e esse trecho de música tensa, catártica e pulsante, virou nossa marca por um tempo. 
 
Quem acessava sabia, vinha coisa boa quando ouvia essa música. 
 
Rondoniaovivo 20 anos, tem muitas outras histórias. Obrigado Paulo por continuar essa saga jornalística. Que venham mais 20 anos, 40, 60... 
 

 

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