ESPÍRITOS: Governo radicaliza e assombrações terão que procurar nova moradia

Prédio é antigo, com aspecto mórbido e guarda histórias misteriosas

ESPÍRITOS: Governo radicaliza e assombrações terão que procurar nova moradia

Foto: Divulgação

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Raimundo estava sentado com o pai quando de repente uma Sucuri pequena, pouco mais de 2 metros,  apareceu e começou a comer restos de comida. Era fim de tarde e Sebastião, pai de Raimundo,  costumava  sentar no tronco de uma árvore transformado em banco.
 
Cobra Sucuri | Foto: Ilustrativa
 
Tião, como era chamado pelos amigos, chegava da roça, tomava um banho em um igarapé de água transparente localizado  poucos metros de casa e mantinha  um ritual de acender seu “paieiro” e apreciar o Sol indo embora. 
 
Raimundo era o companheiro do pai nessa “empreitada” e ouviu ele dizer: “deixa o bicho comer quieto, ela precisa se alimentar. Melhor comer isso do que bater no galinheiro ou no chiqueiro”, afirmava Sebastião.
 
O tempo foi passando e todos os dias a Sucuri voltava no mesmo horário para comer o que havia espalhado pelo terreiro. Tião criou o hábito de alimentá-la, pois sabia que após comer ela ia embora pra retornar só no dia seguinte. Não havia risco da cobra devorar suas criações.
 
Foi assim por muitos anos até Raimundo sair do interior do Amazonas e vir embora pra Rondônia. Ele dizia que a cobra já estava com uns dez  metros de comprimento quando ele saiu de casa. Raimundo nunca mais voltou para casa. Pouco se sabe sobre a vida dele aqui no estado.
 
Cobra Sucuri gigante | Foto: Ilustrativa
 
Logo após ter pego Lepra foi internado para tratamento e nunca mais teria saído do hospital. Um primo, que pediu para não ser identificado, conta que Raimundo chegou a construir uma família, mas após a confirmação da Hanseníase os familiares não quiseram saber dele.
 
“Meu pai, era a única pessoa que dava atenção para o tio Raimundo. Foi ele que contou essa história da Sucuri para meu pai. Quando papai morreu, o tio ficou largado lá no hospital. Eu comecei a visitá-lo até o dia que me disseram que ele tinha “sumido”, relata o primo.
 
Eu cheguei a ser hostilizado pelos familiares por ir visitá-lo. Uma vez me perguntaram se eu não tinha medo de ser contaminado pelo “pestiado”. Por isso, quando ele sumiu nem fui avisar à família pois sabia que não  ia fazer muita diferença pra eles”, conta.
 
Esquecidos
 
O  professor e historiador Alípio Pinheiro  diz que fez uma ampla pesquisa sobre o local, onde por muito tempo  funcionou o Abrigo Santa Clara. Era um leprosário destinado a abrigar pessoas que eram hostilizadas por familiares e não tinham pra onde ir.
 
 
Alípio enfatiza que no final da década de 70 chegou a ser encontrada uma ossada na floresta nos fundos do abrigo. Isso poderia ser a explicação dos sumiços que ocorreram por lá. 
 
Eu entrevistei muita gente para a pesquisa. Minha mãe chegou a trabalhar no Hospital São José e conviveu com funcionários do abrigo. Havia casos de maus tratos e espancamentos, mas como os pacientes eram “abandonados” pelos familiares ninguém reclamava”, esclarece o historiador.
 
Alípio explica que Necrotério era o que mais chamava a atenção no local, pelo ambiente sinistro que aparentava haver. Ele argumenta que nunca entrou no prédio todo, mas durante sua pesquisa procurou diversas pessoas e ouviu muitos causos sobre o lugar.
 
 
Importante destacar que Leprosário era o nome atribuído a estabelecimentos para os quais as pessoas contaminadas com hanseníase (lepra) eram enviadas, a fim de isolá-las do resto da população, com o intuito de conter a contaminação pela doença.
 
Farra
 
O teólogo Anibal Santos, que hoje mora em Belém do Pará, conta que passou a infância na região. Explica que o bairro Santa Bárbara, por exemplo, concentrava uma mistura de tudo.
 
Aníbal Santos, teólogo | Foto: Arquivo pessoal
 
Você via um público muito diversificado porque tinha boemia, prostíbulos, drogas. A bagunça virava à noite. Ia gente até da zona rural se divertir por lá”, explica o teólogo.
 
Ele diz também que a garotada da época se divertia observando “mulheres da noite” tomando banho sem roupas em um Igarapé de água cristalina que passava pelo bairro. “Ali era o lugar dos extremos e havia diversão para todos os gostos. Excelentes músicos se encarregavam de animar os casais enamorados, o hospital despertava curiosidade e até a igreja oferecia um atrativo a mais”, pontua Anibal.
 
