O constrangimento sofrido pela professora e jornalista Iule Vargas continua a reverberar. Como contou o
Rondoniaovivo recentemente, Vargas foi discriminada por uma motorista do aplicativo Urbano Norte.
A professora, que usa muletas por conta de uma cirurgia no fêmur, pediu para que a motorista do aplicativo afastasse o banco, mas obteve uma resposta grosseira e apática. Após ouvir a explicação de Iule sobre a cirurgia e de sua enfermidade, a motorista (que deveria ser solidária) deu os ombros e disse: “Cada um com seus problemas”, e prosseguiu a cancelar a viagem.
Após tornar o ocorrido público, Iule foi duramente criticada e atacada por motoristas de aplicativo, representantes de sindicatos e parte da população.
“Sofri ataques, em comentários e nas mensagens privadas. Até tive que apagar alguns. Me chamaram de mentirosa e até fizeram ataques homofóbicos. Não queria ter que me expor assim”, disse a professora.
Mas a professora não ficou sozinha. Vargas e o Rondoniaovivo receberam dezenas de relatos similares e até piores de outros passageiros que foram destratados por motoristas de aplicativo, em especial da plataforma Urbano Norte.
FOTOS: Comentários com casos similares ao de Iule Vargas se multiplicaram no Instagram da jornalista e no Facebook do Rondoniaovivo
Iule expôs algumas das denúncias que recebeu em seu Instagram. Uma das denúncias incluía algo ainda mais grave — um suposto assédio sexual. Iule disse ao Rondoniaovivo que não vai desistir de buscar direitos, seus e de outras pessoas.
“Se isso aconteceu comigo, que tenho acesso à informação, imagina o que não fazem com outros passageiros. Recebi mensagens relatando casos muito parecidos com o meu. De mães com crianças e cadeirantes tendo a corrida cancelada, de idosos abandonados. Isso não pode se repetir nem comigo e nem com ninguém”, declarou.
Apesar de ter registros em vídeo e capturas de tela do ocorrido, os defensores da Urbano Norte foram impiedosos ao atacar Iule Vargas. O presidente do sindicato de motoristas de aplicativo, Rayate Gomes, ameaçou processar a jornalista por conta das denúncias expostas nas redes.
“As acusações [de assédio] são apenas para denegrir a imagem da categoria, a imagem do motorista de aplicativo. A acusação que aconteceu com ela foi um fato isolado e está sendo acompanhado de perto pelo sindicato e pela empresa. Se [o assédio] for mentira, também iremos entrar com um processo na Polícia Civil para esclarecer essa questão.", disse Gomes.
O presidente do sindicato, em contato com o Rondoniaovivo, esclareceu que a organização fortemente repudia assédio sexual e orienta que vítimas procurem a polícia. Ele afirma ainda que, se provado, os motoristas acusados serão expulsos da plataforma.
Sobre o caso de Vargas, a Urbano Norte confirmou o ocorrido. Iule não estava mentindo. A empresa disse à professora, por meio de um gerente e um representante jurídico, que a motorista foi afastada da plataforma e afirma que a mesma será punida.
“Exigi uma punição da Urbano Norte para a motorista que foi a seguinte: Suspenda a motorista o tempo necessário para ela realizar tratamento psicológico e cuidar da saúde mental. Nesse período deem todo o suporte financeiro e psicológico a ela e família: aluguel se necessário, água, luz, remédios, gás, mantimentos, etc. Estou na luta contra uma doença, mas essa pessoa está mais doente que eu... E quando ela receber alta da terapia, que retorne ao trabalho na Urbano Norte”, explicou ela.
A justificativa dada ao “caso isolado” de Iule é que a motorista estava tendo um péssimo dia. A Urbano Norte afirma que a condutora também tem uma “pessoa especial” em casa, mas condenou o ocorrido.
Sobre as acusações de assédio sexual, homofobia e embriaguez de motoristas, a Urbano Norte não se posicionou. A reportagem segue tentando contato com a empresa, que não publicou uma nota - que será veiculada ao site se assim desejarem. O espaço permanece aberto.
Atualização: Este conteúdo foi atualizado para corrigir um erro. Iule realizou uma cirurgia no fêmur, e não no quadril, como descrito anteriormente. Também adicionamos o outro lado, a pedido do presidente do sindicato de motoristas.