Ele diz que na Comunidade Nossa Senhora das Graças, conheceu um padre holandês que escapou das garras de Hitler. O sacerdote contava ter presenciado inúmeras atrocidades e isso fascinava os fiéis da região e quem lhe procurava para ouvir suas histórias.
 
Os relatos do padre disputavam atenção com rituais organizados por um homem que era devoto de São Cipriano*. Toda sexta-feira de Lua Cheia era uma muvuca geral , e a comunidade curiosa sempre aguardava por algo sobrenatural que nunca teria ocorrido. 
 
Na verdade, os causos de pacientes do leprosário enterrados em covas fundas na floresta, e sem cerimônia fúnebre aguçavam o imaginário das pessoas. As feitiçarias promovidas pelo devoto de Cipriano acabavam de certa forma fazendo algum sentido, pois eram o combustível necessário para o sobrenatural que todo mundo alegava haver por ali. 
 
Anibal enfatiza que até hoje as pessoas mais antigas que ainda moram pela região acreditam em manifestações de espíritos no local. “Não tenho dúvidas de que se houver uma escavação naquela área, muitas ossadas vão ser encontradas. E não se trata de assassinatos, eram pacientes que fugiam mesmo e acabavam morrendo na mata. Como não havia familiar para reclamar o sumiço da pessoa, o corpo ficava por lá mesmo”, finaliza o teólogo. 
 
Cipriano
 
A lenda de Cipriano, citada por Anibal santos, costuma ser confundida. Existiram dois ciprianos, o de Antioquia e o de Cartago, que foi santificado pela igreja Católica. Apesar do abismo histórico que os afasta, as lendas combinam os Exorcistas de Cartago e os de Antioquia, o que acabaram tornando uma só na cultura popular.
 
São Cipriano | Foto: Ilustrativa
 
São comuns ser encontrados fatos e características pessoais atribuídas equivocadamente. Além dos mesmos nomes, eles realmente existiram, mas em regiões distintas. Cipriano, o feiticeiro, é celebrado no dia 02 de outubro. Foi um homem que dedicou boa parte de sua vida ao estudo das ciências ocultas. 
 
Já o Cipriano ibérico não é um texto único, mas sim vários textos em espanhol e português, principalmente do século XIX. Existe uma literatura cipriânica pré-moderna, sem conexão aparente com qualquer obra existente além de ser inspirada pela lenda cipriânica. 
 
A fantástica trajetória do Santo da Antioquia, representa o elo entre Deus e o Diabo, entre o puro e o pecaminoso, entre a soberba e a humildade. São Cipriano é mais que um personagem da Igreja Católica ou um livro de magia; seria um símbolo da dualidade da fé humana.
 
Foto: Ilustrativa
 
Obra
 
O médico, poeta e pesquisador Viriato Moura, um dos fundadores do Hospital de Base Ary Pinheiro, escreveu o livro “Cremero, 50 anos nos trilhos da ética”. Em uma pesquisa bastante ampla sobre a medicina no Estado de Rondônia, Viriato destaca o médico Rubens da Silveira Britto, que chegou em Porto Velho na década de 40.
 
Viriato Moura | Foto: Arquivo pessoal
 
Britto, que foi diretor clínico do Hospital São José, conseguiu liberação de verba do Serviço Nacional de Lepra, do Ministério da Saúde, para a construção da Colônia de Hansenianos Jaime Aben Athar, em Porto Velho. 
 
A Colônia serviu para abrigar dezenas de pacientes vítimas de Lepra e Tuberculose. Era a única referência que havia para tratar tais tipos de especialidades. Rubens Britto teria sido um incansável defensor de atenção e recursos para os pacientes que lá chegavam.
 
 
Em sua obra, Viriato destaca que Britto foi o primeiro médico no Brasil que aplicou penicilina, durante a Segunda Guerra Mundial, em um soldado da borracha que chegou a Porto Velho com grave infecção.
 
 
Uma reportagem do jornal Alto Madeira, datada de 1942, revelou que um chefe americano da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, conseguiu o medicamento nos Estados Unidos. Após Britto aplicar o remédio, o paciente consegui melhorar em poucos dias. 
 
Cinzas
 
Se as histórias forem verdadeiras, sobrenaturais ou imaginação a realidade é que o Governo de Rondônia se prepara para mandar os fantasmas que lá estão para outro local.
 
 
O prédio sujo, feio e malcuidado deverá dar lugar uma nova Central de Polícia. A Secretaria de Segurança informou que já foi firmado um contrato para repasse de recursos e que os projetos estão em análise pela Caixa Econômica Federal. Assim que forem aprovados, deverá ser realizada licitação para a obra.
 
 
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